O ano de 2021 terminou com uma diminuição de produção, sobre o que estava previsto, de mais de 300.000 unidades. No entanto, a falta de componentes eletrônicos, a disrupção da cadeia logística e as complicações decorrentes da Covid-19 não atingiram todas as fabricantes da mesma forma.
Esse cenário levou a um quadro de anormalidade nas estatísticas de vendas. Modelos de maior valor agregado e mais rentáveis para as fabricantes, como os SUVs, ocuparam espaço de hatches e sedãs. Quanto foi ocupado depende de como se enquadram os chamados “aventureiros” que, no meu entender, são apenas hatches com decoração de SUV.
Em 2020, SUVs legítimos somados aos crossovers representaram 30% das vendas totais de veículos de passageiros (sem incluir picapes) e em 2021 chegaram a 40%. A tendência de aumento da participação de SUVs é mundial e no Brasil também. Porém, no ano passado, o hatch até então mais vendido, o Onix, ficou quase cinco meses sem nenhuma unidade produzida. Isso, claro, distorceu as estatísticas. Só ao longo de 2022, se o fluxo de peças se normalizar, será possível analisar melhor o mercado crescente de SUVs.
No ano passado, alguns modelos saíram de linha, mas ainda aparecem nas estatísticas de vendas e no ranking publicado pela coluna há 22 anos. Novos produtos ainda não revelaram todo o potencial porque tiveram pouco tempo para acelerar a produção.
Algumas categorias foram arduamente disputadas ao longo de 2021. A de hatches compactos, por exemplo, teve quase um empate, mas o HB20/X venceu o Argo por uma diferença de 0,4 ponto percentual (pp). Resultado também apertado entre Renegade e Creta (2 pp) e entre BMW X5/X6 e Volvo XC90 (1 pp). Porsche Taycan foi o primeiro elétrico a liderar um segmento no Brasil, no caso o de sedãs grandes. A BMW respondeu por 78% das vendas dos sedãs médios-grandes.
A Strada avançou para uma participação recorde de 73% e pela primeira vez uma picape comandou o mercado brasileiro de veículos leves. Por falta de competidores suficientes, monovolumes e sedãs de topo saíram da comparação de 2021.
Ranking da coluna tem critérios próprios e técnicos com classificação por silhuetas. Referência principal é distância entre eixos, além de outros parâmetros. Base de pesquisa é o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam). Citados apenas os modelos mais representativos (mínimo de dois) e em razão da importância do segmento. Compilação de Paulo Garbossa, da consultoria ADK.
Hatch subcompacto: Mobi, 54%; Kwid, 44%; up!, 2%. Mobi avançou.
Hatch compacto: HB20/X, 19,8 %; Argo, 19,4%; Onix+Joy, 17%; Gol, 15%; Yaris, 4,8%; Uno, 4,7%; Polo, 4,4%; Fox, 4,1%; 208, 4%; Sandero, 3%. Líder por pouco.
Sedã compacto: Onix Plus+Joy, 24%; Voyage, 13%; Cronos, 12,7%; HB20S, 12%; Virtus, 9%; Versa/V-Drive, 7,3%; Grand Siena, 7%; Yaris, 6%; Logan, 4%; City, 3%. Onix manteve.
Sedã médio-compacto: Corolla, 55%; Civic, 25%; Cruze, 9%. Corolla firme na frente.
Sedã médio-grande: BMW Série 3/4, 78%; A4/S4, 7%; Mercedes Classe C, 6%. Amplo domínio BMW.
Sedã grande: Taycan, 42%; BMW Série 5/6, 15%; Panamera, 13%. Porsche elétrico lidera.
Cupê esportivo: Mustang, 43%; BMW M3/M4, 32%; Audi TT/RS, 7%. Mustang defende-se bem.
Cupê esporte: 911, 46%; BMW Z4, 20%; 718 Boxster/Cayman, 18%. Sem ameaças ao 911.
SUV compacto: Renegade, 16%; Creta, 14%; T-Cross, 13,7%; Tracker, 11%; HR-V, 8,4%; Nivus, 8,1%; Kicks, 8%; Duster, 5%; C4 Cactus, 4%; Tiggo 5x, 3%. Briga boa pela liderança.
SUV médio-compacto: Compass, 51%; Corolla Cross, 25%; Taos, 6%. Compass ainda absoluto.
SUV médio-grande: SW4, 26%; Tiggo 8, 20%; Commander, 7%. SW4 menos tranquilo.
SUV grande: BMW X5/X6, 17%; XC90, 16%; Defender, 14%. Equilíbrio na disputa.
Picape pequena: Strada, 73%; Saveiro, 18%; Oroch, 8%. Strada como sempre.
Picape média: Toro, 34%; Hilux, 22%; S10, 14%. Toro consolidada mesmo.
Yaris muda pouco, mas quer seu espaço
Lançados em 13 de janeiro último já como ano-modelo 2023, os Yaris hatch e sedã sempre tiveram presença discreta no mercado. Desde a parada de produção do Etios em abril de 2021, esperava-se uma reação mais forte, porém o hatch foi o quinto e o sedã apenas o oitavo no ranking.
A Toyota acertou na reestilização de toda a parte frontal, acrescentou luzes de rodagem diurnas de LED (até nos faróis de neblina, mas só no topo de linha), redesenhou as rodas, contudo na traseira nada mudou. No interior retoques em revestimentos, multimídia de série (7 pol.) e duas portas USB para ocupantes do banco traseiro.
Agora há sete airbags de série em todas as versões. O pacote de segurança prevê alertas de pré-colisão e evasão de faixa, mas não é tão completo como em um dos principais rivais, o City. Sensor de chuva foi eliminado. Motor de 1,5 L, 110 cv (E)/105 cv (G), também inferior ao rival da Honda de mesma cilindrada.
Em se tratando de Toyota os preços são elevados frente aos fortes concorrentes deste segmento. Todos com câmbio automático, no hatch (60% das vendas previstas) vão de R$ 92.190 a 112.690 e no sedã de R$ 96.390 a 116.990.
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Coluna Fernando Calmon nº 1.184
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