Moto na chuva
Uma das grandes preocupações dos motociclistas é pilotar no molhado. Preocupação válida, claro, uma vez que o atrito é menor e todo movimento deve ser bem delicado. Mas vivemos em um país tropical, com alto índice pluviométrico e é bom se acostumar com isso. Segundo um grande amigo, a melhor forma de um motociclista enfrentar a chuva é saindo de carro! Mas confesso que, morando em São Paulo, prefiro a chuva ao trânsito infernal e existe um dado que pouca gente sabe e se assusta ao descobrir: quando chove, o índice de acidentes com motos nas cidades cai mais de 50%, porque todo mundo reduz a velocidade, inclusive os carros e a velocidade média do trânsito diminui naturalmente. Sem falar no medo, claro!
Pilotagem delicada
A água não é o maior redutor de atrito que existe, na verde ela só reduz 30% do atrito em uma superfície limpa. A areia é um redutor de atrito muito mais poderoso, mas pouca gente sabe disse. O problema está justamente aí, o asfalto nunca está limpo, também tem areia! Por isso, os primeiros 15 minutos de chuva são os mais críticos, quando a sujeira (principalmente óleo+areia) é misturada com a água forma uma pasta escorregadia e fica na superfície. No começo da chuva o atrito chega a reduzir 70% e vai melhorando à medida que a chuva lava o asfalto e os carros circulam limpando essa sujeira. Depois de uma boa tempestade, o asfalto fica lavado e a aderência aumenta. Portanto duas dicas importantes:
1) Quando começar a chover, espere pelo menos 15 minutos antes de sair com a moto.
2) Depois desse período o asfalto está mais limpo, mas, mesmo assim, rode sempre por onde passam os pneus dos carros, porque eles são largos e funcionam como “rodos”. Nunca no meio da via, porque é onde o óleo fica acumulado.
Andando no trânsito, o motociclista precisa ficar duplamente atento aos carros que vão à frente e os que vêm de trás. Lembre-se que os espaços de frenagem aumentam no piso está molhado. Além disso, na chuva a visibilidade diminui não apenas para os motociclistas, mas, principalmente, para os motoristas, por causa da condensação nos vidros (o famoso embaçado). Sempre sinalize suas mudanças de direção e fique atento se os motoristas já te viram.
Agora, se a chuva e a escuridão estiverem aborrecendo demais, pode ser que o motociclista passe por uma região serrana e encontre neblina, para trazer um pouco mais de aborrecimento (nada é tão ruim que não possa piorar). Neste caso, o motociclista deve resistir à tentação e JAMAIS ligar o pisca-alerta, porque isso confunde os outros veículos, já que essa sinalização é exclusiva para veículos que estão parados e não em movimento. E, além de ser perigoso, é ilegal. O melhor caminho a seguir é reduzir ainda mais a velocidade e procurar seguir as faixas limitadoras da estrada, se houver, sempre pelo lado direito da pista.
Uma das vantagens da moto como veículo sobre os automóveis, são os pneus. Apesar de termos apenas dois pontos de contato, o formato do pneu é convexo, semelhante à uma lâmina, que corta a fina camada de água, dificultando muito a ocorrência de aquaplanagem. Quem se lembra das aulas de Física? Quanto menor a área, maior a pressão sobre a superfície. Como a área de contato dos pneus com o solo é muito pequena, a pressão sobre o piso é maior, cortando a camada de água. Mas isso depende basicamente do nível de desgaste dos pneus! Pneus carecas não drenam mais nada.
IMPORTANTE: existe um preconceito muito difundido sobre pneus na chuva. Muita gente esvazia um pouco os pneus para “melhorar a aderência”. Isso é uma tremenda BOBAGEM, porque se os pneus estiverem murchos, os sulcos se fecham e a drenagem de água é menor! Também não vá encher os pneus mais que o necessário. A calibragem original já prevê o uso no seco o no molhado. Outro erro é montar o pneu ao contrário do sentido de rotação, porque os sulcos são feitos para drenar a água no sentido correto de rotação, por isso tem uma seta na lateral dos pneus.
A pilotagem na chuva é muito mais delicada. Costumo dizer aos meus alunos do curso ABTRANS de pilotagem, que pilotar moto na chuva é tão delicado quanto um casal de porcos espinhos fazendo amor. As frenagens precisam ser suaves e antecipadas, imaginando que a manete do freio dianteiro tem 100ºC e não pode queimar os dedos. Na hora de voltar a acelerar, do meio da curva em diante, o piloto deve fazer de forma mais gradual para a roda traseira não derrapar. Resumindo: na chuva, a frenagem é antecipada e a aceleração é atrasada em relação ao piso seco. O ideal é usar uma marcha acima do que usaria no seco. Se fosse fazer a curva em segunda, no piso molhado faça em terceira e assim por diante.
Armadilhas urbanas
Uma coisa que diminui o coeficiente de atrito drasticamente são as faixas pintadas no asfalto, que são muito lisas. Quando o motociclista trafega no trânsito, num corredor de automóveis, está correndo um sério risco, porque na hora de frear pode fazê-lo justamente quando o pneu estiver em cima da faixa branca e pode derrapar. As faixas de pedestres são as piores, porque além de largas, elas ficam justamente nas esquinas, onde a necessidade de frenagem é maior.
Também dever ser evitado o trecho do asfalto muito perto das sarjetas. Quando chove, a água levanta o óleo da pista e, como não se misturam, a água carrega o óleo para a sarjeta, porque as ruas são levemente inclinadas justamente para a água escorrer pelos cantos.
Nas cidades existem algumas armadilhas escondidas sob a água. Por exemplo, os córregos que foram canalizados podem transbordar, arrancando as tampas de bueiros e “bocas de lobo”. Sempre que o motociclista encontrar uma via coberta de água, mesmo que em baixa profundidade, convém mudar de caminho, ou esperar a água escoar um pouco, para evitar uma surpresa desagradável de sentir o chão sumir sob a roda dianteira.
Acredite, tem uma coisa pior que asfalto molhado e sujo: calçamento de pedra, o temido paralelepípedo. Ele acumula muita terra entre as pedras, que já são naturalmente escorregadias. Neste piso é preciso reduzir bem a velocidade e fazer manobras bem suavemente.
Aliás, a conduta do motociclista na chuva deve ser a mais suave possível. Quando o motociclista é pego pela chuva, geralmente fica tenso, nervoso e é justamente nestas condições que se assusta mais facilmente, tendo reações bruscas, rápidas. Aí é que acontecem os erros. Para evitar esta tensão, o motociclista deve se conformar que vai chegar ao seu destino atrasado e pilotar com mais calma, mesmo porque não faz a menor diferença tomar cinco minutos de chuva a 80 km/h ou 10 minutos a 40 km/h
Equipamentos
Motociclista prevenido sempre anda com um abrigo de chuva por perto, principalmente durante os períodos das estações chuvosas, que variam de acordo com cada região. A capa de chuva pode ficar sempre na mochila ou no bauleto, porque, além de proteger a roupa, a capa também mantém o corpo aquecido, porque nada é tão ruim que não possa piorar: pode chover na noite mais fria do ano e você está voltando pra casa!
Além da capa, hoje existem polainas que são colocadas sobre os calçados, mantendo os pés secos e quentes. Em uma emergência, muitos motociclistas usam sacos plásticos, mas não faça isso. Além de poder enroscar em várias partes da moto, ele é liso e o motociclista pode escorregar na hora de colocar o pé no chão. No meu tempo usávamos até jornal dentro dos sapatos e botas. Viu como a mídia impressa é importante?
Outro macete é adotar as luvas de borracha, dessas de lavar louças, por cima das luvas de couro. As de borracha têm o punho mais longo e podem ser colocadas por cima do casaco para evitar a infiltração por dentro da manga. Tem gente que prefere usar luvas cirúrgicas por baixo da luvas de couro. Isso impede de molhar as mãos, mas não isolam do frio.
Uma das perguntas mais comuns é sobre as roupas impermeáveis de tecido sintético. Saiba que não existe roupa impermeável, porque se o tecido for costurado a água passará pelos furinhos da costura. O que pode variar é o tempo que vai demorar entre o começo da chuva e o seu corpo ficar encharcado. Só capa de chuva é impermeável e saiba que elas tem prazo de validade! O segredo para aumentar a durabilidade de uma capa é saber dobrá-la e guardá-la sempre seca.
Em qualquer tempo, o capacete integral (fechado) é sempre mais aconselhável, mas, quando há chuva, a viseira costuma embaçar por dentro e a névoa de água espirrada dos outros veículos suja por fora. Já existem produtos anti-embaçantes para passar por dentro da viseira (usados em máscaras de mergulho), enquanto na parte de fora pode-se passar cera polidora. Esta cera deve ser aplicada e retirada com algodão sobre a viseira totalmente limpa. A viseira ficará tão polida que a água não irá acumular.
Existem motociclistas que, depois de passarem por estas situações, não podem nem ouvir falar em viajar com chuva, mas a cada nova experiência, que nem sempre é tão agradável, o motociclista passa a conhecer cada vez mais as suas possibilidades e limitações como piloto, além de aprender ainda mais sobre o seu veículo de duas rodas. São estas experiências que levam o motociclista a encarar uma viagem ou passeio de moto com mais segurança. A segurança de quem dificilmente será pego de surpresa por uma situação desconhecida.
Por Tite Simões
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