O Deux Chevaux e a quebra dos ovos

A quebra dos ovos e o Deux Chevaux. A Estória e a História

« Le cassage des oeufs et la 2CV. L’Histoire et L’Estoire »

 

Minha coluna é “Histórias & Estórias” por isso começo com um Estória, que conta como nasceu o Citroën 2CV (Deux Chevaux). Diz a lenda que foi alguém (por coincidência André Citroën), com uma casa de campo no interior da França, ficou  cansado de perder parte dos ovos  no transporte para sua casa cidade, por causa dos solavancos do veículo de transporte. Além disso, sua esposa não era uma boa motorista. Então, como era dono de uma fábrica de automóveis, pediu ao seu chefe de Engenharia um carro especial.

«Ma rubrique est “Histoires & Histoires” donc je vais commencer par une histoire, qui raconte comment est née la Citroën 2 Cavalos. La légende raconte qu’il était producteur d’œufs, fatigué de perdre une partie de sa charge sur le transporteur entre la ferme et la ville, à cause des à-coups du véhicule de transport. Il a donc inventé les Deux Chevaux (2 CV)».

A seguir, vem a História, que conta como o fundador da marca, André Citroën, pensando em aumentar a oferta de produtos para entrar em novos mercados, solicitou então ao responsável pela fábrica, Pierre Jules Boulanger e este idealizou uma pequena camioneta e um veículo pequeno – TPV (três petite voiture), o 2 CV, um modelo de classe muito inferior e, consequentemente muito mais barato, ao Traction Avant, que já usava carroceria do tipo monobloco. Na sua ideia, ele queria um veículo que transportasse 50 kg de batatas, ou um tonel de vinho de 50 litros, a 60 km/h e fazendo 3L/100 km (Como se mede até hoje o consumo na França). O carro também deveria leve o suficiente para ser conduzido até mesmo por uma jovem e recém-formada motorista.

E, aí vem a história do produtor de ovos. O “Caier de Charge” (caderno do projeto) pedia que ele fosse capaz de transportar, no banco traseiro, uma sexta de ovos, mesmo que trafegando por péssimos caminhos. Foi um chamado “ruído na comunicação”.

Escondendo o Deux Chevaux dos alemães

 

Foram produzidos, até 1939, 200 modelos que seriam expostos para atrair compradores, principalmente do meio, que ansiavam por um veículo barato e capaz de grandes proezas no transporte de 4 pessoas ou uma carga, com resistência e conforto. (Lembrem-se da história dos ovos).

Para atender a essas exigências do mercado, o 2CV foi projetado para ter, entre outras coisas, um chassi e plataforma em liga de alumínio; ter uma suspensão por oito barras de torção e um sistema hidráulico de anti-cambagem; os braços da suspensão, em magnésio. E, por fim, ter um motor com dois cilindros de 375 cm³ (8cv), refrigerado a água. Isso tudo, nos anos 30.

Mas, com a chegada da 2ª Guerra Mundial, havia um receio de que os alemães tomassem para si aquele projeto tão inovador. Então, 196 deles foram totalmente destruídos. Sobrando apenas 4, cuidadosamente escondidos.

Finda a guerra, em 1945, o 2CV surge no Salão de Paris, três anos depois. Graças às mãos de Flamínio Bertoni, o carro estava mais apresentável. Tanto que, como foi moda depois com o surgimento de Jean Paul Belmondo, ele ficou o “feio bonito”, como o ator francês, que contracenou com Brigitte e outras lindas estrelas da época, fazendo frente a Alain Delon, então considerado o mais lindo do cinema mundial.

Com a passagem pelo estúdio Bertoni, o carrinho, conhecido, em muitos lugares, também como Fusca Francês”, ganhou dois faróis (até então tinha só um) bem como limpador de para brisas que foi duplicado. Além disso, teve instaladas maçanetas externas nas portas. Isso sem contar com um novo painel de instrumentos.

Desde sua apresentação, em 1948, até 1990, quando foi produzido, em sua última “casa”, na cidade de Magualde, em Portugal, foram fabricadas 3.868.634 unidades do 2CV (Se acrescentarmos as versões berlinas e furgonetas, este número passa dos 5 milhões de unidades). Ele também foi produzido em Levallois e Ivri (França)  e Vigo (Espanha).

 

E aqui, na Argentina

 

Mas o 2CV não foi produzido apenas na Europa. Os argentinos, que trouxeram a Copa do Mundo recentemente para a AL, também trouxeram para a região, entre 1962 e 1980, a produção do modelo francês, com algumas mudanças na sua parte externa, como conta o colecionador e restaurador de carros antigos, Jonathas Russomano (Vintage Garage Service). É preciso registrar que ele foi montado também no Chile e Uruguai.

Antes ser produzido na AL, existiam no Brasil, um número tão pequeno 2CV – “que era capaz de serem contados nos dedos de uma só mão.” Depois, disso, ele conta fora muitos os modelos que vieram para cá, e hoje creio existirem pelo menos 50 unidades por aqui.

Jonathas conta que existem muitas diferenças entre os modelos europeus e os fabricados na nossa região, especialmente no quesito para-choques. Enquanto que os “estrangeiros” tinham o componente bem fino, por aqui eles ganharam um bem maior e largo, com uma espécie de quebra mato.

O restaurador diz que é impossível encontrar peças dos modelos franceses clássicos, como o 2CV, aqui no Brasil, como acontece com os modelos norte- americanos.

Ele gosta de lembrar o evento promovido para comemorar os 100 anos da Citroën, quando organizou um concurso para demonstrar a facilidade de se desmontar um 2CV. Eram equipe mistas, com dois homens e duas mulheres. Os vencedores o desmontaram em pouco mais de 3 minutos, não chegando a 4.

 

Gurgel Deux Chevaux?

 

Outro fato ligado à história do carro no Brasil foi o interesse demonstrado pelo “gênio que calculava dormindo” (lembram?), João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, que conseguira a autorização para produzir o modelo francês no Brasil. Ele adquiriu dois modelos, desmontou um – conta Jonathas – tinha o segundo guardado em sua fábrica. Quando foi decretada a falência da Gurgel Veículos, o carro foi arrematado em um leilão, por um cliente da oficina do empresário, que cuida dele até hoje e que tem as placas DCV (Deus Chevaux).

Gurgel tinha uma chácara em Rio Claro (SP), ao lado da fábrica. Mas nunca se soube que ele estaria produzindo um carro capaz de transportar uma cesta de ovos, sem perder nenhum deles.

« Gurgel avait une ferme à Rio Claro (SP), à côté de l’usine. Mais on n’a jamais su qu’il »

 

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