Teste Renault Kwid E-Tech 2022 – Os carros elétricos já começaram a fazer parte da nossa paisagem. E a médio prazo deverão ficar mais acessíveis. Mas como é ter um carro elétrico no dia a dia no lugar de um a combustão que estamos acostumados? Pensando nisso, resolvemos fazer um teste maior. Ficamos com um Renault Kwid E-Tech, o elétrico menos caro do nosso mercado, por 24 dias, como se fosse o único carro. Quer saber como foi? Então me acompanha.
Bom, pra começar, poder recarregar a bateria do Kwid na garagem em uma tomada 220 volts aterrada, como se fosse um celular durante a noite, e não ter que ir ao posto pra reabastecer, é muito legal. Só não pode assustar com a conta de luz. Afinal o preço da energia usada pra se locomover, vai vir nela.
Mas como você deixou de abastecer com gasolina ou etanol, ao fazer as contas vai ver que economizou bastante. Como vou te contar mais pra frente. Antes vou mostrar no que o Kwid E-Tech difere da versão a combustão.
Importado da China, apesar do E-Tech ter uma configuração própria, excluindo a mecânica é praticamente igual ao Kwid Outsider flex que conhecemos. A falsa grade tem o mesmo formato, mas com um leiaute diferente e esconde as tomadas para recarga. De lado, a faixa tem o logo E-Tech e as rodas, com calotas diferentes, tem quatro parafusos em função do maior torque do motor. Atrás, além do logotipo E-Tech, o para-choque tem um desenho diferente e lanterna de neblina.
Dentro as semelhanças continuam. O plástico predomina, não tem superfícies macias ao toque nem nos apoios de braço e o revestimento dos bancos, em couro sintético e tecido é igual. Entretanto, como no Kwid a combustão, tem bom aspecto e arremates corretos. O painel é igual, inclusive a boa multimídia de 7 polegadas, porém ainda com cabo dependurado pra espelhar celular e apenas uma porta USB. As diferenças ficam por conta do botão rotativo no console no lugar da alavanca de câmbio, volante e do quadro de instrumentos, que tem o mesmo formato e leiaute, porém com as informações para um carro elétrico.
Do lado esquerdo barras indicam o quanto se está usando de energia ao acelerar, ou de recarga ao desacelerar e frear. Do lado direito, o indicador da marcha engatada e um indicador do nível de carga da bateria, como se fosse o de um tanque de combustível. No centro, um mostrador com velocímetro digital, porcentagem de carga da bateria, computador de bordo e que, ao conectar o Kwid na tomada, informa o tempo de recarga para 80 e 100 por cento da capacidade da bateria. Simples, mas muito intuitivo, o que facilita a vida do motorista.
O espaço interno é igual. Mas por causa de seu maior peso em relação ao Kwid normal e para não prejudicar autonomia com mais carga, só leva quatro.
Kwid Outsider 825 kg
Kwid E-Tech 977 kg
Na frente é razoável, atrás duas pessoas vão relativamente bem. O porta-malas também é igual com bons 290 litros.
Capacidade do porta-malas: 290 litros
Mas o cabo portátil de recarga e o macaco roubam espaço.
No quesito segurança ele é um pouco melhor. Nada de excepcional. Tem os mesmos controles de tração, estabilidade e auxiliar de partida em rampa. Mas vem com seis airbags em vez dos quatro do Kwid nacional. Pelo que custa poderia ter mais, como um sensor de ponto cego e alerta de colisão com frenagem autônoma.
Kwid E-Tech R$ 146.990
(janeiro 2023)
Agora vamos ver como é a mecânica. O Kwid E-Tech é equipado com um único motor elétrico de 65 cavalos de potência e 11,5 kgfm de torque.
Motor elétrico
Potência (48 kW) 65 cv
Potência em ECO (33 kW) 45 cv
Torque 11,5 kgfm
Tem dois modos de condução, o normal e o ECO, quando diminui a potência mas aumenta a autonomia. Não tem câmbio, apenas uma transmissão com uma marcha a frente e outra a ré, além de ponto morto, comandada por botão rotativo. A tração é dianteira e a bateria tem uma capacidade de 26,8 kWh.
Bateria de íon-lítio 26,8 kWh
(garantia 8 anos)
Um conjunto simples e eficiente e que vai ajudar a fazer economia, já que, por exemplo, não vai precisar trocar óleo, filtro de óleo, filtro de ar e correias, como em um motor a combustão.
E a autonomia? Segundo a Renault é de 298 km no ciclo urbano.
Autonomia
298 km na cidade
265 km uso misto
(norma SAE J1634)
Porém, sempre que recarregamos o carro, com 100%, a autonomia indicada nunca passou de 242 quilômetros. Mas foi suficiente para rodar em média 30 a 40 km por dia e só reabastecendo uma vez por semana na garagem. E sem deixar a bateria baixar de 20 por cento de carga. É que rodando, ao tirar o pé do acelerador e freando, principalmente no modo ECO, o motor elétrico passa a trabalhar como alternador recarregando a bateria. E os freios regenerativos também ajudam a recarregar. Aliás, por falar em recarga, na tomada comum de 220 Volts e 10 Amperes, leva 9 horas para completar de 15 a 80%. Para chegar a 100%, mais umas duas horas. Esse tempo pode diminuir bastante em eletropostos, disponíveis em vários lugares, como shoppings por exemplo, e com a vantagem de a grande maioria ainda não cobrar pela energia. Aí dá pra economizar mais.
Tempo de recarga (de 15% a 80%)
Carregador portátil 220V 10A – 8h57
Wallbox AC 7,4 kW – 2h54
Carga rápida em ponto DC 30 kW – 40 min
Tem até aplicativos, como o Mobilize Charge Pass, que mostra onde tem esses postos no Brasil inteiro, se estão funcionando, que tipo de tomada tem e até se estão ocupados. Detalhe importante que permite que você programe seus deslocamentos com mais tranquilidade.
Agora vou te falar como anda o E-Tech. Em praticamente 95% do tempo que rodei com o ele foi no modo ECO, que libera menos potência e gasta menos energia, porém a regeneração da bateria é mais intensa permitindo uma maior autonomia. E não tive problema nenhum em acompanhar o trânsito. Mesmo porque, caso seja necessário, ao pisar fundo usando o kick-down, ele libera a potência máxima e faz os 0 a 50 por hora no mesmo tempo.
Desempenho
0 a 50 km/h 4,1 s
0 a 100 km/h 14,6 s
E você arranca na frente de todo mundo com o torque imediato. Só usei o modo normal, quando o Kwid E-Tech pode chegar aos 130 por hora, na estrada com limite de 110, já que no ECO ele não passa de 100.
Velocidade máxima
Modo ECO 100 km/h
Modo normal 130 km/h
E Tem outra vantagem ao usar o modo ECO. Como o motor passa a segurar mais o carro, devido à maior regeneração, você usa menos o freio. Resultado: gasta bem menos as pastilhas e lonas.
Mas tá na hora de falar do consumo. Esse foi o grande momento. Em nosso circuito cidade/estrada, fez uma média de 0,125 kWh/km. Como o kWh estava custando aqui em Belo Horizonte 74,5 centavos, o custo por quilômetro rodado foi de apenas 9,3 centavos. Se comparado ao Kwid Intense 1.0 que testamos no mesmo circuito e que fez uma média de 16,1 km/l de gasolina, ao custo médio de R$ 4,79 na nossa região, se gastaria 29,7 centavos por quilômetro.
Consumo médio (nosso circuito cidade estrada)
Kwid E-Tech
0,125 kWh/km = R$ 0,093/km
Kwid Intense 1.0
16,1 km/l (gasolina) = R$ 0,297/km
Ou seja, com o elétrico o custo é de 20,4 centavos a menos.
Diferença custo/km rodado: – R$ 0,204
Nada mal, né? Apesar da boa altura do solo, ótima para nosso dia a dia com lombadas, graças ao baixo centro de gravidade por causa da bateria no assoalho, faz curvas com competência.
Altura livre do solo: 16,6 cm
Mas o E-Tech tem ressalvas. Calçado com pneus verdes e inflados com uma pressão de 41 libras, essa composição ajuda a melhorar a autonomia devido ao menor atrito de rolamento. Porém fora do asfalto liso, junto com a suspensão mais firme por causa do maior peso do E-Tech, provoca muito barulho interno além de tremer o carro todo, deixando o rodar desconfortável. O pior é que em subidas molhadas, devido ao menor atrito as rodas patinam por falta de aderência e, muitas vezes ele não consegue subir. Um detalhe que a Renault precisa rever urgente.
No mais, com uma direção elétrica macia, bons freios, arrancadas rápidas e boa estabilidade, o E-Tech é ágil e divertido de dirigir. É um carro essencialmente urbano. Mas com um bom planejamento com a ajuda do aplicativo para saber onde recarregar, dá para fazer viagens curtas numa boa. Enfim, já se pode dizer que ter um carro elétrico hoje em dia no lugar de um a combustão, dá pra viver normalmente e fazendo economia no combustível, na manutenção, não poluindo o ambiente e podendo reabastecer em casa.
Ou seja, ter um carro elétrico pode já ser o sonho de muita gente. Porém o preço de um ainda é alto o que limita sua aquisição. Mesmo do E-Tech que é o menos caro do nosso mercado.
Kwid E-Tech R$ 146.990
(janeiro 2023)
Segundo a própria Renault, apesar de toda a economia que ele proporciona, atualmente serão necessários em torno de 3 anos para recuperar o investimento. Tomara que venham mais modelos para os preços dos elétricos baixarem logo.
Notas do Emilio
Desempenho 7
Consumo 10
Segurança 7
Estabilidade 9
Acabamento 7
Espaço interno 6
Porta-malas 7
Custo-benefício 5
Ficha Técnica e Lista de Equipamentos do Kwid E-Tech: