Fomos ameaçados em Londres

Fomos ameaçados e não tínhamos nada a ver com a invasão das Malvinas/Falklands

O calendário marcava, 3 de abril de 1982, 41 anos passados. Fazia bom tempo em Londres, sem sol, mas bom. Havíamos assistido à troca da guarda no palácio de Buckingham (um espetáculo de perfeição, tal e qual a banda dos nossos Fuzileiros Navais) e paramos defronte de uma banca de jornais atraídos pela notícia de que a Argentina havia invadido as Ilhas Falklands. Malvinas para os nossos vizinhos.

Ao lado do jornal londrino, um italiano mostrava fotos da princesa Diana (falecida anos depois, em 31/8/1997) que estava, segundo a legenda,  à “sinistra” de uma autoridade local. Começamos a rir, porque para nós, sinistra tem um significado diferente do idioma de Dante, que significa “esquerda”.

E conversando sobre a diferença do significado das palavras, fomos advertidos pelo dono da banca que nos confundiu com argentinos, talvez por uma ou outra palavra que ele entendeu como espanhol.

“Advertidos” é modo gentil de dizer, porque entendemos perfeitamente o que ele nos dizia, referindo-se às nossas mães e toda a nossa família, brandindo um pedaço de pau nas mãos. Enfim, nos expulsou da frente da sua banca porque nos confundiu com os invasores das ilhas que os ingleses consideravam – e ainda consideram – deles e os argentinos as invadiram, por mar e ar, derrotando a pequena guarnição britânica, que protegia a capital, Puerto Argentino (Port Stanley para os ingleses).

Começou o único conflito armado entre uma potência nuclear e um país latino-americano na história do continente, denominado de a batalha de Wireless Ridge. Mas, a “Dama de Ferro”, Margareth Hilda Thatcher, usou toda sua energia e a Argentina se rendeu às forças britânicas em 14 de junho daquele mesmo ano.

Veja também:

 

O Labrador me “atacando”

Naquele mesmo dia eu saí para caminhar, sozinho, pelo Hyde Park, o maior parque no centro de Londres. Ao entrar em uma das pontes, avistei na outra extremidade a figura de um enorme cão preto, correndo na minha direção. Fiquei desesperado e, quando, já estava a ponto de me atirar no lago, ouvi uma vez no mais puro inglês londrino: “calm down, don’t be afraid, he doesn’t bite”.

Era um lindo Labrador, animal pouco conhecido no Brasil, que antes de chegar até onde eu estava paralisado, mergulhou no lago, como deveria fazer todos os dias. Seu dono aproximou-se e disse gentilmente: “sorry, but he is a not mad dog”.

Anos depois eu tive um Labrador, o Guri. Preto, como o londrino que ia me “atacar”.

 

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