30 anos depois, Lancia Delta ainda é o vencedor do WRC
Entre os incontáveis dogmas cunhados pela indústria do automóvel em seus quase 140 anos, poucos são tão expressivos quanto: “vença no domingo e venda na segunda”. Sim, essa lógica tem funcionado desde que a produção do automóvel se tornou massificada. Afinal, não há melhor garoto propaganda que um piloto no alto do pódio, graças ao seu carro. É assim nos Estados Unidos, na França, Inglaterra, Alemanha, Japão e claro, na Itália. Entre os italianos, não maior expoente que a Ferrari, maior campeã de construtores da Fórmula 1 e que também coleciona títulos em outras modalidades de turismo. Alfa Romeo e Lamborghini também se projetaram nas pistas. Mas a Lancia… Essa preferiu escrever sua história na terra, lama e cascalho. Da mesma forma que a Fiat, a Lancia teve papel importante nas competições de rali. Modelos como Stratus, Fulvia, assim como o exótico 037 e o todo poderoso Delta.
O Delta original ficou em linha de 1979 e 1992. Seu desenho era assinado por Giorgetto Giugiaro e nasceu para ser um compacto citadino, com formas retilíneas seguindo a escola inaugurada pelo próprio Giugiaro, com o VW Golf, cinco anos antes. E não tardou para ser o sucessor do Stratos e do 037 nas competições de rali. A razão era simples, seus antecessores foram carros desenhados para competições, mas com tiragens mínimas exigidas pela FIA para homologação. O Delta seguiu a lógica inversa, um carro de série que foi ajustado para as pistas e se tornou um dos maiores campeões da história.
O Lancia Delta conquistou seis títulos seguidos do WRC, em 1987 a 1992, além de ter disputado provas pelo famigerado Grupo B da FIA, que era conhecido como “Grupo da Morte”. Ao todo, foram 46 vitórias, que o transformaram num ícone da indústria italiana. Nenhum outro modelo colecionou tantos títulos na categoria, como ele.
Seu segredo estava no sofisticado sistema de transmissão que combinava caixa de cinco marchas a três diferenciais: um Ferguson, de posição central, outro Torsen para o eixo traseiro e um flutuante para o eixo dianteiro. O primeiro era capaz de distribuir o torque em 56% no eixo dianteiro e 44% no eixo traseiro. A maior oferta de força na frente era potencializada pela maior massa concentrada sobre o eixo, garantindo excelente tração, sem dar chances aos seus rivais. Era como se corresse sobre trilhos, fosse na lama, na neve ou no cascalho.
Diante de tamanho sucesso, o Lancia Delta era um carro que disputava atenção com bólidos sensuais como Ferrari 348 e Porsche 964, mesmo tendo uma carroceria convencional. Entre as inúmeras versões, a HF Integrale Evoluzione se tornou um ícone, pois combinava motor turbo 2.0 16V de 210 cv e 30 mkgf de torque, com caixa manual de cinco marchas e sistema de tração nas quatro rodas, além de um kit estético que seguia o padrão do carro de corridas.
Em 1993, a Lancia lançou a segunda geração do Delta, que recebeu formas mais modernas, mas perdeu seu encanto. Em 2008, ganhou sua terceira geração que compartilhava plataforma C2, com Fiat Bravo, que seguiu em produção até 2014.
O fascínio pelo Delta era tamanho, que em 1994 a Sega lançou o game de fliperama “Sega Rally”, que usava recurso de unir duas cabines para duelos. O game tinha como protagonista o conterrâneo japonês Toyota Celica GT-Four, que tinha se tornado bicampeão do WRC, mas seu rival era o poderoso Delta HF. Até hoje é um dos games de corridas para fliperamas mais populares já feitos, ao lado do primo “Daytona USA”.
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