E lá vai o jornalista, enfrentando a guerra e o deserto com seu GS

E lá vai o jornalista, enfrentando a guerra e o deserto com seu GS

Eu penso que a Citroën faria um grande sucesso hoje no nosso mercado, se trouxesse para cá uma versão atualizada do seu modelo GS esportivo, que o jornalista Moises Rabinovici usou entre Israel e o Líbano, quando da guerra entre os dois países, nos anos 70 e 80 do século passado.

Imaginem que ele tinha três “andares” de suspensão: o térreo, quando em ponto morto; o 1º para pisos normais e mais dois para uso em vias esburacadas para livrar o piso do carro dos perigos dos buracos e irregularidades das pistas. Não seria perfeito para nossas ruas e estradas (não pedagiadas)?

Rabino (como é conhecido) foi mandado para Israel em 1977 para cobrir a guerra, até que houvesse paz, negociada por Anwar Al Sadat, presidente do Egito, que recebeu o Nobel da Paz, em 1978  (“eu poderia estar por lá até hoje”) pelo jornal O Estado de São Paulo, onde era repórter. E ficou até o começo de 1985. Ele, quando jovem, já estivera em Israel em 1967, morando em um kibutz, plantando trigo no deserto.

Foi naquela época que conheceu Gaza, que vivia completamente em paz, onde Sansão, vivido por Victor Mature no cinema, morreu assassinado ao perder sua força sobrenatural, sem seus cabelos, cortados por Dalila (estrelada por Hedy Lamarr).

Moises conta que o carro não teve nenhum problema e enfrentou o deserto vencendo todos os obstáculos apresentados pelas areias. E seguia pelos sulcos deixados pelos tanques de guerra que circulavam pela estrada – cerca de 200 km – entre a divisa de Israel e Beirute. Fora as revisões programadas, Rabino só teve que trocar a válvula que comandava o sistema hidráulico do carro, que impede sua movimentação.

– Era como um carro fora de estrada.

Era só acionar a alavanca ao lado  do câmbio (mecânico de 5 velocidades) e levantar ou abaixar a suspensão do Citroën GS, 1977, comprado de um homem sul africano que, como ele, tinha direito a um desconto na compra do carro e só poderia vender para quem, como o Rabino, fosse correspondente de Imprensa.

– Era um carro muito caro que eu não poderia comprar. E que me serviu muito bem enquanto estive por lá.

Fora as revisões programadas, Rabino só teve que trocar a válvula que comandava o sistema hidráulico do carro, que impede sua movimentação.

Mas o sistema de suspensão do carro não era usado apenas para vencer as dificuldades criadas pelas estradas e desertos.

Como era comum dar carona para soldadas israelenses, Rabino parava diante de um muro acendia os faróis e mostrava como funcionava o sistema para alegria dos militares.

Quando pergunto para ele “quantos quilômetros rodou com o GS”, a resposta é: “percorri o Novo Testamento inteiro que, a rigor, engloba mais de 80 cidades”. Entre elas Al dine, onde praticamente 100% da população era de brasileiros. Perto dali, nas montanhas, uma loja com o paulistano nome “Mappin”, de um comerciante que havia morado no Brasil e levou para lá o nome de um dos mais famosos magazines brasileiros.

 

Um susto

Apesar de estar sempre em meio a bombardeios, ele sofreu apenas um susto durante sua estada em plena guerra. Em Beirute, defrontou-se com uma manifestação de libaneses. Parou o carro, fechou os vidros e orou para que nada acontecesse. Suas preces foram ouvidas, já que a turba passou desviando-se do GS.

Uma coisa curiosa é que, ao chegar à estrada e parar na guarita, Rabino recebia uma manta para colocar em cima do carro. Todo dia trocavam de cor. Era para que os pilotos da força área de Israel não bombardeassem o carro, por se tratar de correspondente estrangeiro.

 

 

O papagaio guerrilheiro

Os jornalistas estrangeiros se revezavam na cobertura da guerra e quase todos ficavam no mesmo hotel, onde havia um papagaio que aprendeu a imitar o silvo de um míssil e ele fazia isso, assustando os jornalistas que chegavam para “cobrir” seus colegas.

E eles saiam correndo, acreditando que o hotel estava sendo atacado.

No hotel, nos jantares, o grupo assistia, das enormes janelas, a passagem dos mísseis passando de um lado para o outro sobre o porto da cidade, que ficava distante.

 

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chicolelis

chicolelis

chicolelis começou no jornalismo em 1960, no jornal A Tribuna (Santos/SP), passou pela Ford, onde foi aluno do mestre Secco, foi para a Goodyear, depois para O Globo (Sucursal de São Paulo) e dali para GM, onde ficou por 18 anos. Em seguida, fez consultoria para a Portugal Telecom e depois editor do Caderno de Veículos do Diário do Comércio (SP) 🙋 PARCERIAS: comercial@carroscomcamanzi.com.br