É uma BMW!

Depois de muita ansiedade, finalmente a BMW convidou a imprensa para o teste com o modelo G 310R, apresentado pela primeira vez no Salão Duas Rodas de 2015. O teste foi realizado na pista do Haras Tuiuti, interior de São Paulo e marcou a volta da BMW às motos de pequena cilindrada, depois de 51 anos. Esta pequena naked já está nas concessionárias e foi tabelada em R$ 21.900.

Para desvendar a “BMWzinha” vou começar pelo motor, que é inédito no Brasil em motos de rua. Trata-se de um monocilindro de exatos 313 cm3, com duplo comando no cabeçote e quatro válvulas. Segue o cardápio dos modelos desta categoria: arrefecimento líquido, injeção eletrônica e potência de 34 CV a 9.500 RPM. Destaque para a potência específica de mais de 100 CV/litro para uma moto de apenas 158 kg (seco com 90% de gasolina).

300x250

Ué, mas onde está o ineditismo? Na posição em relação ao quadro! Pena que o (fraco) material de divulgação da BMW Brasil não traz nenhuma imagem da moto desmontada, nem do raio-x do motor, que é invertido, ou seja, o cilindro é inclinado para trás, com a admissão colocada na frente e o escapamento atrás do cilindro, onde, nas outras motos, seria a injeção.

Os benefícios desta configuração são:

– O sistema de alimentação fica mais linear, sem ângulos, nem curvas, o que acelera o fluxo de admissão.

– Com o escapamento saindo direto para trás, reduz o peso e o tamanho do tubo, além de tirar de perto do radiador. A curva do escapamento (ponto mais quente) não transfere calor para o radiador.

– Menor distância entre eixos. Com o cilindro inclinado para trás, pode-se trabalhar com ângulo de esterço mais fechado (64,9º) e menor entre eixos (1.374mm) para a moto ficar mais maneável.

– Por outro lado, ela poderia perder estabilidade em reta, mas isso foi compensado com uma balança traseira mais longa, só possível graças ao motor invertido. Ah, a engenharia…

Essa configuração não é novidade, já existe no motocross desde o final dos anos 90, mas é a primeira vez que aparece em uma moto de série aqui no Brasil e pode ser uma nova tendência por todas as vantagens apresentadas acima.

Como é?

Outra boa notícia, é que os alemães não são bestas. Eles sabem que este será um produto destinado a um público jovem, incluindo as mulheres, com todo tipo de biotipo. Por isso, já oferecem três opções de banco, com alturas diferentes (760mm, 785mm e 815mm). Para esta avaliação, as motos estavam com a opção intermediária, onde me encaixei perfeitamente com meus 1,70m. Este banco é uma peça única e a posição do garupa é um pouco mais alta.

As pedaleiras são bem recuadas e, assim que segurei as manoplas, tive a certeza de estar em uma BMW: guidão largo, mas esterça pouco (como toda moto com radiador). Típica posição de guidão das motos BMW, que lembra até a S 1000RR, modelo que serviu de base para o estilo dessa 310.

Destaque para o painel digital de cristal líquido completo, com indicador de marchas (muito útil), luzes de advertência, conta-giros por barra, dois trips, luz de rotação máxima, nível de gasolina, média horária, autonomia, etc. Os comandos seguem o padrão tradicional com um curioso botão da buzina.

Ainda observando a posição de pilotagem, como toda roadster, não tem proteção aerodinâmica e apenas uma pequena carenagem acima do farol, só pra fazer graça mesmo.

Motor acionado e, de cara, percebe-se que é nervoso. A rotação de potência máxima está em 9.500 RPM e o motor cresce (e desce) rápido de giro, semelhante às motos de cross quatro tempos. Com a G 310R parada, pode-se sentir a vibração encostando no tanque, nas alças do garupa ou mesmo nas pedaleiras, mas muito pouca vibração no guidão. E a explicação está nos coxins colocados nas castanhas de sustentação do guidão, que realmente funcionam e eliminam boa parte dessa vibração. Não tem muito como fazer milagres em motores de um cilindro, mas até que se saíram muito bem.

Embreagem macia acionada, primeira (de seis marchas) engatada de um câmbio muito macio e vamos ao teste de fato.

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Curvas, curvas e mais curvas

O problema de testar motos em autódromos é que só conseguimos avaliar alguns dados. Felizmente, é mais divertido e deixamos a parte chata para o teste na rua e na estrada. A pista do Haras Tuiuti é bem travada e ainda colocaram duas chicanes para reduzir ainda mais a velocidade nas retas. Em compensação, tem curva pra todo gosto de piloto. E se tem uma coisa que gosto muito, é de curva!

Até 5.500 RPM o nível de vibração é bem aceitável, sentido muito mais nos pés do que nas mãos e muito pouco na bunda. Com o banco intermediário (765 mm), me encaixei tão bem que poderia rodar muito mais do que os permitidos 30 minutos. É tão gostosa e estável que gastei muito slider do macacão e também a ponta das pedaleiras. Só me preocupou um pouco os pneus calibrados para uso na rua, que ficaram muito “duros” para pilotar na pista. Em várias ocasiões a traseira quis se separar de mim, mas consegui trazê-la de volta na marra.

Pode-se pilotá-la no estilo tradicional, com joelho no asfalto, ou no estilo supermotard, com o pé fora da pedaleira. Seja como for, as duas formas garantem puro prazer em baixa cilindrada. Os pneus escolhidos são o Pirelli Diablo Rosso II, que conheço de outros carnavais e confio cegamente. Muito boa a escolha da medida 150 na traseira, sem exageros e muito desfrutável. Consegui chegar no limite graças, justamente, à sensação de confiança que esses pneus transmitem.

Outro bom susto foi com os freios! Rapaz (ou moça), pense num freio que para até pensamento! A BMW G 310R vem equipada com ABS de duas vias perene, não comutável. Acho que poderia ter a opção de pelo menos desligar o traseiro, porque faz falta uma derrapadinha de leve na entrada de curva para se adaptar ao estilo supermotard. Fiz várias simulações de frenagem desesperadoras e foi surpreendente, porque as rodas não travam e a moto não torce. O imenso disco de freio (300 mm) são mordidos por pinças radiais, como se espera de uma esportiva com pedigree. Na traseira o freio também é a disco.

Boa parte do equilíbrio vem do quadro tubular de treliça de aço (com balança de alumínio), mas as bengalas invertidas de 41 mm de diâmetro também contam muito. Na traseira a suspensão é monoamortecida, com regulagem da carga da mola. Não mexi, mas, para andar em pista, poderia estar mais “dura”. A frente não afunda tanto na frenagem, o que dá segurança para “alicatar” o freio com vontade.

Fiz dois testes de praxe. No primeiro, engatei a sexta marcha e deixei a rotação cair até 2.000 RPM (a marcha lenta é a 1.700 RPM) e abri o acelerador até o talo. O motor falhou, pipocou e morreu. Foi um exagero, claro, mas a partir de 2.500 RPM o motor retoma com bastante energia. O câmbio de seis marchas tem a vantagem de manter uma rotação mais baixa em velocidade de cruzeiro na estrada, mas tem esse detalhe de precisar de rotação para retomar a velocidade. Imagino que no uso urbano o câmbio deva ser bem solicitado. O lado bom é que o curso é pequeno e o acionamento bem macio e silencioso.

Com seis marchas, a sexta é praticamente uma overdrive, com relação de 0,955:1, o que indica um baixo consumo. Não foi possível fazer o teste na pista, mas imagino que fique entre 25 e 30 km/litro dependendo da mão direita de quem pilota.

O segundo teste foi o contrário, deixei a velocidade e a rotação caírem em última marcha para ver até onde ela vai sem morrer: os mesmos 2.000 RPM, abaixo disso o motor apaga.

Faltou apenas um pouco mais de reta para levantar o dado de rotação em velocidade de cruzeiro, vai ter de ficar para o próximo teste.

E agora?

O mercado está bem ativo. Nesta categoria de 300 cm3 tem boas opções como Kawasaki Z300, Yamaha MT-03, KTM Duke 390 e agora a BMW G 310R. Colocada à venda por R$ 21.900, poderia incluir na lista a Honda CB 500F, que teve o preço revisto para R$ 23.900. Mas por ser dois cilindros e ter um comportamento mais civilizado, a Honda entra em outra categoria. Nem sempre o preço é o principal indicador de decisão.

Difícil escolher entre elas, pois são todas muito divertidas de pilotar. A BMW tem a mágica das três letras, um padrão de qualidade elevado e promete manutenção acessível. O modelo obedece o padrão globalizado de produção, montado em Manaus, com peças fabricadas pela indiana TVS, tudo com supervisão da matriz alemã. Como resultado, temos um produto bem acabado, mas com facilidade de reposição de peça.

Acredito que o público alvo vá se dividir entre os admiradores da marca que tem a chance de alcançar o sonho de ter uma BMW, os atuais donos de motos na faixa de 250 e 300 cm3 e até mesmo de não-motociclistas que estão chegando no mercado. Não tanto os jovens pós-adolescentes, mas sobretudo na faixa acima de 25 anos, já estabilizados, que tem segurança para assumir um carnê.

É uma moto que atende bem o uso urbano (apesar do pouco esterço do guidão), tanto que um dos opcionais é o bagageiro para bauleto, mas também permite viagens tranquilamente. A média declarada de consumo é na faixa de 28 km/litro, para um tanque de 11 litros, o que projeta uma autonomia média de 300 quilômetros.

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Tite Simões – Jornalista e instrutor de pilotagem. Contato: tite@speedmaster.com.br

(*) Viajou a convite da BMW do Brasil

Fotos: divulgação BMW

 

FICHA TÉCNICA BMW G 310R

 

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Ver comentários (1)

  • Muito bacana está moto e claro, é uma BMW!
    Eu sempre quis ter uma Ninjinha, mas acabei tomando outro caminho.
    A ninja Seia apenas por gosto mesmo. Então vendi minha XRE e encarei uma XJ6 com 4 anos de uso e do preço de uma Ninja. A diversão e 50x maior pois dizem que essas novas 300cc andam muito e tal, mas com uma 4 canecos não a comparação! Quando me desfazer dela, vou para uma menor novamente, possivelmente uma Fazer. Assim, concluo que está moto deve ser muito boa mas não dá para pagar mais que uns 18 mil, pois a emoção real mora em uma 4cc.
    Até mais!!

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