Por Marcelo Iglesias
Semana passada a Citroën revelou a terceira geração da Berlingo e agora a versão Opel do modelo, a Combo. O híbrido entre van e furgão, que foi vendido no Brasil em sua primeira geração junto com o primo Peugeot Partner (que ainda é comercializado por aqui) e que concorria com Fiat Doblò e Renault Kangoo, passou por completa remodelação. E comprova que, pelo menos no Velho Mundo, esse tipo de veículo ainda tem mercado.
O Berlingo se enquadra no segmento de Leisure Activity Vehicle, que, numa tradução literal, corresponde a Veículo de Atividade e Lazer. É um nome um tanto inusitado, principalmente para nós brasileiros que sempre vimos o Berlingo como um veículo de carga. Mas na Europa ele vai muito além de ser um carro de trabalho e se mostra como uma opção extremamente prática para quem busca um automóvel familiar que ofereça espaço.
Pode parecer estranho, mas o Berlingo segue uma proposta que é a mesma de 20 anos: aliar o bom espaço das minivans com uma carroceria elevada, que permitisse também acomodar cargas. Olhando para ele, chegamos a ter a impressão de ser um automóvel inovador, um novo “Ovo de Colombo”, mas na verdade é o mesmo conceito de outrora.
Essa surpresa se dá pelo fato de o mercado ter sido tomado pelos utilitários-esportivos (SUV) que se vendem pelo design robusto, para-lamas largos, rodas grandes, frente invocada com grades imponentes e um monte de lâmpadas. Realmente qualquer SUV é muito mais atraente que o novo Berlingo, mesmo que o francês tenha conjunto ótico moderno, seguindo a linha do C4 Picasso, Cactus e demais modelos da marca do duplo Chevron. No entanto, na hora que a “emoção” fala mais alto, um jipão invocado sempre dá mais tesão.
As fabricantes sabem muito bem disso. Outro dia, um executivo de uma marca europeia disse sem pestanejar: “O design é o principal atributo de um automóvel na decisão de compra!”. Seja bom ou ruim, prático ou não, o design é fundamental na hora da escolha. Daí, o fabricante vai concentrar seus esforços naquilo que tem certeza que vai vender, independentemente de ser o melhor produto ou não.
Se olharmos para os SUVs em geral de forma racional, veremos que eles não são o que oferecem. Eles derivam de veículos utilitários (a sigla não nos deixa mentir) que tinham que ter tração 4×4 e suspensão elevada para atravessar terrenos acidentados. Hoje oferecem o mesmo visual, mas a grande maioria tem apenas tração dianteira, muitos carecem de torque e tem pneus que não são recomendáveis para sair do asfalto.
O “pneuzão” também é um problema, pois acaba com o porta-malas, tanto na largura das caixas de roda como no compartimento do estepe. Uma prova disso é o Jeep Renegade, que tem porta-malas de popular e ganhou alguns litros a mais com a adoção do estepe emergencial. No entanto fazem sucesso porque imprimem status, jovialidade. As pessoas querem ser vistas saindo altivas de seu jipão e não de um Berlingo.
É uma pena, pois o Berlingo e seus pares, são automóveis que oferecem praticidade ímpar. Portas deslizantes facilitam a entrada e saída em vagas apertadas. O teto alto elevado permite uma acomodação mais vertical, o que melhora o aproveitamento de espaço. E por não serem tão elevados quanto um jipinho, tem acesso mais fácil. O leitor já reparou quanta gente sofre para embarcar ou descer de um SUV?
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Não que eu seja partidário do Berlingo, Doblò, Partner ou Kangoo. Pessoalmente não me seduzem, assim como um SUV. Mas não há como negar que são automóveis que podem tornar o cotidiano mais prático. E como já dizia o compadre Homero Gottardello: “Automóvel tem que ser bom por dentro, pois é onde você está!”
Fato!
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Marcelo Iglesias Ramos é Jornalista e Designer Gráfico.
Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).
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