Grandes esportivos importados dos anos 90: os resistentes compactos alemães
Os anos 90 podem ser classificados como um período fértil para os compactos esportivos de projeto alemão. Claro que não necessariamente fabricados na Alemanha, mas com um sotaque típico dos carros germânicos. Naquela época, brilharam e falaram alto VW Golf GTI e Golf VR6 (o primeiro feito no México e o segundo vindo diretamente da Alemanha), e os Chevrolet Calibra 16V (também “Made in Germany”) e Tigra (fabricado na Espanha pela Opel). Esses dois últimos podem gerar um tanto de estranheza, afinal eram vendidos pela General Motors do Brasil, uma empresa Norte-Americana, mas, na realidade, ambos eram frutos da Opel, essa sim uma legítima e tradicional fabricante de carros alemã.
VW Golf GTI
Ainda com a velha carroceria MK3, o Golf GTI começou a chegar ao mercado brasileiro no início de 1994, apenas na versão duas portas, trazido do México. De origem alemã, ele vinha como uma opção para aqueles que curtiam carros esportivos da marca, e, até então, só tinham como opção o bom e velho Gol GTI. O Golf GTI tinha a modernidade da disposição transversal do motor, e seu propulsor 2.0 8 válvulas injetado mostrava uma evolução quando comparado ao mesmo 2.0 do Gol esportivo: o cabeçote, ao invés de ter admissão e escapamento pelo mesmo lado, mostrava uma modernidade do fluxo cruzado de gases, sendo a admissão por um lado e o escapamento pelo outro. Uma boa evolução técnica.
Os resultados práticos dessa alteração não eram tão sensíveis assim quando o objetivo era só desempenho: no Golf, ele produzia 116 cv, um valor bem próximo dos 112 cv do Gol GTI da época. O AP-2000 apresentava um torque melhor no Gol (17,5 mkgf, contra 17,3 mkgf do seu irmão maior), mas o Golzinho pesava quase 100 kg a menos, então seu desempenho era bem mais brilhante do que aquele mostrado pelo Golf GTI, que cumpria a prova de 0 a 100 km/h em 11 segundos, atingindo os 186 km/h de velocidade máxima. O Golf GTI era maior, custava mais (cerca de US$28 mil em 1994), tinha o charme de ser um importado, mas perdia em desempenho para o nacional Golzinho. Coisas da vida!
Golf VR6
O Golf GTI 2.8 VR6 foi uma verdadeira obra prima da engenharia alemã. Esse cara foi concebido, nasceu e foi importado da Alemanha, então era um legítimo fruto de Wolfsburg. Chegou por aqui em meados de 1995 e permaneceu no nosso mercado com essa carroceria MK3 até 1996, e, apesar dos dois anos de importação, pouquíssimas unidades vieram para cá (alguns estimam algo em torno de 20 carros). Custava pouco mais de 40 mil Dólares, e era um modelo mecanicamente diferente do GTI 2.0 8V mexicano. Seu propulsor, um seis-cilindros com um V de apenas 15º de inclinação, era quase um 6 em linha, tanto que possuía um único cabeçote.
Na realidade, era um misto de V6 com 6 em linha, uma inteligente elaboração alemã que deixava esse propulsor de 2.8 litros bastante compacto, leve, com uma boa potência de 174 cv e torque máximo ao redor dos 24 mkgf. Disposto transversalmente, esse motor ocupava pouco espaço e trabalhava em conjunto com uma transmissão manual de 5 marchas. Acelerava de 0 a 100 km/h em 7,8 segundos, chegando aos 224 km/h de velocidade máxima. Um belíssimo e respeitável canhão.
Raridade no Brasil desde quando era novo, esse Golf GTI VR6 da geração MK3 é um sonho de muitos entusiastas país afora. Uma unidade em perfeito estado, hoje em dia, vale algo em torno dos R$250 mil, mas, não se preocupe: a grande maioria (senão todos) está em impecável estado, afinal seus proprietários sabem da joia que tem em mãos, tanto em primor de engenharia quanto em preço. Além disso, praticamente todos devem ser integrantes de coleções espalhadas pelo território nacional. Mais do que merecido.
GM Calibra
Os simplistas classificam o Calibra como um Vectra GSi “metido a besta”. Já quem é mais purista ou entusiasta, pensa diferente: ele é um Vectra evoluído em aerodinâmica e design, se transformando em um esportivo de destaque da Opel. Na realidade, o Calibra continha toda a mecânica do tal Vectra GSi (direção, transmissão, motor, suspensões, freios, entre outros), e linhas bem mais atraentes que o seu irmão sedan, vendido aqui no Brasil pela Chevrolet. Como um dos integrantes do time de design do Calibra, podemos destacar Carlos Barba, um mexicano que dirigiu o centro de estilo da Chevrolet no Brasil por muitos anos. Das pranchetas de Barba, saíram os Chevrolet Agile, Onix (de primeira geração), Prisma (o sedan do Celta e o sedan do Onix), Cobalt, Spin, Montana de segunda geração, além de diversas reestilizações de design de outros modelos.
Sob seu capô, o Calibra ostentava o resistente propulsor 2.0 16V que gerava confiáveis 150 cv de potência máxima. Bem no estilo alemão. No restante da mecânica, tudo aquilo que existia por baixo do Vectra GSi: câmbio manual de 5 marchas com relações curtas, suspensões dianteiras independentes (traseiras com eixo de torção), freios a disco nas quatro rodas com ABS, e por aí vai. Uma belíssima mecânica que proporcionava ao Calibra um desempenho ligeiramente melhor que do seu irmão sedan: 0 a 100 km/h em 8,5 segundos e velocidade máxima de 221 km/h (o coeficiente aerodinâmico de baixos 0,26 também ajudava bastante).
Mas ele era caro. Em meados de 1993, quando foi lançado no mercado nacional, ele custava algo em torno dos US$50 mil e, por isso, acabou comercializando cerca de 1.560 unidades durante sua passagem de três anos pelo Brasil. Eles estão cada vez mais cobiçados, e os sobreviventes das modificações estéticas e mecânicas são mais do que valorizados pelos amantes noventistas e colecionadores dos dias de hoje.
Chevrolet Tigra
O Tigra era um carrinho interessante. Assim como o Calibra utilizava toda a mecânica e componentes principais do Vectra, o Tigra fazia o mesmo com o Corsa GSi, do qual herdou toda a base mecânica, além do interior completo (painel, instrumentação, volante, bancos etc.). Mas ele tinha um ingrediente que o tornava bem atraente: seu preço de apenas 22 mil Dólares em 1998, o ano de seu lançamento no mercado brasileiro.
Trazido da Espanha e com um visual esportivo interessante, ele era um legítimo Opel, e seu desempenho, apesar do pequeno motor 1.6 de 16 válvulas e 100 cv, era destacável. Acelerava até os 100 km/h em 10,4 segundos, beirando os 200 km/h de velocidade máxima, também graças a apurada aerodinâmica e área frontal reduzida. O Tigra foi oferecido no Brasil somente em dois anos (1998 e 1999), tempo que aproximadamente 2.650 carros foram vendidos. Hoje ele não chega a ter o público de fãs do Calibra, por exemplo, mas ainda cativa alguns corações de quem curte modelos diferentes, raros e exóticos (e porque não esportivos).
Na próxima quinzena, ainda seguindo essa interessante linha dos esportivos dos anos 90, vamos falar dos representantes italianos que foram oferecidos por aqui, que deixaram saudades naquele pessoal que aprecia a união de design e desempenho. Não perca!
Douglas Mendonça é jornalista na área automobilística há 46 anos.
Trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e foi diretor de redação da revista Motor Show até 2016. Formado em comunicação pela Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Engenharia Paulista (IEP).
Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e a Mil Quilômetros de Brasília em 2004.
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