Maverick no Brasil: Uma opereta que deixou saudades

O Maverick vai voltar, mas como SUV. Sim, como SUV. A Ford ressuscitará o nome para batizar o projeto CX430. Construído sobre a plataforma global “C” — a mesma do Focus —,  o utilitário disputará espaço com o Jeep Compass Trailhawk. Ele será montado no México e pode chegar ao mercado brasileiro em 2020. A fabricante, todavia, não confirma.

Você curtiria ter um Maveco SUV em casa? Prefere um Mavecão raiz? A história do Maverick no Brasil é breve, quase uma opereta, mas o pony car é cultuado até hoje por aqui. Pegando carona no possível retorno do nome famoso às lojas, decidimos contar a saga deste clássico em nosso país.

300x250

 

Gênesis

No início da década de 1970, a Ford procurava um carro para preencher lacuna importante em sua linha no Brasil. O veículo teria de ficar posicionado entre o popular Corcel e o luxuoso Galaxie. A fabricante fez algumas clínicas com compradores em potencial a fim de encontrar o produto ideal para o nosso mercado. Entre o britânico Cortina, o alemão Taunus — que inspirou as linhas do Del Rey — e o norte-americano Maverick, a Ford acabou optando pelo último. A produção do pony no Brasil teve início em 1973, na fábrica de São Bernardo do Campo, em São Paulo.

Opções

À época do lançamento, o Maverick contava apenas com a opção cupê de duas portas, alvo de críticas por conta da típica configuração 2 + 2. Quanto ao motor, a fabricante escolheu o de seis cilindros em linha que equipava o Aero Willys, descontinuado no ano anterior. Também oferecia o veículo com motor V8 5.0, de 197cv, compartilhado com o Mustang. Ambos casavam com transmissão manual de quatro marchas ou câmbio automático de três velocidades com comando na coluna de direção. O Maveco era vendido nas versões Super, Super Luxo e GT. Vale lembrar que a GT, com câmbio manual e motor V8, tinha produção limitada.

Resolvendo os galhos

A Ford fez algumas modificações no Maverick ainda no ano em que o carro foi para as lojas. Para atender aos que reclamaram do espaço interno, especialmente para os ocupantes do banco traseiro, a fabricante passou a oferecer um quatro portas. Com maior entre-eixos, prometia maior facilidade para dar aquela esticada nas pernas.

Outra mudança ocorreu dois anos depois. Em 1975, foi adotado o novo motor 2.3, produzido em Taubaté, São Paulo, em detrimento do V6. O novo e mais econômico propulsor, quatro cilindros  com comando de válvulas no cabeçote, entregava 99cv. Pouco tempo depois também passou a servir de opção para a versão GT. No entanto, o V8 ainda seguiu como alternativa. De acordo com a fabricante, a nova oferta de motor veio por conta da crise do petróleo, período em que consumidores passaram a olhar com mais carinho para o consumo de combustível dos automóveis.

Nas pistas

A história do Maverick no Brasil deu um guinada por causa das pistas. Grandes nomes do automobilismo, como José Carlos Pace, guiaram a fera em provas de arrancada e no Campeonato Brasileiro de Turismo. O Maveco conquistou inúmeras vitórias Brasil afora, com destaque para as 25 Horas de Interlagos de 1973 e 1975. Em 1973 o veículo vencedor foi guiado pelos irmãos Nilson e Bird Clemente e por Clóvis de Moraes. Na segunda posição veio o Chevrolet Opala do trio Bob Sharp/ José Carlos Ramos/ Jean Balder. Completou o pódio mais um Maverick, pilotado por Luiz Landi, Antônio Castro Prado e pelo grande Chico Landi, já com seus 66 anos.

O grande responsável pelas performances do Maverick nas pistas era Luiz Antônio Greco. Sua empresa desenvolveu pacote hoje considerado lendário para o pony. O Maverick Quadrijet contava com carburador de corpo quádruplo (daí o nome do pacote) da Holley, coletor em alumínio Edelbrook e comando de válvulas Iskenderian. A taxa de compressão foi elevada para 8,1:1 graças aos tuchos sólidos nos cabeçotes e as molas de válvulas duplas. Com tais melhorias houve ganho considerável de potência. Se antes entregava 197cv, o V8 passou a gerar 257cv. Foi com estes ajustes que José Carlos Pace, Paulo Gomes e Bob Sharp triunfaram nas 25 Horas de 1975.

Segundo Bob, em conversa com a Quatro Rodas no ano passado, estar ao volante de um Maverick Quadrijet é quase como estar ao volante de um Nascar. A publicação chegou a testar o modelo, cedido por Chico Landi. “Era preciso habilidade para arrancar e não ficar parado com as rodas patinando, soltando fumaça. Fazia no máximo 6,5km/l de gasolina azul na estrada, mas no teste caiu para 2,2km/l”, recordou o Mestre Emílio Camanzi, então editor executivo da revista.

Na avaliação da Quatro Rodas, o Maveco Quadrijet foi de 0 a 100km/h em 7,8 segundos e atingiu os 200km/h. Imagina dar um rolê com um desses na rua?

Pior que você podia.

A própria Ford passou a oferecer o pacote em sua rede de concessionárias. Todos os Maverick V8 podiam receber o kit.

Frigir dos ovos

O Maverick acabou saindo de linha em 1979. Entre o seu primeiro ano de vendas e o último somou 108.106 unidades comercializadas em todo o Brasil. Até hoje o pony é cobiçado. Modelos em bom estado podem ser vendidos, dependendo do índice de originalidade, por mais de R$ 100 mil. Só no Estado de São Paulo, de acordo com Detran-SP, mais de 7 mil Mavericks estão registrados e ainda circulam numa boa. Será que os donos dessas feras as trocariam por um SUV de mesmo nome? Eu, particularmente, acho improvável.

 

Fotos:  Divulgação Ford

 


Marcus Celestino é Jornalista e Cineasta
Já foi repórter do Estado de Minas e do Jornal do Brasil. Também atuou como editor do Auto Papo. Já cobriu os principais salões do automóvel do mundo e zerou, quando criança, todas as versões de Top Gear para Super Nintendo. Atualmente trabalha como analista de dados. Nas horas vagas tenta destronar Lewis Hamilton no modo carreira de F1 2018.

 


 

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Ver comentários (1)

  • É incorreto o comentário "Em 1975, foi adotado o novo motor 2.3, produzido em Taubaté, São Paulo, em detrimento do V6". O Maverick nunca teve motor V6. Era um 6 cil em linha herdado do Itamaraty, depois de reformulado nos EUA.

Postagem Relacionada