Do Brasil ao Alasca: 70 Anos da Operação Abacaxi

Do Brasil ao Alasca: 70 Anos da Operação Abacaxi

Sete décadas depois, a expedição épica de três jovens continua a inspirar e é revisitada em série documental

Em 1955, Hugo Vidal (uruguaio), Charles Downey (britânico) e Jan Stekly (brasileiro), membros do Grupo Escoteiro Carajás, embarcaram em uma aventura que se tornaria lendária: a “Operação Abacaxi”.  O que começou em São Paulo como uma viagem ao Jamboree, no Canadá, se transformou em uma expedição de 70 mil km rumo ao Alasca, ida e volta,  cruzando fronteiras e culturas, a bordo de um Jeep CJ-3B. 

Em 2025 a expedição completa 70 anos e nós revisitamos aqui a série documental em que Hugo Vidal, o único sobrevivente da expedição, compartilha suas memórias, revivendo os desafios e as alegrias daquela experiência transformadora.

Foto: Divulgação/Stellantis

A Origem da Aventura

A ideia de viajar de carro ao Jamboree surgiu durante uma reunião do Grupo Escoteiro Carajás, em março de 1954. Nenhum dos três jovens possuía um veículo, mas a sorte sorriu para Vidal, que trabalhava na Agromotor, a distribuidora oficial da Jeep na época. Com o apoio de seus superiores, conseguiu o empréstimo de um CJ-3B, que se tornaria o protagonista da aventura.

Antes de partir, o Jeep passou por uma revisão completa, com a colaboração de 25 empresas que forneceram componentes e serviços. Os rapazes desmontaram e remontaram o veículo, substituindo o teto de lona por um de aço, instalando tanques de combustível e água extras, elevando a suspensão e pintando o carro com as cores verde e amarelo.

Foto: Divulgação/Stellantis

“Abacaxi”: Uma Prova da Capacidade Nacional

O nome “Operação Abacaxi” surgiu como uma forma de desafiar a crença de que produtos brasileiros não eram confiáveis. Na época, a palavra “abacaxi” era utilizada para se referir a problemas ou dificuldades. Ao batizar a expedição com esse nome, os escoteiros pretendiam provar que as peças nacionais eram capazes de suportar os rigores de uma longa viagem.

A expedição partiu de São Paulo em 2 de abril de 1955, com destino a Niagara-on-the-Lake, no Canadá. A volta ocorreu em 14 de abril de 1956, totalizando 375 dias na estrada e 72.985 quilômetros percorridos. Em 2018, Hugo Vidal lançou o livro “Operação Abacaxi: flashes de uma aventura”, relatando os detalhes da jornada.

Desafios e Superação

O percurso da expedição foi traçado pelo lado do Pacífico, já que a selva amazônica e a instabilidade política em países como Paraguai e Bolívia tornavam inviável a travessia pelo Atlântico. A viagem exigiu planejamento, organização e a superação de diversos desafios, desde a adaptação a diferentes culturas e climas até a resolução de problemas mecânicos e imprevistos na estrada.

Em seu livro, Vidal relata momentos engraçados, como o encontro com um chileno preocupado com a possibilidade de chuva (como se esse fosse o maior problema que poderiam ter), e a dificuldade em encontrar locais adequados para dormir. Em muitas ocasiões, os escoteiros estendiam uma lona no chão e dormiam em seus sacos de dormir. Em outras, eram acolhidos por pessoas que se solidarizavam com a aventura, chegando a dormir em celas de delegacia.

Rumo ao Norte

Após atravessar a América do Sul, os escoteiros embarcaram em um navio da Colômbia para o Panamá, e de lá seguiram para a Costa Rica em um avião cargueiro Douglas DC4 da Pan Am. Na Costa Rica, o Jeep capotou, sofrendo apenas arranhões. A aventura prosseguiu por Honduras, El Salvador, Guatemala, México e Estados Unidos, até finalmente chegar ao Canadá, onde participaram do Jamboree, que reuniu mais de 12 mil escoteiros de 68 países.

Na volta, a expedição fez uma incursão até o Alasca, mas o excesso de gelo nas estradas impediu que o trio prosseguisse. Ao final da viagem, os escoteiros haviam visitado 19 países, gastando apenas US$ 4.500 e furando 11 pneus.

Hugo Vidal. Foto: Divulgação/Stellantis.

Legado e Reencontro

Após a Operação Abacaxi, cada um dos escoteiros seguiu seu próprio caminho. Charles Downey tornou-se representante comercial, Jan Stekly foi estudar Metalurgia no Canadá e Hugo Vidal abriu uma empresa de equipamentos para veículos 4×4. O Jeep foi devolvido à Agromotor e posteriormente utilizado para divulgar a venda de ações da Willys Overland.

Quase sete décadas depois, Hugo Vidal, aos 90 e poucos anos, ainda guarda lembranças vívidas da aventura e compartilha suas memórias em uma série de vídeos produzida pela Jeep. Ele também mantém guardados os números do motor e do chassi do Jeep CJ-3B, na esperança de reencontrar o veículo que o acompanhou em sua jornada épica. Enquanto isso, ele se contenta em admirar um CJ3B restaurado à semelhança do original, revivendo os momentos inesquecíveis da “Operação Abacaxi”.

Confira a série completa feita pela Jeep: 

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Paula Jabour

Paula Jabour

Paula Jabour é criadora de conteúdo e copywriter. Ela atende clientes de diversos setores, incluindo automotivo, restaurantes, artistas e profissionais liberais.