Tudo começou nos trens. Imagine a dificuldade de parar milhares de toneladas apoiadas em rodas de ferro e que deslizam sobre trilhos de ferro! Depois de pouco tempo, esse metal fica tão polido que se torna extremamente escorregadio. Para evitar o travamento das rodas foi desenvolvido um sensor, ligado a uma central, que controlava o quanto de frenagem as rodas poderiam receber antes de começar a deslizar.
O resultado foi tão eficiente, que logo em seguida foi adotado pela aviação. Um dos momentos mais delicados do voo é a aterrissagem, especialmente depois que as rodas tocam no solo e o avião precisa parar com auxílio de freios mecânicos (nas rodas) e aerodinâmicos (flaps e o reverso dos motores ou turbinas). Mais ainda, quando o piso se apresenta com baixo índice de aderência, na chuva ou neve, qualquer veículo apoiado em rodas, corre sérios riscos de derrapagem. Foi com a intenção de evitar as derrapagens que os aviões passaram a adotar freios antitravamento, conhecido mundialmente como ABS, sigla para anti-locking brake system, ou sistema de freio antitravamento.
Logo em seguida, a indústria automobilística percebeu que um freio autobloqueio seria um excelente item de segurança passiva, e os carros ganharam as primeiras versões de freios ABS. Para chegar nas motos foi uma questão de poucos meses de desenvolvimento, por meio da BMW, a primeira a incluir o sistema em motos de série. E começaram as confusões.
A primeira delas é acreditar que o ABS foi criado para reduzir os espaços de frenagem. Não é! Essa redução até pode se obter, mas porque sem as rodas bloqueadas, os pneus podem oferecer maior atrito mecânico, consequentemente, maior capacidade de aderência e frenagem. Na verdade, o ABS nasceu para permitir a frenagem em baixos coeficientes de aderência, sobretudo na neve, comum no hemisfério norte. Mais do que isso: a ideia original do ABS, era permitir que os carros pudessem frear e desviar ao mesmo tempo, algo muito improvável com freios comuns.
Nos primeiros carros com ABS, houve até uma preocupação extra, porque alguns motoristas estavam tão confiantes no sistema, que deixavam para frear tarde demais e acabavam numa baita pancada. Hoje, com microprocessadores mais rápidos, esse risco é bem menor.
Nas motos
Quando foi incorporado nas motos, a ideia original era apenas impedir que as rodas travassem em pisos de baixa aderência, especialmente sob chuva. A grande dificuldade das motos em relação aos carros, é frear e desviar ao mesmo tempo. Pelas características de geometria da moto, quando o piloto freia e muda a trajetória ao mesmo tempo, existe uma grande tendência de a moto perder aderência, porque todas se inclinam em relação ao eixo vertical nessa condição. Com o piso molhado, essa tendência de derrapagem é muito maior. Por isso, a preocupação inicial era projetar um freio que não travasse, mesmo com a moto inclinada. Como se vê, o plano original não era reduzir o espaço de frenagem.
Como os trens e aviões deslizam sobre um piso perfeito, sem irregularidades, ao levar o ABS para carros e motos, as fábricas perceberam um efeito colateral: em piso irregular o ABS fica “doido” e não consegue interpretar se a moto está freando ou pulando. Nas motos BMW de uso misto, existe a possibilidade de desligar o ABS para rodar em pisos irregulares. Mesmo no asfalto, o sistema adotado pela BMW em alguns de seus primeiros modelos, não se dá bem quando passa por irregularidades. Por ter sido herança dos usados em carros, ele não “entende” quando o piso é irregular. Quando a BMW freia em “costelas”, a alavanca e o pedal trepidam e pregam um belo susto no motociclista. Felizmente, nos modelos atuais essa tendência diminuiu bastante. Hoje a BMW R1000SS, uma das melhores esportivas da atualidade, conta com um ABS de última geração.
Por essas imperfeições no sistema e por não conseguir reduzir os espaços de frenagem, não se via o ABS em motos esportivas, nem em motos fora-de-estrada. Até que a Honda colocou seus engenheiros para fazer hora extra e apareceu com ótimas notícias. A primeira delas foi a CBR 1000RR Fireblade, primeira esportiva equipada com sistema ABS. A Honda conseguiu até algo impensável 20 anos atrás: um ABS que efetivamente reduz os espaços de frenagem.
Mais do que isso, conseguiu desenvolver um sistema viável para motos fora-de-estrada e leves, junto com o sistema de frenagem combinada (CBS). Os dois estrearam no Brasil nos modelos CB 300R e XRE 300, lançadas em 2009. O que parecia impossível, foi resolvido com a eletrônica. O ABS da XRE, por exemplo, consegue interpretar quando a moto está rodando em piso irregular e impede o travamento da roda até mesmo sobre cascalhos. E o mais difícil, com esse sistema combinado atuando nas duas rodas ao mesmo tempo, pôde-se reduzir os espaços de frenagem tanto no asfalto quanto na terra. Na XRE 300, o ABS permanece sempre ligado, sem possibilidade de desligar.
CBS, solução nas pequenas
O mais impressionante nas motos atuais, são os sistemas de frenagem que combinam ABS com CBS (combinated brake system). Tive a oportunidade de testar uma Ducati Panigale 1299 em Mugello, Itália, e comprovar na prática, que os freios modernos são capazes de pensar! Isso mesmo, tudo graças a um simples acelerômetro (ou medidor de G), que hoje em dia está até dentro dos aparelhos de celular.
[su_slider source=”media: 11603,11615″ link=”image” target=”blank” title=”no” pages=”no”]
Primeiro deixa explicar como funciona a frenagem em uma moto sem controle eletrônico: quando o piloto freia com violência, a moto inclina para a frente e nas curvas ela inclina para os lados. Conforme a posição da moto em relação aos eixos vertical e horizontal, o piloto precisa modular a distribuição de força nos freios dianteiro e traseiro. Tudo com muito cuidado e usando uma extrema sensibilidade para não travar nenhuma roda.
Com a ajuda da eletrônica e do acelerômetro, essa modulação é feita automaticamente. O piloto só precisa acionar os freios e a tecnologia faz o resto. Essa é a grande evolução que fará, em breve, as motos contarem com apenas um comando de freio, como nos carros.
Mas e nas motos pequenas e baratas? Claro que esse sistema sofisticado custa caro. Mas tem sistemas que misturam comandos hidráulicos e mecânicos, que atuam como se fossem ABS, porém menos sofisticados, mas não menos eficiente. É o caso dos freios combinados, ou CBS. O princípio é muito simples: quando o piloto aciona apenas o freio traseiro, parte da força aplicada no pedal vai para o freio dianteiro, o que ajuda a reduzir os espaços de frenagem e o travamento das rodas.
É um sistema relativamente simples, que funciona efetivamente na prática. Eu mesmo fiz um teste, comparando uma Honda CG 150 Titan, com freio convencional (disco dianteiro) e outra com freio CBS, batizado pela Honda de Combi Brake. Na mesma velocidade de 50 km/h (aferidos), a CG com freio convencional, precisou de 12 metros para frear completamente. Já a CG com freio combinado, na mesma velocidade, precisou de apenas 9 metros. Isso na mão de um piloto experiente e sem deixar a roda traseira travar.
[su_slider source=”media: 11605,11606,11604″ link=”image” target=”blank” title=”no” pages=”no”]
Uma informação valiosa para os novos motociclistas, é procurar conhecer sempre as opções que existem no mercado. Já existe um projeto de lei que obrigará todas as motos a terem freios ABS ou CBS de série. Por enquanto, ainda é opcional. E quer um conselho? Se estiver em dúvida sobre um modelo de moto com ou sem sistema de freio ABS ou CBS, prefira sempre com o sistema melhor. Pode ser mais caro, mas vai se pagar na primeira frenagem de emergência!
[su_slider source=”media: 11614,11613″ link=”image” target=”blank” title=”no” pages=”no”]
Tite Simões – Jornalista, instrutor de pilotagem dos cursos SpeedMaster e ABTRANS de Pilotagem (www.abtrans.com.br)
Contato: info@abtrans.com.br
Fotos: divulgação montadora, Caio Mattos, Mario Villaescusa, Mario Bock e Tite Simões.
[su_divider text=”Vá para o topo”]
Para anunciar no site, entre em contato conosco através do e-mail carroscomcamanzi@gmail.com e solicite nosso Mídia Kit.
[su_divider text=”Vá para o topo”]
[Contact_Form_Builder id=”1″]
[su_divider text=”Vá para o topo”]
Ver comentários (2)
Acho que deveria ter ABS como opcional mesmo em motos pequenas. Se o consumidor quiser pagar... Eu nao desejo uma moto grande, o unico motivo seria pra ter ABS - *A*BS. Se numa moto pequena fosse tipo 1K a mais pra ter ABS, eu pagaria sem pensar
Gosto demais das suas publicações. Tite vi recentemente que lançaram a moto com airbag, poderia fazer uma análise/ artigo, por favor?