RS 4: As peruas são eternas
Não é novidade para ninguém que o segmento de peruas anda à míngua no Brasil. Na semana passada, o Golf Variant subiu no telhado para dar espaço ao T-Cross. Outros modelos, como o Fiat Weekend, seguem rastejando sobre uma carcaça, literalmente, do milênio passado. Mas, a Audi não vê problemas em vender peruas por aqui. Tanto que a marca alemã acaba de lançar a nova geração da RS 4 Avant, a poderosa perua da linhagem da clássica RS 2, de 1994.
A perua esportiva estreia por aqui pouco depois de seu lançamento na Europa. Equipada com motor V6 biturbo 2.9, de 450 cv, 60 mkgf de torque e caixa de oito marchas Tiptronic. São números que se traduzem numa aceleração de 0 a 100 km/h em 4,1 segundos, o que coloca essa atlética senhora de 1.715 quilos no mesmo patamar de muitos cupês, bem mais leves.
Oferecida por R$ 546 mil, a RS 4 é um carro familiar travestido de bólido de corridas. E, como ela desempenha esses dois papéis, não poderia faltar equipamentos como quadro de instrumentos digital (Virtual Cockpit), que além de GPS, instrumentos de leitura e dados de desempenho, o módulo também exibe dados de performance, como gráficos de potência e torque, e até mesmo a força G aplicada. Ainda diante do volante, a RS 4 oferece projeção dos dados de viagem no para-brisas (Head-Up Display), que evita que o motorista tire os olhos da estrada.
O sistema multimídia MMI tem base sensível ao toque e é capaz de reconhecer gestos que tornam as buscas mais intuitivas. Ele ainda conta com unidade de armazenamento de 10 GB, conexões USB, SD e leitor de DVD. O sistema de áudio também faz jus ao preço exorbitante. A perua conta com um conjunto de 19 alto-falantes e dois subwoofers Bang & Olufsen de 755 watts.
A lista de assistentes, para quando o amigo não estiver desafiando o cronômetro, conta com auxílio de condução a até 65 km/h, monitor ativo de faixa de direção (que mantém o carro na trajetória), controle de cruzeiro adaptativo (ACC) e ajuste automático de facho alto dos faróis. Opcionalmente, ele oferece apenas discos em cerâmica.
A perua furiosa também promete não prejudicar o planeta. A Audi anuncia um consumo urbano na casa dos 7,1 km/l. Na estrada, a marca assegura 9,2 km/l. Mas, a gente sabe que ela tem aquele capetinha que sussurra no ombro o ronco do motor e nos faz esquecer de todas as prudências da vida.
Salvem as peruas!
Não se pode negar que a Audi teve uma sacada genial quando resolveu apostar no segmento de peruas esportivas para se destacar no mercado. Se voltarmos no tempo, o início dos anos 1990 era um período em que Mercedes-Benz e BMW surfavam na onda de seus esportivos derivados de sedãs e cupês.
M3, M5, M6, 190E Evolution, 500 SEC AMG, eram alguns dos carros mais cobiçados daquela época. E, nesse meio tempo, a Audi sabia que precisava de um sucessor para o Quattro, que ficou em linha de 1980 a 1991, e também para o Audi Coupé. No entanto, faltava uma carroceira mais arrojada. A Audi oferecia as linhas 80 e 100 no início dos anos 1990. E, como os cupês tinham sucumbido com a chegada da geração B4, a marca resolveu preparar uma perua de alto desempenho.
Para a empreitada, foi preciso bater na porta da Porsche. Os “primos” de Zuffenhausen contribuíram no desenvolvimento do carro, chegando a emprestar as rodas do 911 e até mesmo o estilo do para-choque dianteiro com luzes auxiliares que remetiam ao desenho do 993. Na verdade, o carro foi construído nas dependências da Porsche entre 1994 e 1995.
Assim nascia o RS 2 Avant, com seu motor 2.5 de 315 cv e caixa manual de seis marchas. Ele foi primeiro modelo a estampar a sigla RS. Daquele dia em diante, a Audi se especializou em peruas venenosas que se dividem entre os modelos RS 4 e RS 6. Depois das peruas, a sigla RS se espalhou para as demais carrocerias da gama, inclusive no pequeno A1.
E quem disse que as peruas morreram?
Marcelo Jabulas é Jornalista e Designer Gráfico.
Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).