Top 6 vacilos da indústria automotiva em 2022
De marca famosa na mira do MPF a downgrade de equipamentos, 2022 também colecionou vacilos da indústria automotiva. Confira alguns casos
Thiago Ventura
No mundo ideal, a montadora lança um carro com gorda margem de lucro e o cliente fica satisfeito. Nesse hipotético mercado, toda a cadeia se beneficia: fabricantes de componentes, concessionários, corretores de seguros e vendedores de acessórios. Para muitos modelos e marcas o enredo é esse, mas no real world, as coisas às vezes não dão muito certo….
Elaboramos uma lista de vacilos envolvendo as montadoras de carros nesta temporada de 2022. Há desde erros de estratégia a problemas crônicos que acabam manchando carros de sucesso. Aliás, marcas famosas e bem consolidadas no público também pisam na bola.
A lista abaixo não está em ordem de gravidade de vacilos. Em geral é o consumidor que acaba pagando o pato por um problema crônico. E nesse caso, o dessabor pessoal sempre fica em primeiro lugar!
1. Caoa Chery fecha fábrica
Na lista de vacilos de 2022, a Caoa Chery aparece com uma estratégia Kamicaze, a despeito da origem chinesa da marca. A montadora decidiu fechar sua fábrica em Jacareí (SP), oriunda da primeira fase da marca no Brasil.
O objetivo era ganhar marketing ao se promover como “a primeira montadora no Brasil com 100% de sua gama eletrificada”. De fato, a premissa se cumpriu, mas para isso tirou de linha o Tiggo 3X, menos de um ano após o lançamento. Também faleceram o sedã Arrizo 6 e Arrizo 5.
Essa estratégia deixou muito cliente irritado e com razão, além de manchar a reputação da marca. O consumidor sempre ficará com a pulga atras da orelha, sem saber se o produto da Caoa Chery permanecerá ou não em vendas por um tempo razoável.
2. Downgrade do Polo
Com vários produtos concorrentes renovados no mercado, já estava na hora do Volkswagen Polo ganhar novidades para permanecer atrativo. O carro já havia se envolvido numa polêmica devido a uma propaganda, mas quem deu bola fora com o o modelo foi a própria montadora!
O Polo 2023 ganhou um facelift na dianteira, conhecido desde o ano passado na Europa. Contudo, ao chegar no Brasil, a marca optou por modificar apenas a dianteira e sem melhorar o criticado acabamento. Porém, não ficou apenas nisso. Com objetivo de reduzir o preço e aumentar a economia promoveu uma série de cortes no carro.
O motor 1.0 turbo perdeu potência e torque, deixando de ser 200 TSI para ser 170 TSI, para ser mais econômico, o que não se comprovou no teste com Emílio Camanzi. O hatch perdeu o freio a disco nas quatro rodas e teve a segurança estacionada em quatro airbags, enquanto Onix e HB20 contam com seis. Com isso, foi penalizado com redução de nota no Latin NCAP.
O Polo oferece farol de LED em todas as versões, mas não vem com luz de neblina nem na configuração mais cara, o que virou motivo de piadas na internet. Ou seja, o carro tinha tudo para melhorar, mas ficou no downgrade!
3. Marmita do Corolla Cross
Toyota, marca muito respeitada no Brasil, seja pelo guerreiro Bandeirante ou a best seller Hilux. O Corolla reina absoluto como sedã médio mais vendido do Brasil há vários anos. Porém, a marca escorregou no quiabo com o SUV derivado, o Corolla Cross.
Ainda na época do lançamento a imprensa especializada fez as devidas críticas ao SUV, que apesar de derivado do Corolla, era mais simplificado: porta-malas menor e suspensão de eixo de torção na traseira, além do antiquado freio de estacionamento de pé. O protuberante escapamento rendeu o inglório apelido de “Marmita”.
Na linha 2023, a Toyota resolveu maquiar o defeito: pintou a peça de preto. Porém, fez o famoso “serviço porco”: aplicou tinta apenas na parte posterior e usou material de má qualidade. Resultado: várias unidades apresentaram descascamento e mais um para a lista de vacilos…
O caso foi parar na Secretaria Nacional do Consumidor, órgão do Ministério da Justiça, que está investigando ação da Toyota. A marca japonesa poderá sofrer sanção devido desrespeito ao Direito do Consumidor.
4. Strada só com 1 estrela
A nova geração da Fiat Strada foi um dos maiores acertos da marca no Brasil. O modelo inovou ao oferecer cabine dupla com quatro portas, tornado-se um veiculo ainda mais versátil, seja para o trabalho ou lazer. Por fim, ganhou opção de câmbio automático do tipo CVT para agradar ainda mais clientes. E deu certo!
A Fiat Strada já deixava suas rivais diretas comendo poeira, mas eis que tornou-se o veículo mais vendido do Brasil em 2021, titulo que deve se repetir neste 2022. Mas como nem tudo são flores, a picape levou um revés vexatório no Latin NCAP.
A Strada recebeu apenas uma estrela de segurança e foi criticada por estrutura instável e airbags laterais de baixo desempenho. Os airbags laterais da versão de cabine dupla, mostraram acionamento incorreto e tamanho reduzido. Para a entidade, o equipamento oferece deficientes de proteção da cabeça e do tórax, o que implica em alta probabilidade de ferimentos com risco de vida.
5. Motor 1.3 turbo da Stellantis
A lista de vacilos não ficará completa sem uma das maiores queixas dos consumidores de 2022: modelos da Stellantis equipados com o bloco T270 têm apresentado queda no nível de óleo. O problema tem tirado o sono de proprietários, que comentam insistentemente em nossas redes sociais.
O problema acontece sobretudo com Jeep Compass, mas também há relatos com Jeep Renegade e Fiat Toro. A despeito das reclamações, a Stellantis não promoveu recall, mas sim uma orientação técnica para seus concessionários indicando falha na bomba de óleo. Assim, há relatos de cliente que tiveram a falha consertada sem custo, enquanto outros tiveram que arcar com custo na loja.
6. Compass na mira do MP
Se já não bastasse a queixa do óleo baixando do motor 1.3 turbo, o Jeep Compass acabou virando alvo de um processo do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Na ação civil pública, os MPs apontam mais de 20 vícios, entre elas aumento do curso de pedal de freio e gases no sistema de frenagem e o aumento da emissão de óxido de nitrogênio (Nox) acima do permitido pela legislação ambiental.
Caso a Stellantis seja derrotada, poderá pagar multa de R$ 50 milhões e ainda ser obrigada a fazer recall de todos os Compass diesel e flex, fabricados a partir de 2018. Os órgãos recolheram inúmeras reclamações de defeitos recorrentes.
No processo, o Jeep Compass é criticado por defeitos como barulhos frequentes na turbina do turbo, nos freios, no sistema ABS e no câmbio, que colocam em risco a segurança de motoristas. Além da multa, os órgãos querem que a Jeep seja obrigada a recomprar os carros com defeito.