Latin NCAP: se não for por amor, vai por terror!
No futebol a expressão “ou joga por amor, ou por terror” é quase que instrumento oficial das torcidas para botar o time para dar raça em campo. Na indústria, não dá para invadir o pátio da montadora e exigir melhorias. Mas há outras maneiras de forçar pequenas melhoras nos automóveis que são ofertados no varejo. Nesse quesito, o Latin NCAP se tornou um bom aliado do consumidor. É o chefe da organizada!
A entidade independente, com sede no Uruguai, afere a segurança dos automóveis comercializados na América Latina. E, a cada ano, o Latin NCAP, que utiliza metodologias de ensaios semelhantes ao Euro NCAP e dos órgãos norte-americanos, vem elevando os critérios de avaliação. Daí, o carro que tinha nota boa ou regular pode ser surpreendido com uma nota baixa.
Foi o que aconteceu no ano passado com o Chevrolet Onix. O líder de vendas levou nota zero nos testes de colisões por não oferecer proteção aceitável nos ensaios de choque lateral. Na época, a General Motors se defendeu afirmando que cumpria com todas as exigências da legislação.
No entanto, a porrada na porta do compacto doeu no fígado da GM, que, meses depois, anunciou reforços estruturais para o modelo. Em janeiro, o hatch e o sedã Prisma voltaram para os laboratórios do órgão, sediados no Uruguai, foram novamente aferidos e receberam três estrelas, num quadro que vai de zero a cinco.
Pancada forte
O teste de impacto lateral simula uma colisão em cruzamento e tem sido implacável com muitos modelos vendidos na América Latina. No ano passado, Fiat Mobi também foi duramente avaliado, com uma estrela, pelo fato de a proteção para o tórax ser fraca na colisão lateral.
O mesmo foi registrado com o Ka e, em junho, a dupla Sandero e Logan também recebeu uma estrela pelo baixo nível de proteção de adultos, tanto no choque lateral como no frontal (pessoalmente isso me deixa muito preocupado).
E como em terra de cego quem tem um olho é rei, a Volkswagen fez um grande alvoroço no lançamento do Polo, utilizando a nota máxima do teste, tanto na proteção de adultos, como na de crianças, inclusive com o choque lateral.
Mas, o órgão tem endurecido as regras. Na semana passada, a Nissan foi surpreendida com um rebaixamento da nota do March. O compacto passou por sua terceira avaliação no Latin NCAP e viu sua nota despencar de três estrelas para uma estrela na proteção de adultos.
E o vilão não foi a colisão lateral, mas um conjunto de pequenos fatores, como falta de chave para desligamento do airbag do passageiro, para quando for necessário transportar criança no banco da frente, falta de Isofix, ausência de instruções para fixação dos bancos infantis e até mesmo a falta daquele sinal de alerta para os ocupantes afivelarem o cinto de segurança.
Na colisão lateral, o March teve avaliação regular e as barras laterais, que já eram oferecidas no japonês, ajudaram a absorver o choque e atenuar os danos sofridos pelo dummy (aquele boneco que simula o corpo humano). Por outro lado, na colisão frontal, o Latin NCAP apontou insuficiência estrutural e danos graves ao motorista.
Problema antigo
Certa vez, um alto executivo de uma montadora francesa confidenciou, numa conversa de pé de ouvido, que o encerramento da produção de alguns populares de longa data ocorreu na virada de 2013 para 2014, quando passou a vigorar a obrigatoriedade do ABS e do airbag duplo nos carros vendidos no Brasil, não somente pelo custo da inclusão do equipamento.
O executivo disse que tais veteranos foram aposentados pelo fato de que suas carrocerias não atendiam às exigências da nova norma, mas quem pagou o pato pelo “falecimento” foi o airbag e o ABS. “Foi melhor dizer que ficaria caro, do que assumir que a estrutura era ineficaz”, afirmou o cartola. De fato, instalar um módulo não é tão problemático do que ter que refazer toda a estrutura. Ainda mais no Brasil onde as atualizações sempre são cosméticas e onde não é preciso mexer com aço.
Esses exemplos mostram que no Brasil é mais fácil remediar do que prevenir. É preciso um órgão internacional atestar que um produto apresenta deficiências de segurança ou ausência de equipamentos que podem significar a diferença entre o susto e o caixão.
Mas, o que importa é que a Nissan, em nota, se comprometeu a buscar soluções para melhorar a segurança de seu automóvel. No caso do March, o problema é aparentemente simples e, basicamente, consiste em salpicar alguns itens que podem contribuir e muito para a segurança do modelo.
É o que esperamos que seja feito!
[su_divider]
Marcelo Iglesias Ramos é Jornalista e Designer Gráfico.
Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).
[su_divider]