Audi, Toyota, GWM e BYD são destaques no Festival Interlagos
Salões de automóveis estão sendo repensados ao redor do mundo. Alguns vão desaparecer ou então mudar de foco ao combinar exposição estática mais modesta com programa de avaliações abertas ao público, clientes e convidados das marcas.
Neste cenário o II Festival Interlagos, organizado pela publicação FullPower de 20 a 23 deste mês, se consolida. Além dos testes pagos no autódromo em asfalto e terra (mais de 10.000 previstos), os expositores podiam ter concessionárias no local para vendas.
Foi palco de lançamentos e prévias aproveitados basicamente por importadores. Teve até episódio de “espionagem” aberta, comum em salões de automóveis no exterior anos atrás, quando chineses estudavam minuciosamente os produtos ocidentais. Aqui notei uma moça de traços orientais muito interessada nos detalhes do Ora 03, da GWM. Seria alguém da BYD?
A Ford apresentou o inteiramente novo Territory com dimensões e porta-malas maiores em apresentação estática, sem mostrar o interior (estreia neste trimestre). Peugeot anunciou corte de R$ 50.000 no elétrico e-2008 até 6 de agosto (R$ 209.990). A GM indicou a chegada em meados de 2024 de um SUV elétrico com a grife RS.
Entre as principais atrações, três eram carros elétricos.
Audi e-tron GT quattro
Faz 30 anos que o inesquecível Ayrton Senna implantou a Audi no Brasil, operação assumida pela marca alemã em 2005. Nos últimos quatro anos foram lançados 40 modelos, incluídas versões.
O e-Tron GT é um sedã elétrico grande que chama atenção pelas linhas harmoniosas, os 2.889 mm de entre-eixos e os 1.413 mm de altura. Há um motor elétrico em cada eixo, gerenciados pela tração quattro com duas marchas. A potência combinada é de 476 cv, mas chega a 530 cv com alimentação adicional temporária (overboost) e torque total de 65,3 kgf.m. Isso garante empolgante aceleração de 0 a 100 km/h em 4,1 considerando um automóvel de 2.276 kg.
Sistema elétrico de 800 V (origem Porsche, do mesmo grupo) e capacidade da bateria de 93,4 kWh permitem alcance médio de 308 km (padrão Inmetro). A recarga pode ser feita pelos dois lados do carro em até meia hora (0 a 80%) com carregador super-rápido de 150 kW.
Ao volante a posição é perfeita com o banco baixo, porém sem prejuízo da visão à frente. O óculo traseiro limita um pouco a retrovisão, contudo câmeras de alta definição de 360° tornam fácil qualquer manobra. O teto de vidro ajuda na atmosfera a bordo e o sistema de áudio é de primeira linha (Bang & Olufsen). Andar rápido em Interlagos exige concentração, porém sem cansaço e confiança na potência de frenagem.
Preço (fora opcionais): R$ 699.990 e a partir de 1º de agosto, R$ 769.990.
Toyota GR Corolla
O primeiro lote de 44 unidades chegou ao mercado no começo deste mês. O hatch GR Corolla é um pouco mais discreto que seu concorrente direto Civic Type R e sua vistosa asa traseira. O modelo da Toyota igualmente recebeu um cuidadoso estudo aerodinâmico, em que todas as passagens de ar pela carroceria são funcionais. Outra diferença para o rival é a tração integral ajustável por um botão no console em três modos de distribuição entre as rodas dianteiras e traseiras: 60:40, 30:70 e 50:50.
O sistema 4×4 acrescenta massa ao conjunto e, apesar de distância entre-eixos 95 mm menor que o Civic, o GR (sigla de Gazoo Racing, braço de competição da Toyota) ainda pesa 34 kg a mais mesmo com a versão Circuit Edition dispondo de teto em compósito de fibra de carbono. O modelo manteve o motor de três cilindros e 1,6 litro turbo que entrega 306 cv e 37,7 kgf.m (Type R 297 cv e 42,8 kgf.m). A Toyota informa aceleração de 0 a 100 km/h em 5,5 s: desempenho de alto nível e praticamente igual ao modelo concorrente conforme indicado pela Honda em outros mercados.
Ao acelerar em Interlagos logo se destacam três das qualidades do GR: o ronco encorpado na medida certa por meio das três saídas centrais de escapamento (nada a ver com fato de ter três cilindros), a precisão dos engates e curso da alavanca do câmbio manual de seis marchas e a possibilidade de mudar a distribuição de tração entre os eixos dianteiro e traseiro que altera de maneira desafiadora o comportamento do carro nos diferentes tipos de curvas do circuito paulistano.
A marca japonesa limitou a 99 unidades a cota total do seu hatch “quente” para o mercado brasileiro, embora a procura seja bem maior. Os preços: R$ 416.990 (Core) e R$ 461.990 (Circuit Edition).
GWM Ora 03
O hatch surpreende por suas linhas diferenciadas e atraentes com destaque para os para-lamas dianteiros com protuberâncias verticais que remetem ao Fusca. É o primeiro modelo 100% elétrico da GWM, importado da China, mas ainda sem previsão de produção local. Houve apenas exposição estática. Lançamento oficial previsto para 26 de agosto e entregas em outubro. Interessante a estratégia de oferecer o mesmo motor (171 cv e 25,5 kgf.m) e a possibilidade de optar por bateria de 48 kWh ou 64 kWh (esta proporciona maior alcance, porém custa mais).
No Festival foi anunciada pré-reserva – R$ 9.000 de sinal – pelo banco digital Mercado Pago. Os preços estão estimados entre R$ 150.000 e R$ 200.000 e entregas a partir de outubro. O porte do Ora 03 é um pouco menor que o BYD Dolphin: comprimento, 4.254 mm; entre-eixos, 2.650 mm; largura, 1.825 mm; altura, 1.605 mm e vão livre do solo, 135 mm.
O acabamento interno apresenta materiais de primeira linha e cores contrastantes. Há uma tela contínua que abriga o quadro de instrumentos e os recursos multimídia. O banco elétrico do motorista recua automaticamente ao se abrir a porta para facilitar o acesso e retorna depois à posição prévia ajustada. Apresentação em Interlagos foi estática.
BYD Seal
O sedã-cupê de quatro portas importado da China está previsto para chegar no último trimestre do ano e impressiona por linhas fluidas. Sem dúvida é o mais bonito da marca e a estimativa de preço, não anunciada oficialmente, deve situar-se na faixa de R$ 350.000 se tiver tração apenas nas rodas traseiras.
O sedã grande Han já a venda aqui custa R$ 540.000, mas com tração 4×4, um motor em cada eixo, potência de 517 cv e 71 kgf.m (números combinados). A ficha técnica do Seal distribuída na Europa indica entre-eixos 2.920 mm; comprimento 4.800 mm; largura 1.875 mm; altura 1.460 mm. Ou seja, mesma distância entre-eixos do Han, porém um pouco mais estreito, baixo e curto.
Duas voltas no autódromo de Interlagos mostraram aceleração muito forte, freios potentes e atitude em curvas típica de um tração-integral. O banco com assento e encosto firmes lembra a escola alemã voltada para viagens em estrada menos cansativas. Porém, a enorme tela multimídia rotacional de 15,6 pol. não deixa dúvida da origem do carro.
Crédito da foto: AE/Gerson Borini
Coluna Fernando Calmon nº 1.260