Saudades do “plec plec plec”
Hoje vou relembrar aqui este “ser”, muito querido por mim, que acompanhou minha vida profissional durante, pelo menos, 30 anos, dos mais de 50 que tenho no jornalismo: a máquina de escrever e do seu “plec plec plec”. Ela me acompanhou em A Tribuna, na Ford, na GoodYear e em O Globo. Na General Motors ela foi eletrificada e depois deixada de lado, com o surgimento do computador, que está comigo e com todos nós desde então.
Com duas delas vivi episódios inesquecíveis. No primeiro, herdei a Olivetti do Sérgio Aparecido, jornalista que já nos deixou e quando saiu de A Tribuna para subir a serra e trabalhar na Ford, ao lado do Seccão (Luiz Carlos Secco) grande mestre do jornalismo no setor.
No segundo, o tempo colaborou. Ou melhor, obrigou-me a usar uma portátil. Precisava entregar um texto com urgência, o carro do jornal não chegava, e a solução foi pegar um táxi e escrevê-lo durante o trajeto já que naqueles tempos (começo dos anos 80), não dispúnhamos dos meios de comunicação de hoje. Vez por outra um buraco ou outro fazia o dedo errar a tecla, mas acabou dando tudo certo e ao chegar no jornal, a matéria estava pronta.
Então, em homenagem à esta querida companheira, a máquina escrever, transcrevo aqui um texto colhido na Internet.
“Ouve só.
A gente esvaziando a casa da tia neste carnaval. Móvel, roupa de cama, louça, quadro, livro. Aquela confusão, quando ouço dois dos meus filhos me chamarem.
– Mãe!
– Faaala!!!!!!
– A gente achou uma coisa incrível, mágica! Se ninguém quiser, pode ficar para a gente? Hein?
– Depende. O que é?
Os dois falavam juntos, animadíssimos.
– É é é… uma máquina, mãe.
– É só uma máquina meio velha.
– É, mas funciona, está ótima!
Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma explicação melhor.
– Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um… teclado de computador, sabe só o teclado? Só o lugar que se escreve, sabe?
– Sei.
– Então. Essa máquina tem assim, tipo… uma impressora, ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto. Sem fio. Bem, a gente vai, digita, digita…
Ela ia se animando, os olhos brilhando.
– … e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo! É muuuito legal! Direto, impresso na mesma hora, eu juro!
Eu não sabia o que falar. Eu também juro que não sabia o que falar diante de uma explicação dessas, de menina de 12 anos, sobre uma máquina de escrever.
Era isso mesmo?
– … entendeu mãe?… zupt, a gente escreve, muda de linha e a gente até vê a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chata de entrar no computador, ligar, tipo esperar hóóóras, entrar no word, de escrever olhando na tela, mandar para a impressora, esse monte de máquina, de ter que ter até estabilizador, comprar cartucho caro, de nada, mãe! É muuuito legal, e nem precisa de colocar na tomada! Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora!
– Nossa, filha…
– … só tem duas coisas: tipo não dá para trocar a fonte nem aumentar a letra, mas não tem problema. Vem, que a gente vai te mostrar. Vem…
Eu parei e olhei, pasma, aquela máquina, tipo velha. Eles davam pulinhos de alegria.
– Mãe. Será que alguém da família vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo muito para ninguém querer para a gente poder levar lá para casa, isso é o máximo! O máximo!
Bem, enquanto estou aqui, neste ‘teclado’, estou ouvindo o “plec plec plec” da admirada máquina, que, claro, ninguém da família quis mas que, aqui em casa, já deu até briga, de tanto que já foi usada. Está no meio da sala de estar, em lugar nobre, rodeada de folhas e folhas de textos “impressos na hora” por eles. Incrível, dizem, “plec plec plec”, muito legal!.
Eu e o Zé já estamos até pensando em comprar outra, ficando uma para cada filho.
Mas, pensa bem se não é incrível mesmo para os dias de hoje: sai direto do teclado para o papel e sem tomada!
Obs: este brilhante texto não é meu, pesquisei mas nunca descobri sua autoria. Mas seria muito egoísmo de minha parte não dividí-lo com quem não conhece.