M6GT: O carro do patrão Bruce

Os grandes nomes do automobilismo, em boa parte, têm vida curta. Afinal, alcançar a imortalidade curva após curva tem um índice de risco extremamente elevado. Mas é o triunfo diante do risco que os torna eternos. Bruce McLaren é um desses nomes, o neozelandês entrou para a história em 1966, ao vencer as 24 Horas de Le Mans, a bordo de um dos GT40 da Ford.

Porém, antes disso, Bruce já traçava sua carreira nas pistas. Fundou sua escuderia de Fórmula 1 em 1964, em Surrey (Inglaterra), onde era o chefe e piloto. Mas sabia que era um peixe pequeno na categoria em que Ferrari, Lotus e Brabham já tinham se consolidado como grandes equipes. Bruce então resolveu que também deveria desenvolver um carro para provas de endurance, terreno em que já tinha acumulado experiência.

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Em 1967 ele finalizou um protótipo M6, que teve êxito nas provas do circuito Can-Am, disputados nos Estados Unidos e Canadá. A combinação do chassi tubular, carenagem bem aerodinâmica e motor V8 5.9 da GM, caiu no gosto dos americanos, como Roger Penske que adquiriu várias unidades do M6.

Com o aval de Penske, muitos outros corredores e equipes passaram a querer o carro inglês. O bom desempenho mostrou que a equipe poderia fitar um esportivo de série para custear sua escuderia. Afinal, Colin Chapman e Enzo Ferrari já se valiam desse artifício. A equipe então resolveu aproveitar a base do M6 e desenhou uma carroceria fechada. Ele queria disputar as provas do Mundial de Endurance com o carro, mas sabia que para quebrar a hegemonia da Ford, que também venceu em 1967 (e venceria também em 1968 e 1969), ele precisaria de um motor mais potente que o V8 da Chevrolet. A solução seria usar o imenso bloco 7 litros do GT40, que tornaria o carro bastante parelho com o devorador da Ford. Daí, os engenheiros decidiram que o carro poderia ser equipado com o bloco Chevy ou com o Ford. A decisão ficaria a cargo do cliente.

O plano de Bruce era construir 250 unidades anuais do M6GT, mas no segundo semestre de 1968, a FIA mudou o regulamento para o ano seguinte, limitando o deslocamento dos motores para até 3 litros, o que frustrou os planos da empresa. Quatro carros chegaram a ser finalizados e receberam os blocos Chevrolet. Eles foram adaptados para uso urbano.

Extremamente leve, o V8 de 370 cv sobrava no M6GT, que McLaren utilizava como seu carro de uso particular. O desenho marcante e o escapamento aberto chamavam a atenção por onde o Macca passava. A McLaren ainda tentou ajustar o carro para o projeto M12, mas foi rejeitado pela FIA. Ainda sim, Bruce acreditava que poderia vendê-lo como carro de rua, mas o acidente fatal em 2 de junho de 1970, sepultou o carro junto com o piloto. Naquela data, o chefe da equipe testava com o M8D, modelo aberto para competições Can-Am, no circuito de Goodwood. Segundo os relatos, uma falha nos apêndices aerodinâmicos traseiros fez com que o piloto perdesse o controle e batesse em alta velocidade na proteção de uma das torres de bandeiras.

A McLaren só voltou a pensar num carro de rua, no início dos anos 1990, quando Ron Dennis chamou Gordon Murray para projetar o F1, contrariando o conselho de Ayrton Senna. Mas isso é história para outro dia.


Fotos: divulgação


Marcelo Jabulas é Jornalista e Designer Gráfico.
Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. https://www.youtube.com/garagemdojabulas

 

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