Luiz Otávio Masiero sempre sonhou em ter um Opala diferente daqueles que via pela rua. O interessante é que ele tem 37 anos de idade, e tinha apenas seis quando o último Opala saiu da linha de montagem. Mesmo assim, o cara é apaixonado pelo sedan da GM, e já teve outros, mas, quando viu esse atual, foi paixão a primeira vista: esse é o Opala que ele sempre sonhou em ter.
Se formos lembrar que o modelo foi apresentado ao público pela primeira vez no Salão do Automóvel de 1968, e tinha uma carroceria totalmente baseada no Opel Rekord alemão de meados dos anos 60, é fácil pensar que Luiz Otávio não estava nem nos projetos de seus pais enquanto o Opalão já era sonho de consumo dos brasileiros. Seu nome, Opala, dizem, não era exatamente uma referência a pedra brasileira semi-preciosa, mas sim a união das palavras “Opel” e “Impala”. Explico abaixo.
O Opala tem uma história interessante: era um carro lançado pela Opel na Europa, com motor 1.7 de parcos 60 cv e, quando foi pensado pela GM para o Brasil, logo veio como sedan de quatro portas com todas as medidas da carroceria em sistema métrico (suspensão, direção, freios, tudo em milímetros), enquanto sua mecânica era semelhante aquela do Impala nos EUA, ou seja, medida em polegadas (motor, câmbio, cardã e eixo traseiro em pol.). O mecânico que quisesse trabalhar nos primeiros Opala precisava ter dois jogos de ferramentas, um para a carroceria e outro para o trem de força.
Mas o carro caiu bem no mercado nacional, e desde 1968 foi fabricado sem interrupção até 1992, por cerca de 24 anos, cedendo espaço ao Omega. Teve inúmeras versões e vários tipos de carroceria, inclusive station, e essa longevidade com inúmeras qualidades do projeto fizeram dele um dos mais queridinhos da história da nossa indústria automotiva. Por essas e outras, angaria milhares de fãs até hoje.
Dentre eles, Luiz Otávio, que encontrou esse Opala azul, tema da nossa matéria, num anúncio da internet. Ele, morando em Sorocaba, descobriu que o carro estava há mais de 420 km de distância, lá na cidade de José Bonifácio, em São Paulo mesmo. Falou com o proprietário, que logo se adiantou dizendo que o carro tinha vários outros interessados, mas, como o amor não tem fronteiras, Luiz caiu na estrada logo depois para não perder o negócio. Ele viu o anúncio as 23h, e as 02h da madrugada já estava viajando pra lá, onde chegou na manhã seguinte, antes de todos os outros tais “interessados”.
Pechincha daqui, negocia de lá, e negócio fechado! Trouxe, no mesmo dia, o carro para Sorocaba, provando que o amor nesses casos fala mais alto. Mas, o que ele comprou? Qual era a enorme vantagem desse Opalão em específico? Vamos ver…
Raro, esse sedan foi vendido em dezembro de 1991 já como linha 1992. Ao contrário da grande maioria, que era da versão Diplomata topo de linha, o carro que ele achou era um Comodoro equipado, de fábrica, com o motor 250 (4.1), seis cilindros em linha, e câmbio manual de 5 marchas (a rara caixa Clark CL2205B), que era a grande novidade da linha 1992 e só existiu nela. Como o Comodoro e Diplomata, na época, tinham preços próximos, a maioria partia logo para o mais completo, ainda mais falando de um carro que estava em final de ciclo.
O Diplomata já tinha bancos em couro, câmbio automático e por aí vai, fora o motor 4.1 de série. Poucas unidades saíram nessa configuração específica do carro de Luiz Otávio, e menos ainda estão em condições como as do carro dele: ótimo estado, com pouco mais de 70 mil km originais, manual do proprietário e chave reserva, carroceria íntegra, pintura original etc.
O dono anterior, que comprou o carro de uma loja focada em modelos especiais localizada em Curitiba, não estava muito satisfeito com o quão original o carro estava: começou a mexer, principalmente na mecânica, para ficar do jeito que ele queria. Seu 4.1 subiu para 4.400 cm³ e passou a beber só álcool, graças a troca dos pistões originais por outros de 101,6 mm (4 pol.) com cabeça plana, mantendo bielas e virabrequim.
O cabeçote foi totalmente retrabalhado e polido, com as válvulas de admissão e escape aumentadas no diâmetro, para que o motor pudesse trabalhar melhor nas altas rotações. Eixo comando de válvulas e balanceiros foram substituídos por um conjunto importado dos EUA, também focando nas altas rotações. Na admissão, o velho e confiável carburador, junto do coletor de admissão, cederam lugar a seis cornetas de 48 mm cada, com alimentação feita por injeção eletrônica Fueltech de última geração, modelo 450. Ela comanda, inclusive, o novo sistema de ignição eletrônica com três bobinas duplas.
Com isso, estima-se que o Opala tenha algo ao redor dos 300 cv de potência, que ainda não foi aferida no dinamômetro. O sistema de escapamento também mudou: coletores de escape ganharam confecção especial em aço inox, até o meio do carro, e a saída mudou para a lateral, de forma direta. Mas isso deve mudar: como o Luiz Otávio já é pai e casado, o Opala fica tão barulhento assim (sem silenciador e com saída lateral esquerda), que não permite um passeio tranquilo de final de semana, ainda mais com uma criança dentro. A ideia é voltar a saída para a traseira, com um silenciador em inox no caminho.
A transmissão Clark de cinco marchas foi outra surpresa: apesar de ser original do conjunto, a caixa foi totalmente desmontada e suas engrenagens passaram por processo de forja para suportar o torque e potência do novo motor 4.4 preparado. E, claro, isso tornou o câmbio mais barulhento e “chorão”, como preferem alguns, mas ganhando maior resistência e solidez.
E, na mesma linha de robustez, o eixo traseiro é um Braseixos com relação coroa/pinhão bem longa, adequado a um nível baixo de ruído e a economia de combustível. Nos planos do Luiz Otávio está a troca por um Dana, mais curto, para melhorar ainda mais as arrancadas do Opalão. Externamente, o Comodoro especial 4.4 trocou apenas as rodas aro 15 (popularmente apelidadas de “ralinho” pelo seu desenho raiado, lembrando um ralo de banheiro), por um conjunto 17” com o mesmo desenho das rodas do Diplomata 1992, mas com duas polegadas a mais no diâmetro, e pneus 225/45.
O interior está praticamente original, com direito aos bancos e laterais de porta em tecido aveludado, volante de três raios com a grafia “Comodoro SL/E”, comandos do ar-condicionado originais, relógio digital no painel, e inclusive o rádio toca-fitas de fábrica, um Chevrolet Andara. Destaque apenas para a tela touch da injeção Fueltech que informa os parâmetros do carro e permite configurar o sistema de alimentação e ignição, nesse caso fixada na frente do painel de instrumentos original.
Por fim, suas molas e amortecedores são originais, mas o conjunto foi ligeiramente rebaixado para melhorar a estabilidade do carro em altas velocidades. Segundo Otávio, apesar da dinâmica mais apurada, ele optou por manter o conforto ao rodar, marca registrada do luxuoso Opala.
Muitos de vocês devem estar pensando: “quanto vale um carro desses?”. Segundo algumas fontes, um Comodoro SL/E 250 com câmbio manual de cinco marchas, nessa mesma configuração do carro do Luiz Otávio, deve valer algo ao redor dos R$80 a 100 mil. Seguramente, nessa preparação feita pelo antigo dono do carro (só para lembrar, o Luiz comprou ele exatamente assim, já preparado), devem ter sido gastos mais outros R$50 mil. Por isso, seu atual dono não aceitou nem a última proposta que lhe fizeram: a troca do vistoso Opalão por um VW Nivus Highline 0 km, tabelado em quase R$150 mil.
Qual o preço de um sonho? Como esse carro vai ficar com o Luiz Otávio para todo o sempre, e ele é a concretização do tal sonho de criança, que se transformou nesse monstro de 300 cv, definitivamente não tem preço!
Quem quiser acompanhar o Opalão Comodoro 4400 do Luiz Otávio, o carro tem perfil próprio no Instagram: @opala4400.