Já se vão 50 anos do dia 10 de setembro de 1972, quando Emerson Fittipaldi cruzou a linha de chegada do Grande Prêmio de Monza, na Itália, em primeiro lugar. Com essa vitória, histórica, diga-se de passagem, Rato, como era carinhosamente chamado pelos amigos, foi o primeiro piloto brasileiro a vencer o campeonato mundial de Fórmula 1. O evento já era realizado desde 1950.
Na ocasião, Emerson pilotava um Lotus 72D, patrocinado pela marca de cigarros John Player Special, um dos carros da F1 mais bonitos que já foram feitos. O carro era preto com seus detalhes e letras pintados na cor dourada, e seu perfil, revolucionário para a época, era em formato de cunha. Tinha frente bem estreita e fina, que ia se alargando ao longo do perfil do carro. Era a aerodinâmica pura, em uma época que os demais Fórmula 1 eram, quase todos, no estilo “charutinho”, com radiadores frontais e perfil arredondado.
Mas, Colin Chapman, dono da equipe Lotus e projetista dos carros, era engenheiro aeronáutico, e pensava em seus carros sempre no formato de aviões, com a aerodinâmica mais eficiente possível para seu tempo. Pois foi esse carro revolucionário em seu formato e suas linhas que deram ao brasileiro Fittipaldi seu primeiro campeonato mundial de F1 em 1972, que ele voltaria a vencer dois anos mais tarde, tornando-se assim o primeiro brasileiro bicampeão da categoria.
Uma carreira brilhante com a equipe brasileira
Emerson Fittipaldi também foi o precursor em uma equipe de Fórmula 1 totalmente nacional: o FD01 foi totalmente desenvolvido e produzido no Brasil pelo saudoso projetista Ricardo Divila. Emerson, no início de sua carreira, abandonou a equipe McLaren para se aventurar na Copersucar-Fittipaldi, nome que batizava a equipe brasileira, em 1976.
Mas, um dos grandes feitos do nosso herói, foi mesmo seu primeiro campeonato em 1972, que aniversaria agora. Lá, na Itália, ele lutou com grandes nomes do automobilismo mundial, e consagrou-se campeão. Certamente, Emerson abriu as portas do automobilismo mundial para inúmeros pilotos brasileiros que se aventuraram nas corridas internacionais aonde quer que fosse o circuito.
O Lotus 72D preto que Fittipaldi guiou naquele 10 de setembro, foi guardado com carinho pela família do projetista Chapman, que também era o proprietário do carro/equipe. E, nesse mesmo 10 de setembro de 2022, 50 anos depois do grande evento em Monza, Clive Chapman (filho de Colin) cedeu o carro para que Emerson pudesse dar uma volta no mesmo circuito, logo antes do treino classificatório de sábado, e outra no domingo, antes do GP de Monza desse ano.
Emerson Fittipaldi, hoje com quase 76 anos de idade, vai poder reviver um pouquinho da emoção que viveu há meio-século, quando, com 25 anos (o campeão mais jovem da F1 até então), venceu o GP da Itália, seu primeiro grande campeonato. O Lotus que ele vai pilotar, e já pilotou, tem chassi tubular com freios inboard, enquanto seu motor é um Ford-Cosworth DFV (Double Four Valves) V8 de 3.0 litros, fabricado pela inglesa Cosworth, aqui bancada pela Ford, o que explica seu nome. Desenvolvia 480 cv a 10.500 rpm, um assombro para a época. 160 cv/litro de potência específica!
Era tão bom que apenas algumas equipes não o utilizavam: a inglesa BRM (British Racing Motors), Ferrari (que também fornecia para a Tecno) e Matra. No restante, todas tinham o mesmo DFV, fundido em alumínio por completo com dois comandos de válvulas por cabeçote e quatro válvulas por cilindro. Uma verdadeira joia em se tratando de motor, enquanto a transmissão manual é fornecida pela Hewland, com cinco velocidades e que permite a troca da relação de cada uma delas.
Os pneus, já do tipo slick, totalmente lisos, tinham construção ainda diagonal. Os radiais ainda não estavam na Fórmula 1, por questões de regulamento. Seus freios, de alta potência pelas altas velocidades atingidas pelo carro, tem discos ventilados nas quatro rodas, com diâmetro maior na dianteira, como de costume. Suspensões independentes nas quatro rodas, para reduzir as massas não suspensas, são totalmente feitas em alumínio, assim como as rodas.
Por dentro, no interior do cockpit, as trocas de marchas ainda são feitas em uma pequena alavanca do lado direito, com a mão do piloto mesmo, no velho e bom sistema manual. Sua instrumentação contém apenas o conta-giros e marcador de temperaturas do óleo e água, além de luzes de advertência caso alguma coisa esteja fora do normal. Ao contrário de hoje, o índice de quebra era altíssimo, ou seja, era comum até dez carros quebrados por prova.
Ah, e no volante pequeno, nenhuma assistência elétrica ou hidráulica de direção, no melhor estilo pinhão e cremalheira. Tudo acontecia com a força do piloto, que terminava as corridas exausto, bem diferente dos carros atuais, onde a eletrônica, hidráulica e elétrica fazem uma boa parte do “serviço pesado”.
Primeira de muitas conquistas
Emerson precisou de 1 hora, 29 minutos e 58 segundos, e também 55 voltas, para sagrar-se campeão mundial de 1972. Depois de largar na sexta posição, obtida nos treinos classificatórios, ele fez uma corrida de mestre, ultrapassando um a um seus concorrentes, até liderar a prova e receber a bandeirada em primeiro lugar. Esse foi só o início de uma carreira internacional brilhante, que culminou com outro campeonato mundial da F1 de 1974, dois vices-campeonatos em 1973 e 1975.
Ainda chegou a fazer um segundo lugar com a equipe brasileira Copersucar-Fittipaldi, depois migrando para o mercado norte-americano, que, já na Fórmula Indy, foi campeão em uma temporada: 1989 (aliás, o primeiro não americano a vencer o campeonato). Depois, em outras duas oportunidades, a hoje trilionária e consagrada 500 Milhas de Indianápolis: também em 1989 e 1993.
Lá, nas 500 Milhas, passou a ter ainda mais respeito mundial e reconhecimento no automobilismo esportivo. Ser bi-campeão na Europa com a Fórmula 1 e bi-campeão nos EUA com a Fórmula Indy não é para qualquer um! Assim, nosso bi-campeão hoje monitora a carreira do filho Emmo Fittipaldi.