O ano mágico da Brawn GP

Grande Prêmio da Bélgica de 2009. Etapa de número 12 daquele ano. Após ter largado na sexta posição, Kimi Räikkönen foi capaz de levar sua Ferrari à vitória. Normal para o Cavallino Rampante, não? Não. Aquela seria a primeira e única vez em que a tradicional equipe italiana ficaria no topo do pódio naquela atípica temporada. A grande decepção do GP de Spa havia sido a performance de um time que liderava o mundial de construtores com certa folga e, com menos de um ano de vida, surpreendia a todos. Era a Brawn GP. Na Bélgica, a Brawn conseguiu marcar apenas dois pontos. Rubens Barrichello — vice-líder do campeonato — largou em quarto, mas terminou em sétimo, com direito a traseira “fumegando” nas últimas voltas e fogo no carro já no parque fechado. Por outro lado, seu companheiro de equipe e líder do mundial, Jenson Button, sequer passou da primeira curva. Ele rodou e acabou se chocando com a Renault de Romain Grosjean. Mas este foi um Grande Prêmio anômalo para a Brawn. A equipe venceu oito das 17 etapas do mundial de 2009.

Na primeira metade do campeonato, a dominância da Brawn GP foi tão absurda que o time ganhou seis das primeiras sete corridas. Na segunda parte do ano a Red Bull, em ascensão, até que ensaiou uma reação, mas nada que pudesse ameaçar o título de construtores e, tampouco, o de pilotos. Button e Barrichello disputaram o campeonato até o Grande Prêmio do Brasil. Em Interlagos, o brasileiro precisava de um milagre. Não conseguiu. Ao fim, o inglês conquistou o mundial e Rubinho ainda foi ultrapassado por Vettel na classificação final, fechando a temporada numa honrosa terceira colocação.

Mas e aí? Como uma equipe que surgiu praticamente “do nada” foi capaz de massacrar tradicionais concorrentes com tanta facilidade?

Apesar de suas origens remontarem a clássica Tyrrell (já falamos sobre o time aqui na coluna), a Brawn GP nasceu dos “restos mortais” da Honda. Em 2008, meio a uma crise sem precedentes, os japoneses decidiram dar cabo no projeto da equipe na Fórmula 1. Não à toa: mesmo com os “rios de dinheiro” gastos pelos nipônicos, o time fez apenas um campeonato medíocre em 2006. Em 2007 e 2008, com o patrocínio da indústria do tabaco em declínio na F1, a Honda perdeu uma grana importante da British American Tobacco e viu seu desempenho despencar na categoria. Pragmáticos, os japoneses optaram por não postergar e, ao fim de 2018, tiraram a tomada do plugue e descontinuaram a equipe.

Com a saída da Honda do circo, centenas de funcionários perderiam seus empregos — entre eles Jenson Button e Rubens Barrichello. Após várias conversas com alguns pretendentes, o espólio dos nipônicos acabou sendo vendido a preço de uma miniatura Hot Wheels para Ross Brawn faltando menos de um mês para o início da temporada. O astuto Brawn já havia sido diretor técnico da própria Honda e tido passagens memoráveis por Benetton e Ferrari. Agora seria dono de equipe. Malandro, manteve as operações do time em Brackley, na Inglaterra.

Apesar de todas as indicações de que nada daria certo, Ross Brawn contava na manga com um super trunfo: o BGP001. O projeto havia sido desenvolvido com o objetivo de ser usado pela Honda em 2009. Os engenheiros, já sabendo que o time teria dificuldades em 2008, começaram a desenvolver o novo carro muito antes das demais equipes. Além disso, viram nas entrelinhas do novo regulamento a possibilidade de aplicar um brilhante difusor duplo, que daria ao carro utilização primorosa do ar na parte traseira. Enquanto isso, os grande times apostaram no KERS a fim de recuperar energia cinética. Deram bobeira.

Além do projeto muito bem engendrado, Ross Brawn descolou motor que não poderia propiciar casamento melhor: o da Mercedes-Benz. Em 6 de março de 2009, a equipe tinha apenas um carro para levar à pista para testes. Jenson Button fez uma checagem dos componentes em Silverstone e apavorou a concorrência. Os rivais ficariam ainda mais assustados nos testes em Jerez, na Espanha, onde a Brawn obliterou o resto do circo. Não à toa, outras equipes começaram a suspeitar de irregularidades no BGP001.

Para os fãs que não acompanhavam com afinco a pré-temporada da F1, o GP da Austrália veio como uma ducha de água fervente. No treino classificatório, Button e Barrichello fizeram uma dobradinha improvável que acabou sendo traduzida para a corrida. O circo estava em choque. Incrédulos entraram com pedidos para que fossem averiguadas quaisquer tipos de irregularidades nos Brawn. Nada foi encontrado.

O difusor duplo aliado ao excelente motor Mercedes impulsionaram a Brawn durante toda a temporada. Os carros da equipe foram constantemente vistos nas primeiras colocações e, por fim, toda a astúcia foi coroada com os títulos de construtores e pilotos. No Brasil, Button e a equipe cantaram como loucos “We Are The Champions”, do Queen. Tudo bem que muita gente no esporte já entoou “We Are The Champions”, mas uma coisa é certa: ninguém, jamais, cantou os versos desta música com tamanha alegria, surpresa e sinceridade.

Ao fim da temporada, o astuto (já comentei sobre a astúcia dele, certo?) Ross Brawn vendeu a equipe para a Mercedes por um preço infinitamente maior do que o de uma miniatura Hot Wheels. Os alemães herdaram, claro, o chassis da Brawn. Com isso, o caminho germânico se tornou muito mais fácil, fazendo com que conquistassem nos anos subsequentes cinco títulos de construtores e cinco de pilotos. Por isso, não podemos esquecer que o sucesso das flechas de prata tem muito a ver com a genialidade de uma equipe que colocou dois carros brancos, quase sem patrocinadores, no grid em 2009.

Assim como o general e cônsul romano Júlio César, a Brawn GP veio, viu e venceu. E, depois de colher os louros, decidiu “descansar”.

 

Rapidinha

Jenson Button jamais teve seu lugar ameaçado na Brawn, mas Rubens Barrichello não pode dizer o mesmo. Com a escassez de patrocinadores, a equipe quase optou por ter como segundo piloto o também brasileiro Bruno Senna. Na avaliação do time, o sobrinho do tricampeão mundial poderia trazer sponsors para ajudar a conter a sangria nos gastos em 2009. Pesou, porém, a experiência de Rubinho e todos os anos de parceria com Ross Brawn na Ferrari.

 

 

Fotos: Divulgação

 


 

Marcus Celestino é Jornalista e Cineasta
Já foi repórter do Estado de Minas e do Jornal do Brasil. Também atuou como editor do Auto Papo. Já cobriu os principais salões do automóvel do mundo e zerou, quando criança, todas as versões de Top Gear para Super Nintendo. Atualmente trabalha como analista de dados. Nas horas vagas tenta destronar Lewis Hamilton no modo carreira de F1 2018.

 

 


 

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