Minha expectativa era enorme. Convidei a Dilma e seu marido Sílvio para o teste do Tiggo 7, para saber o que duas pessoas com deficiência visual pensavam de um carro. Como elas sentiam o Tiggo 7. Minha ansiedade caiu por terra quando, ao entrar no carro, Sílvio colocou a mão no teto e disse: “é um SUV, não é chico? Que marca?”
Pronto, sem que eu tenha dada qualquer informação sobre o modelo, Sílvio – que sugeriu o título desta coluna – acertou tratar-se de um SUV e tirou minha ansiedade. Perguntei como ele sabia qual era o tipo de carro ele respondeu com uma simplicidade que lhe é característica: pela altura do teto.
Por sua vez, Dilma foi logo elogiando o revestimento do banco e das laterais da porta. Na primeira parte do teste (trecho das rodovias dos Imigrantes e parte da Padre Manoel da Nóbrega, cerca de 200 quilômetros), ela foi sentada no banco traseiro e elogiou o conforto oferecido.
Dilma Oliveira de Souza tem 56 anos, nasceu cega, com má formação do globo ocular e atrofia do nervo ótico. Recuperou parte da visão na infância, mas aos 43 anos começou a desenvolver um glaucoma e hoje detém apenas 4% da visão, no olho esquerdo. Sua leitura é por Braille (Sistema Braille é um código formado por sinais em relevo que possibilitam a leitura e escrita das pessoas com deficiência visual, parcial ou total. Foi criado pelo francês Louis Braille, no século XIX e introduzido em 1854 no Brasil).
Ela é professora de Educação Especial, com formação em deficiência mental e visual, tem pós graduação para ensino de pessoas com múltiplas deficiências e deficiências sensoriais, formada pelas faculdades Carmo Lusíada da Mackenzie. Dilma toca flautas doce e transversal, violão e ainda estuda sax alto. Mas não entende nada de carro, segundo ela própria: – “Só sei andar!!!!!”
Sílvio Roberto Gonzaga de Souza, tem 59 anos e perdeu totalmente a visão em um acidente, aos 31 anos. Ele dá aulas de flauta doce para crianças e adultos. Ao contrário da esposa, é apaixonado por carros. Lê, em Braille, ou tomada conhecimento por audiovisual de tudo o que acontece no mundo automobilístico e provou isso durante o teste.
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Confesso aqui que fiz um teste com ele. Parei o carro e disse que ele tinha “stop & go”. Imediatamente ele me corrigiu, dizendo que não, que era apenas um sistema de assistente de partida da rampa, usando a sua capacidade de audição.
– Desligue o rádio e você vai continuar ouvindo o motor funcionando. Eu senti o motor vibrando no banco e nos meus pés.
Confesso que não ouvi e nem senti a vibração mencionada pelo Sílvio.
Sua paixão por carros vem do seu tempo de jovem, quando tinha moto e carro para viajar.
– “A gente namorava dentro dos carros, Era ótimo!!!”
Sílvio usa o teclado do computador para escrever o que quer, lembrando do curso de datilografia que fez quando tinha visão. E se queixa de que as propagandas de carros não têm audiodescrição.
Elogiou o banco do carro que, segundo ele, acolhe bem o usuário. Falou da altura do teto, que não incomoda quem tem, como ele, mais de 1,80 m de altura. O elogio foi feito em ralação ao banco dianteiro e ao traseiro, ressaltando que o túnel central não chega a incomodar quem viaja atrás no carro.
Também gostou, e muito, do apoio de braço no banco traseiro, do ajuste do banco para o passageiro (“show”), da textura do material interno do carro, do tamanho do porta-luvas. Ficou surpreso ao saber que o porta-malas é aberto e fechado com toques na chave do veículo.
Quanto à suspensão, do alto da sua sensibilidade, afirmou que ela não repassa para os ocupantes do carro, as irregularidades do terreno.
– Sinto, claro, as irregularidades, mas não de maneira desconfortável, como em outros veículos.
PROMUVI
E o que liga Dilma e Sílvio, além do casamento e duas filhas, é o PROMUVI (Música Transformando Vidas), um projeto santista, criado pelo maestro Paulo Mauá, que reúne, em sua maioria pessoas com deficiência visual, para o aprendizado de flauta doce. Ambos fazem parte da orquestra do projeto. Querendo conhecer e colaborar, entre no https://www.facebook.com/musicatransformandovidas/
Sonho da Dilma
“Opa!” Eu ia esquecendo de contar qual é o sonho da Dilma, em matéria de carro. Ela quer ir aos Estados Unidos e “dirigir” por lá.
– “Quero entrar naqueles carros autônomos que circulam lá pela Califórnia e falar para onde quero ir e o carro vai sozinho. Seria ótimo realizar este sonho.”