O Grande Prêmio da Hungria de 1997 e o (quase) milagre de Damon Hill

 

Em 1996 Damon Hill estava, literalmente, no topo do mundo automobilístico. O britânico, filho do lendário Graham Hill, havia acabado de ter sido coroado campeão mundial de F1 pela, à época, poderosa Williams. No entanto, ao fim da temporada, uma notícia chocou o circo: ele não mais pilotaria pela equipe. Depois de um flerte com as tradicionais Ferrari, McLaren e com as velozes Benetton e Jordan, o defensor do título surpreendeu ainda mais e optou por fechar com a Arrows para 1997. Isso mesmo: o carro de número 1 no grid seria da Arrows.

Até aquele ano, o resultado mais expressivo da pequenina equipe na F1 havia sido uma pole position, conquistada por Riccardo Patrese no longínquo ano de 1981, no GP de Long Beach, EUA. Mas, a promessa de que a flecha decolaria de vez, veio quando Tom Walkinshaw comprou o time em 1996 e, posteriormente, acabou cooptando Hill para o “lado Arrows da Força”. Por questões, principalmente, financeiras – e também por acreditar no projeto – o campeão mundial acabou embarcando na nau.

A confiança de Hill na equipe, porém, acabou rapidamente. Nas oito primeiras etapas da temporada 1997, o britânico não marcou um ponto sequer. Sua melhor colocação foi um medíocre nono lugar no Grande Prêmio do Canadá. Vale lembrar que, à época, apenas os seis primeiros pontuavam.

A partir do GP de Silverstone, contudo, as coisas melhoraram de figura. Damon Hill, jogando em casa, conquistou uma excelente sexta posição e seus primeiros pontinhos no ano. Na Alemanha também não fez feio e, não fosse um erro estratégico, teria novamente figurado entre os seis primeiros colocados. O jogo parecia ter virado, e o ponto culminante foi a corrida seguinte.

Damon Hill (GBR) Arrows A17, 2nd place Formula One World Championship, Hungarian Grand Prix, Rd 11, Budapest, Hungary, 10 August 1997

Em Hungaroring, Hill fez nos treinos classificatórios um espetacular terceiro tempo, ficando atrás apenas da Williams de Jacques Villeneuve e da Ferrari de Michael Schumacher, o pole. Em 10 de agosto, dia do GP, o britânico foi ainda mais brilhante. Já na largada superou, com certa tranquilidade, o canadense. Na sexta volta, depois de muita pressão, ultrapassou Schumi.

Parecia que Hill e Arrows conquistariam uma vitória histórica. O A18, equipado com um modesto motor Yamaha, liderou incríveis 62 das 77 voltas do GP da Hungria. O trabalho do time nos boxes foi primoroso, a pilotagem do britânico remetia aos seus 21 triunfos na F1 entre 1993 e 1996, nos tempos de Williams. Tudo estava perfeito. Hill tinha 35 segundos de vantagem ante Villeneuve, o segundo colocado.

É… Perfeição até demais…

Até aquele momento, a Arrows foi favorecida pela baixa velocidade da pista de Hungaroring, que pouco exigia do hesitante motor Yamaha. O bom projeto do bólido, aliado aos pneus Bridgestone foram determinantes (e muito) para que Hill estivesse superando as Williams e a Ferrari de Schumacher. No entanto, corridas históricas não são corridas históricas sem uma reviravolta mirabolante, não é mesmo?

Faltando duas voltas para o final, quando todos achavam que a Arrows conquistaria sua primeira vitória desde que entrou na categoria, em 1978 (com estreia no GP Brasil daquele ano), tudo mudou. O desempenho do A18 caiu assustadoramente. O entusiasmado comentarista britânico Murray Walker, que havia comentado que “não acreditava no que estava acontecendo diante de seus olhos”, deve ter caído para trás.

Primeiro, todos acharam que o problema era referente ao tanque de gasolina. Falta de combustível, talvez. Todavia, o acelerador eletrônico foi o calcanhar de Aquiles de Hill naquele finalzinho. Villeneuve e sua veloz Williams tiraram, com tranquilidade, os 35 segundos de vantagem da Arrows do então atual campeão mundial. O canadense acabou vencendo a etapa e, pouco tempo depois, o título daquele ano.

Para Hill e Arrows restaram um magnífico segundo lugar. Não houve nem tempo para lamentação. Com aquela performance, piloto e equipe haviam deixado marca indelével na história da Fórmula 1. Jamais esqueceremos.

Foi lindo.

 

 

Fotos: Divulgação

 


 

Marcus Celestino é Jornalista e Cineasta
Já foi repórter do Estado de Minas e do Jornal do Brasil. Também atuou como editor do Auto Papo. Já cobriu os principais salões do automóvel do mundo e zerou, quando criança, todas as versões de Top Gear para Super Nintendo. Atualmente trabalha como analista de dados. Nas horas vagas tenta destronar Lewis Hamilton no modo carreira de F1 2018.

 

 


 

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