Dino: Não era pelo motor, mas pelo emblema
Boa parte das Ferrari que saíram de Maranello têm histórias carregadas de sentimentos envolvendo seu desenvolvimento, como tudo na Itália. Mas poucas são tão passionais e insólitas como o Dino 246 GT. Batizado em homenagem ao filho morto do Comendador Enzo Ferrari, o esportivo produzido entre 1969 e 1974 foi o único modelo da marca a utilizar motor V6. E, por essa razão, o Dino sempre foi visto com maus olhos pelos entusiastas da marca. Mas por que escrever sobre o Dino, hoje e agora?
Bom, um dos benefícios de trabalhar na cobertura do setor automotivo é que às vezes podemos ter contato com automóveis lendários. O que não significa que iremos guiá-los. Às vezes sim, outras se pode ao máximo bolina-las, mas com cuidado. Há pouco tempo fiquei cara a cara com um Dino. Sem guiar, obviamente! E fiquei me perguntando a razão daquele repúdio à berlinetta.
Ele é um carro lindo, com um desenho que se nega a enjoar. É leve, equilibrado. É uma verdadeira maldade subjuga-lo, ainda mais por se tratar de um tributo ao filho do fundador, mas Enzo e seus executivos tiveram uma parcela de culpa em sua rejeição.
911 italiano
O cupê chegou ao mercado, nas versões GT (cupê ou berlinetta, como preferem os italianos) e GTS (Targa, com teto rígido destacável). Ele pertencia a uma marca secundária da Ferrari, de valor agregado mais palpável, para concorrer com o Porsche 911. Tanto que ainda foi o único modelo de Maranello que não tem o Cavallino Rampante estampado no capô e nas laterais, assim como a assinatura Ferrari. Nele, constava só a logo retangular com o inscrito Dino.
Bom, quando se compra uma Ferrari é esperado que esteja escrito em letras garrafais que é uma Ferrari e com “Cavallinos” empinando no capô, nos para-lamas e traseira. Você não quer uma plaquinha com a escritura “Dino”. Talvez Enzo queria que a Dino fosse uma extensão, em forma de pessoa jurídica, de seu filho e a Ferrari sua própria personificação. Sei lá, vai saber! É só uma hipótese sem fundamento.
Mas fato é que Enzo não queria se arriscar em desvalorizar o lastro da Ferrari com um produto menos platônico. Nos cinco anos que esteve em linha, foram feitos 2.295 unidades do GT e 1.274 do GTS. Números que, por ironia do destino, fizeram do Dino um automóvel raro e extremamente valorizado. Num site especializado em antigos de luxo, seu preço chega de 360 mil a 500 mil libras esterlinas, que corresponde algo entre R$ 1,7 milhão e R$ 2,5 milhões.
Apesar de renegado pelos puristas, sua arquitetura serviu de inspiração para a linha de modelos com motores V8 posteriores, como o atual 488 GTB. Até aquela época, todos os Ferrari (de rua) tinham motores V12 dianteiros e a solução de engenharia do Dino permitiu não apenas a criação dos V8 da família 300, mas também dos boxer 12 cilindros, que na Ferrari são chamados de V12 180º, que equiparam as 512 GTB e Testarossa.
Retorno?
No entanto, em 2015 começou a surgir um rumor de que a Ferrari poderia desenvolver um esportivo de porte menor e motor V6 (provavelmente o V6 biturbo 3.0 de 500 cv do Alfa-Romeo Giulia Quadrifoglio), que chegaria por volta de 2019. No ano passado o assunto começou a ganhar força e com uma nova data e motor. Publicações europeias apostam que o “novo” Dino poderia chegar em 2023 com o V8 3.9 turbo do 488 e Portofino.
Seja como for, o Dino 246 deu a volta por cima e se tornou um clássico. Quem apostou nele se deu muito bem!
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Marcelo Iglesias Ramos é Jornalista e Designer Gráfico.
Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).
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