O sorriso de Monalisa que só um Fusca tem

O sorriso de Monalisa que só um Fusca tem

Não existe automóvel mais simpático que o Fusca. Até mesmo hoje, em que o besouro já anda sumido da praça, o Fusca ainda é um carro que cativa. Não sei se Ferdnand Porsche pensou no rostinho alegre do Fusquinha propositalmente, mas o fato é que todo mundo sorri para o Fusca porque o Fusca sorri para todo mundo.

A motivação para falar sobre o natural carisma do Volkswagen Sedan, se deu por um episódio ocorrido outro dia. Ao chegar na casa de meus sogros para buscar meu filho Vinícius, de sete anos, ele me aparece todo eufórico para contar sobre o carro do Xigu (o Tio Gu). Era seu carrinho de brinquedo em tamanho real.

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O menino ficou louco dentro do Fusca, era como se fosse um parque de diversões, ou um adulto dentro de Porsche 911 (só para ficar tudo em família). E não era para menos, o Fusca tem uma estética fascinante, por dentro e por fora. Motor no lugar do bagageiro e estepe no lugar do motor. Tudo é diferente num Fusquinha. Ele tem (com o perdão do palavrão) um “puta-merda” no painel e um cheiro que só Fusca e Kombi têm.

Para encurtar a história, o pequeno não queria sair de dentro do Fusca do Xigu.

Voltamos para casa e ele só falava do carro e comecei a matutar sobre o fascínio que esse carro pensado por Adolf Hitler exerce até hoje. As pessoas não se mostram agressivas diante de um Fusca, como acontece com um automóvel de luxo.

Com a experiência de ter tido dois Fuscas: um 81 e outro 76, é verdade que na hora da disputa por posição no autorama do tráfego cotidiano, ninguém gosta de ceder lugar para o Fusquinha. Afinal, ele anda devagar e sempre há o risco de ele dar uma pifada na sua frente.

Mesmo assim, quando um Fusca quebra, seja por pane elétrica, combustível, platinado colado, fio podre, sujeira no carburador,  filtro sujo, sempre aparece alguém para dar uma força e com um arame na mão.

E quando acontece de uma pane seca (pode-se contar nos dedos os Fuscas em que o medidor de combustível funciona), não há problema. Basta erguer o capô e correr no posto mais próximo. Afinal, Fusca quebrado é um pecado absolvido sem prece. Dica de Fusqueiro: tenha sempre um PET de guaraná junto do estepe. Aprendi com um “bugueiro” em Fernando de Noronha, onde o único posto fechava às 19 horas.

Apesar de todo o romantismo, quem tem um Fusca sabe que ele não pode ser o único habitante da garagem. Pode até ser o macho alfa da frota, mas nunca será o cavalo de batalha. O Fusquinha está longe de ser um exemplo de conforto e conveniência. É saudosista, mas em dias de muito calor é quente como o inferno e no inverno é congelante.

Aço exposto e um monte de frestas que na alvorada fazem dele um freezer ambulante. Quantas vezes sai de casa ao amanhecer fazendo uma luva com manga da blusa pois nem o volante perdoava!

O barulho do motor é gostosinho num passeio maroto, mas de sol a sol é dureza, assim como o bafo de gasolina que invade a cabine. É um aroma agradável vez ou outra, não a semana inteira.

Mas o Fusca tem um lance magnético. Ainda lembro do meu pai que teve nada menos que 14 besouros. Ele vivia reclamando do Fusca (do momento). Dizia não prestava, que era barulhento, fedorento, que virava um chuveiro na chuva e etc. Passava um pouco, vendia o Fusca. Dias depois já estava ele namorando outro.

No Fusca, as trivialidades do cotidiano se tornam experiências únicas, é aquela fitinha K7 com Tim Maia de um lado e Jorge Ben do outro, aquele “amasso” nos bancos que não reclinavam, o rotor do distribuidor no bolso para dificultar a vida do amigo do alheio, a descida na banguela para atrasar o inevitável encontro com o frentista. Tudo é diferente no Fusquinha. Deve ser sido isso que o Vinícius percebeu no Fusca do Xigu.

A verdade é que todo Fusca tem um sorriso de Monalisa, que automóvel nenhum jamais terá!

 


 

Marcelo Iglesias Ramos é Jornalista e Designer Gráfico.

Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).

 

 


 

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Emilio Camanzi

Emilio Camanzi

Emilio Camanzi  é um jornalista experiente e formador de opinião, com mais de 56 anos de trabalho dedicados a área automobilística. Seu trabalho sempre foi norteado pela busca da seriedade e credibilidade da informação. Constrói suas matérias de forma técnica, imparcial e independente, com uma linguagem de fácil compreensão. https://www.instagram.com/emiliocamanzi/ 🙋 PARCERIAS: comercial@carroscomcamanzi.com.br