Estratégia da BYD Pode Sair pela Culatra

Estratégia da BYD Pode Sair pela Culatra

A BYD, gigante chinesa do setor automotivo, tem desafiado as montadoras instaladas no Brasil com uma estratégia agressiva para dominar o mercado de veículos elétricos e híbridos. Essa investida, embora prometa preços competitivos para o consumidor, também levanta questionamentos sobre sua sustentabilidade a longo prazo e seus potenciais efeitos colaterais.

Navio Gigante e Estoque Estratégico para Evitar Aumento de Impostos

A “carta na manga” da BYD é a utilização do BYD Explorer 01, um navio gigante com capacidade para transportar 7.117 carros, para trazer grandes lotes de veículos elétricos ao Brasil. Em fevereiro, a embarcação trouxe 5,5 mil veículos, e em abril realizou um novo desembarque com mais 5,5 mil carros.

Com essa estratégia, a BYD conseguiu montar um estoque considerável de veículos no Brasil, evitando o impacto do aumento das alíquotas de importação, que entram em vigor em julho de 2024 e julho de 2026. O estoque permite que a montadora comercialize seus veículos com preços mais competitivos, já que não precisa repassar o aumento dos impostos aos consumidores.

O imposto de importação de carros elétricos e híbridos está aumentando gradualmente desde janeiro de 2024. Em julho de 2025, a alíquota de veículos elétricos subirá de 18% para 25%, a de híbridos plenos aumentará de 25% para 30%, e a de híbridos plug-in passará de 20% para 28%. Em julho de 2026, a alíquota para todas as categorias atingirá 35%.

Anfavea Solicita Antecipação da Alíquota Máxima Enquanto Receita Federal Defende a Legalidade da Estratégia da BYD

A Anfavea entende que a BYD possui uma vantagem desleal ao montar um grande estoque de veículos antes do aumento dos impostos, o que pode prejudicar a produção, os investimentos e os empregos na cadeia automotiva brasileira.

Diante desse cenário, a Anfavea solicitou ao governo Lula a antecipação da alíquota de 35% para todos os veículos elétricos e híbridos importados, alegando que a BYD mantém um estoque de 40 mil veículos no país.

A Receita Federal, por sua vez, esclarece que a cobrança do imposto sobre importação ocorre no momento da entrada dos produtos no território nacional, conforme previsto no Código Tributário Nacional, o que legitima a estratégia da BYD.

A Anfavea argumenta que o Brasil possui uma das menores barreiras tarifárias para importação de veículos entre os países com indústria automotiva instalada, o que torna o mercado brasileiro um alvo fácil para modelos que enfrentam altas alíquotas na América do Norte e na Europa, onde as tarifas podem chegar a 100% nos EUA e Canadá, e 48% na Europa.

O impasse parece estar distante de uma solução. 

Estratégia de Estoque Pode Virar Faca de Dois Gumes

Porém a ambiciosa estratégia da BYD de inundar o mercado brasileiro com veículos elétricos e híbridos, aproveitando brechas tarifárias por meio de importações em massa, pode trazer resultados inesperados para a própria montadora. Embora a empresa se beneficie inicialmente ao oferecer preços competitivos e evitar o aumento de impostos, a necessidade urgente de escoar o grande volume de veículos estocados pode gerar desafios e riscos a médio e longo prazo.

Para dar vazão ao elevado estoque, a BYD pode se ver forçada a promover descontos agressivos e promoções constantes, o que pode levar à desvalorização acelerada de seus veículos no mercado de usados. Essa percepção de desvalorização pode impactar negativamente a imagem da marca e a confiança dos consumidores, especialmente aqueles que consideram a compra de um BYD como um investimento a longo prazo.

Além disso, o mercado de veículos elétricos é caracterizado por rápidas inovações tecnológicas, com lançamentos frequentes de novos modelos com maior autonomia, melhor desempenho e recursos mais avançados. Ao montar um estoque tão grande, a BYD corre o risco de que seus veículos se tornem obsoletos em um período relativamente curto, perdendo atratividade em relação aos modelos mais recentes da concorrência.

Por fim, a estratégia de importação em massa pode gerar um descompasso com o futuro início da produção local da BYD em Camaçari (BA). Se a demanda pelos modelos importados diminuir drasticamente, a montadora pode enfrentar dificuldades em adaptar a produção local para atender às novas preferências dos consumidores, resultando em capacidade ociosa e custos adicionais.

Em suma, a estratégia da BYD de inundar o mercado brasileiro com veículos elétricos e híbridos pode trazer benefícios de curto prazo, mas também apresenta riscos significativos a médio e longo prazo.

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Paula Jabour

Paula Jabour

Paula Jabour é criadora de conteúdo e copywriter. Ela atende clientes de diversos setores, incluindo automotivo, restaurantes, artistas e profissionais liberais.