O seriado “The Walking Dead” é um fenômeno mundial que vem se arrastando por oito temporadas. Inclusive, o último capitulo da oitava será exibido no domingo (16). A história de um patógeno que desencadeou um apocalipse zumbi, por si só já é insólita. Afinal, defuntos comedores de gente é realidade na mente brilhante do saudoso George Romero e do autor da série Robert Kirkman. No entanto, há algo tão ou mais duvidoso que zumbis: os carros de the Walking Dead.
Como telespectador assíduo do seriado, é possível afirmar que, cronologicamente, as oito temporadas contemplam algo entre quatro e cinco anos, se considerarmos a gravidez da finada Lory e a atual idade de sua filha Judith, que beira os três aninhos, mesmo que o metabolismo Chandler Riggs (intérprete de Carl) não seja compatível com a ampulheta da série.
Sendo assim, se a coisa fedeu há cerca de quatro anos, dificilmente um automóvel continuaria em funcionamento depois de tanto tempo sem manutenção e reposição de itens de desgaste ou fluidos, como a própria gasolina. Mas a turma de Rick Grimes e do vilão Negan dirigem para cima e para baixo em seus carros empoeirados e sujos de gosma zumbi, o que seria praticamente impossível.
De acordo com a série, os sobreviventes voltam à Idade da Pedra e sobrevivem como nômades ou em pequenos assentamentos vulneráveis. Se não conseguem nem plantar direito, é de se imaginar que extrair petróleo e refinar gasolina seja ficção científica.
Goma
O amigo pode até argumentar que os sobreviventes recolhem gasolina dos carros abandonados. Pode ser, mas acontece que a gasolina é bastante perecível. Para se ter uma ideia, a gasolina comum tem validade de aproximadamente três meses. Depois disso, tende a se tornar uma goma. As gasolinas mais sofisticadas, de alta octanagem e aditivos, sobrevivem por até 10 meses. Assim, não haveria mais gasolina disponível para as andanças de Rick e sua turma. Em condições de armazenamento sem exposição a luz e oxigênio, como nos reservatórios dos postos, a gasolina suportaria seis e dezoito meses, na ordem. Ou seja, não haveria mais uma gota disponível.
Lubrificante
Se não existem postos de gasolina, também não há trocas de óleo no mundo devastado de “The Walking Dead”. Todo mundo que tem carro sabe muito bem que o lubrificante deve ser trocado aos 5 mil quilômetros ou seis meses (caso o óleo seja mineral). No caso dos lubrificantes sintéticos, a vida útil sobe para 10 mil quilômetros ou 12 meses. Óleo velho tende a aumentar sua viscosidade e se transformar numa espécie de graxa.
Essa graxa entope os dutos do bloco, o que obstrui a lubrificação. Isso eleva a temperatura do motor até a fundição. Assim, nenhum motor do seriado estaria apto a rodar.
Pneus
A vida útil de um pneu é de aproximadamente cinco anos. Depois disso, o composto de borracha tende a se ressecar e deteriorar. Assim, os últimos pneus fabricados dias antes do apocalipse estão quase no fim de sua vida útil. Isso sem contar o fato de que não há calibradores em funcionamento.
Bateria
É bem verdade que é possível fazer um carro funcionar mesmo com a bateria sem carga, pegando no tranco. Acontece que a grande a maioria dos carros de “The Walking Dead” estão sem rodar há muitos meses. Assim, as baterias já arriaram, colaram as placas e dificilmente voltariam a funcionar. As velas também teriam oxidado, o que tornaria impossível gerar centelha. Talvez um automóvel com motor diesel tivesse mais sorte, pois não depende de velas para funcionar.
Diante disso, um automóvel funcionar em “The Walking Dead” é tão absurdo quanto um cadáver se levantar e sair por aí para mastigar as pessoas. Para Rick e seus companheiros, pouco importa. Mas, para o amigo leitor, é bom ficar atento com a validade do óleo, assim como a gasolina velha no tanquinho de partida a frio, se a bateria está dando sinais que vai arriar de vez, além de correia, mangueiras, estado de conservação dos pneus.
Afinal, na vida real, a falta de manutenção pode levar a uma fatalidade. E, nesse caso, ninguém se levanta após bater as botas!
Fonte das fotos: Reprodução/AMC
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Marcelo Iglesias Ramos é Jornalista e Designer Gráfico.
Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).
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