O emprego da elétrica e eletrônica nos automóveis é algo extremamente bem-vindo. Afinal, quanto maior a facilidade no dia a dia, menos desgastante se torna a condução. Nos últimos 40 anos, diversas tecnologias foram incorporadas aos automóveis, desde o simples acionamento elétrico dos vidros, passando pela injeção eletrônica, ABS e sistemas de condução autônoma.
Mas, dependendo do recurso, sempre surge uma resistência. Uma delas foi com o sensor de ré. Sinceramente, não dá mais para viver sem esse recurso engenhoso. Os sensores de ré nada mais são que sensores de ultrassom que calculam a proximidade de um obstáculo. É uma espécie de radar, mas com abrangência bem reduzida.
Lembro da primeira vez que testei um carro com sensor de ré. No primeiro momento parecia ser algo sem muito sentido. Afinal estava condicionado a todo ritual de uma manobra de estacionamento. Controlar pelos retrovisores esterno, torcer a espinha e tudo mais que sempre fizemos.
No entanto, os sinais sonoros estavam muito “sincronizados” com meu condicionamento de proximidade do para-choque do carro atrás. Daí, na segunda manobra, fui apenas pelo som. Deu certo.
De volta à redação, comentei com um diagramador que gostava de carros e se gabava de manobrar, com precisão cirúrgica, um Dodge Charger R/T de seu amigo. “Todo mundo parava para ver eu estacionar”, estufava o peito para descrever sua habilidade de manobrista oficial do Dojão.
Falei sobre o sensor. “Coisa de mulher! Quem sabe dirigir não precisa disso”. Pouco tempo depois, quando os sensores se popularizaram e passaram a ser vendidos em lojas de acessórios, pipocaram carros com quatro bolinhas pretas no para-choque. E comecei a notar que surgiu um certo preconceito: “Olha lá, não sabe fazer baliza!”
Hoje, sabemos que o sensor de ré é uma benção. Assim como câmera de ré (que muita gente fala que tem, mas não usa). E os automóveis com sensores dianteiros ou câmeras 360°? São garantia de que você não irá falhar, ainda que milimetricamente, e arranhar seu para-choque ou atropelar uma criança na saída de uma escola.
Outro recurso que os habilidosos em manobras não gostam de dizer que usam, é o assistente de estacionamento (Park Assist). Um amigo, proprietário de um Tiguan (que foi o pioneiro da tecnologia no Brasil), diz que só usou para exibir para os filhos. “Faço manobras bem melhor que ele”, afirma categórico. Não duvido, mas para muita gente é um alento e pode evitar prejuízos.
Hoje, existe uma resistência a tecnologias de condução autônoma. Mais uma vez porque elas desafiam nosso condicionamento. Modelos como Volvo XC90 impressionam pelo grau de avanço desses recursos.
Mas, é verdade que, para que funcionem, é preciso requisitos como velocidade mínima adequada e sinalização legível das faixas de rodagem (quase uma ficção no Brasil), que acabam fazendo com que esses recursos ainda sejam usados como entretenimento. O sujeito coloca a família e brinca de “sem as mãos”, depois assume o controle novamente.
Vai ver que é por falta de confiança. Eu mesmo tenho minhas dúvidas sobre sistemas de detecção de pedestres. E olha que já testei Volvo S60, que foi o primeiro a utilizar o City Safety, e, mais recentemente, um Mercedes-Benz Classe E, em campos de provas.
Os carros enxergam os manequins e param diante dele. Mas, mesmo assim, isso não significa que podemos dirigir o mercedão de forma negligente. O sistema serve para atuar quando nossa percepção falha e nosso condicionamento não pode responder a tempo. Afinal, sempre é melhor prevenir do que remediar.
E vida que segue!