De Carro Por Aí – Coluna 2518

Uma Automundo?

 

Anúncio de Volkswagen e Ford prometendo estudar sinergias e negócios, em especial quanto a veículos comerciais, instam lembrar da Autolatina, empresa reunindo as duas marcas no Brasil e Argentina, tentativa de salvação, entre 1987 e 1995. Modelo atual será diferente. Chamam tal avença – acordo, combinação – de Aliança e não será joint-venture, a união de duas empresas criando uma terceira. Também não haverá troca de ações – uma ficaria com percentual da outra -, nem fusão ou incorporação. Prometem sinergia e, como primeiro plano, caminho conjunto para veículos comerciais.

Comunicado frio, seco, com mínimas informações, sugere ter sido solução dez-p’ras-cinco, em cima da hora, talvez para evitar ser furada pela imprensa, causando queda de valor das ações ou desgastes com acionistas. Na prática aparenta ser promessa de troca de ideias sobre pontos de vista; potencialidades; ociosidade em instalações industriais, para fabricar veículos de uma em fábrica de outra; sinergia para desenvolvimentos comuns de produtos, partes; união para os futuros passos da autonomia, industrialização em direção ao modelo 4.0 de intensa mudança industrial em métodos e equipamentos.

Será período de muita conversa e muitíssima especulação, boatos, terrorismo interno e externo sobre passos da nova aliança. (Ontem recebi uma chamada: para saber quem lideraria a área de comunicação no Brasil – VW ou Ford. Tema pequeno, longínquo, porém bom exemplo do varejo de muitas dúvidas.

? = Automundo

De real

Coluna antecipou em fevereiro, Ford está em quarto minguante, período de corta-custos. Em maio, situação se acendrou – refinou, purificou -, e a matriz norte-americana deu o norte: retirou sedãs de produção, faz dispensas mundiais, corta investimentos, avisou sair de países sem retorno em lucros, minguar operações, e direcionar-se a operações com suvs e comerciais – caminhões são produzidos apenas no Brasil e na Turquia. Quer salvar-se. E ainda encontra inconvenientes: não tem bons resultados na Europa e na China, hoje maior mercado mundial. Mas detém título invejável: é o maior vendedor mundial de picapes, como o F 150.

Em contraposição VW é a maior do mundo na área, lidera na Europa e China, porém sem boa performance nos EUA, apesar de lá ter fábrica.

São dificuldades e facilidades se engrenando.

 

O que

Possivelmente, como referência fática, um picape VW seja o veículo de acerto inicial entre as duas marcas, considerando a facilidade industrial – é veículo bruto, com chassis. Dizem os expertos, até macaco ensinado monta … Em tal caminho VW exibiu, no recente março, no Salão de New York, seu conceito sobre picape. Maior relativamente ao Amarok, do porte consumido nos EUA, fornecido por Ford, GM, RAM, Honda, Toyota, é o Atlas Tanoak.

Em paralelo, muitas dúvidas internas e externas, sobre departamentos a serem somados, pessoas dispensadas, revendedores tensos. Não se compare com a Autolatina: era regional e joint venture. E deu certo apenas como solução de sobrevivência. Questão foi participação de mercado, VW detinha 40%, Ford apenas 20%. VW saiu com percentual assemelhado, e Ford desabou a insuperáveis 9% – perdeu – e nunca recuperou – metade de sua presença.

 


Salão: menos expositores

 

Marcas, espaços, compradores, mercado crescem. Salão, não!

 

Salão do Automóvel é evento importante, secular, ponto de encontro entre expositores de bens ou serviços e visitantes para conhecê-los e eventualmente adquiri-los. É assim é praticado no largo prazo de convívio com o automóvel. Mostrar-se num Salão é operação onerosa, pois a locação do espaço – no usual a preços beirando o valor de aquisição … -, é apenas um dos componentes da conta. Há produção especial dos veículos – muito mais cuidados e às vezes em cores especiais -, recepcionistas, material informativo, coquetéis, e mais ampla relação de parcelas. Não dá para avaliar acerto do investimento, pois não há vendas para mensurar o resultado.

Há anos, por custos, o empresário Sérgio Habib, dirigindo a Citroën, não a levou à mostra, mas fez pesquisa à saída, indagando opinião dos visitantes sobre carros e stand. Multidão respondeu ter gostado muito – do que não viu. Uma lição.

Ausência à mostra não é exclusividade local. Neste ano, no Salão de Paris, um dos mais tradicionais do mundo, alternando com Frankfurt no exibir novos produtos a consumidores europeus, marca Volkswagen decidiu não ir, como informou a Coluna 2018 aos 17.maio. Marca é líder mundial e provocou fazer contas, e deflagrou desistências em sequencia: Ford, Infiniti, Mazda, Mitsubishi, Nissan, Opel, Volvo e Subaru. Quase todas, exceto esta, integram conglomerados diversos, e estes levarão associadas Por exemplo, Sköda, Seat, Porsche, Audi, Lamborghini, controladas pela VW, irão. Mitsubishi e Nissan, ausentes, mas Renault, companheira de Aliança, dirá presente. Opel, agora Peugeot, não aderiu – mas essa irá, assim como a Geely, controladora da Volvo.

Para o Salão Internacional do Automóvel, nosso representante no rol de eventos do setor, S. Paulo, 8-18/novembro, ausências em quantidade. Sem Jaguar Land Rover; Citroën; Peugeot; JAC Motors e Volvo – por enquanto. Razão comum, gastos e custos sem recuperação imediata – ou o ciclo de desinteresse pelo automóvel, fenômeno em curso e não enfrentado pelos seus fabricantes.

Previsão de visitas nos 10 dias de Salão, 700 mil pessoas. Muito? Não. Há décadas o quantitativo não cresce, independentemente da expansão dos habitantes de S Paulo, do crescimento da frota, aumento de número de marcas, da democratização do automóvel, da mudança do Salão a área maior e de mais conforto.

 


Livro. Operação Abacaxi

1955: ao Canadá em Jeep brasileiro

 

 

Nome gaiato, tanto quanto a ideia, consecução, participantes: em 1955 três escoteiros, com 19 anos, propõem – e têm aceita – ideia de ir de S Paulo ao Canadá participar de um Jamboree, encontro internacional, e o fizeram em O Km Jeep Willys de produção nacional pioneira recém iniciada. (Para pensar: tinham quase 50% de nacionalização – mais que alguns carros nacionais de hoje …)

Concordância e apoio não foi da Willys-Overland do Brasil, fabricante do veículo, mas da Agromotor, revenda da marca e uma das pioneiras distribuidoras e sócia da empresa nacional montada para importar, montar e distribuir Jeeps no Brasil.

Chave do negócio, os rapazes foram fazer fundo de manutenção procurando fabricantes de auto peças para, durante a viagem, realizar efeito demonstração da existência de corajosa indústria de componentes e de sua resistência ao insólito e árduo trabalho. Reuniram US$ 2.000 – hoje uns R$ 70 mil -, elegeram um tesoureiro – á época não existiam facilidades de comunicação para transferir numerário -, usaram as regras do escotismo para comportamento pessoal e organização de funções, e foram-se ao mundo no Jeep Willys brasileiro, modelo CJ3B. Nele aplicaram as peças produzidas pelos patrocinadores, pintaram-no de Verde e Amarelo. Na prática a teoria do orçamento foi outra: a viagem custou US$ 4.500 de então – uns R$ 150 mil.

Cumpriram o desiderato – desejado, aspirado -, enfrentaram toda a falta de estradas, as limitações do Jeep, e pioneiro motor com válvulas em F – adaptação de baixo custo sobre antigo motor da marca – 2.148 cm3 e modestos 75 cavalos de força-, câmbio semi sincronizado em 2ª e 3ª marchas, reduzida, e a contida velocidade de cruzeiro em torno de  70 km/h. Enorme conquista pessoal, reconhecida e festejada por todo o caminho.

Exemplo típico, quase épico, da ignorância como a mãe da coragem.

Parte prática, Hugo Vidal, agora 85, empresário aposentado, autor das pequenas passagens formando o livro, exibiu jovem vertente negocial: na viagem foi a oficina/pequena indústria, fabricante de roda livre – mecanismo para desacoplar os semi eixos dianteiros, deixando-o sem tração, melhorando direção, reduzindo consumo -, e obteve a representação e industrialização do sistema AVM. Como àquela época o Jeep foi o veículo mais vendido do país, dá para entender o acerto da coragem em propor e conquistar a representação.

Da viagem, em números, ida e volta, 73 mil km, 377 dias, 19 países.

Operação Abacaxi – Flashes de uma Aventura, é agradável de ler, com foco em públicos vários – apreciadores e colecionadores de Jeeps, de viagens, história e as limitações de então. 180 pags, R$ 95. A fim? www.overlanderbrasil.com

 


 

Roda-a-Roda

 

Lenços – Para os viúvos de Alfa Romeo: Argentina iniciou vender primeiro lote de Giulias e Stelvios – o SUV da marca -, com motorizações 4 cilindros, 2 litros, 200 cv; 2 litros 280 cv, tração total, e V6 2,9 litro e 510 cv, todos com transmissão automática 8 velocidades.

Uau ! – Giulia 200 cv, 41.689 Euros (+- R$ 183.193); Giulia 280 cv 56.579 E (+- R$  248.625); Giulia V6 510 cv 115.448 E (+- R$ 507.313). Stelvio 200 cv 46. 879 E (+- R$ 206.000); 280 cv 92.458 E (+- R$ 406.288 ). Stelvio 510 cv – sem preço definido.

Alfa tem representante oficial na Argentina e três revendas.

Para o Brasil, possível – mas por enquanto improvável.

Já vi – Assumindo a operação Chery no Brasil, CAOA faz ofensiva publicitária no jornal Folha de S Paulo. Sobre o QQ, o menor da marca, e até há pouco o mais inadequado dos estrangeiros no país, arranjou referência. Trata-o como A Pequena Maravilha. Coisa antiga. Era dos DKW.

Caminho – BMW voltou a importar o elétrico i3. Mudanças estéticas; agregou o REX, pequeno motor a gasolina dito pomposamente Extensor de Autonomia – 380 km. Apenas elétrico a R$ 200 mil e com REX R$ 212 mil e R$ 240 mil.

Monozukuri – Expressão japonesa indica atingir todos os parâmetros de qualidade para execução de um trabalho perfeito. Foi a utilizada pelos auditores japoneses da Nissan ao examinar protótipos e aprovar máquinas e processos destinados à produção do picape Frontier – e também Renault Alaskan e Mercedes Classe X -, em parte da fábrica da Renault em Santa Isabel, Córdoba.

Muda – Deve corrigir isolamento termo acústico e fazer pequenas mudanças estéticas para distinguir do produto mexicano ora vendido no Mercosul.

Produção no segundo semestre. Quanto a preço, se será reduzido em razão da produção Mercosul, não há notícias.

Elas – Mulheres sabem mais e ganham menos da indústria automobilística. Constatação, a merecer atenção geral, surgiu com Paula Braga, no VI Fórum RH promovido pelo portal Automotive Business. Em dados, a força de trabalho feminina cresceu 2%, sendo hoje 17% da indústria – 1 mulher x 6 homens, mas crescimento está relacionado a contratação via redução de custos.

Números – Mulheres ganham até 33,8% menos ante-homens, apesar de 45% das profissionais ter ensino superior ou especialização. Com eles desaba a 29%.

Questão – Enquanto a indústria não perceber que homem é apenas protótipo e mulher o produto final, não evoluirá. O mesmo para administração municipal. Exceto uma ou outra gatuna, no geral fazem melhor serviço nas prefeituras.

Problema – Em nome de uma segurança interna por disfunções em veículos e peças estrangeiras, e outras razões desconhecidas, o Departamento de Comércio dos EUA quer tributar em 25% todos os veículos rodoviários importados – de motos a caminhões – e suas peças. Abriu consulta pública sobre o tema.

Razão – Em política, para entender a razão das coisas, na medida da seriedade do governo – ou falta de -, procure no recolhimento de impostos ou orçamento majorado, e achará a resposta. No caso parece forçar instalação de fábricas nos EUA; reduzir disputa com produtos locais; aumentar recolhimento de impostos.

Mulher – Tema estava restrito a indústria e importadores, quando dona Sandra Button, organizadora do Pebble Beach Concours d’Élegance, para automóveis antigos, tocou a buzina em seu mailling mundial pedindo socorro contra a medida, capaz de alterar o mercado e comprometer a atividade de restauração.

Fim – Brasil fez sobre taxa no governo (sic) petolulista pelo ora processado Fernando Pimentel, governador (?) de Minas Gerais – semana passada, para não ser citado judicialmente, estava em lugar incerto e não sabido. Gente finíssima.

Á ré – Seu Inovar-Auto dizimou o segmento de importados, empresas, empregos. E ao final deixou processos de montagem de veículos em índices de nacionalização pré-governo JK.

Rede – Em meio às investigações sobre mascaradas emissões poluentes em carros Volkswagen, o Dieselgate, Rupert Stadler, presidente da Audi, foi preso. O governo alemão o acusa de fraude, falsidade documental, publicidade enganosa.

E – Audi o suspendeu das funções, nomeando interino Adrian Shot, holandês, diretor de vendas. Questão pode provocar alterações de governança na corporação porque a defesa isentava diretoria da trapalhada, mas as investigações da justiça alemã chegaram ao topo. Não apostaria no retorno de Stadler, mesmo inocentado, ao cargo. Cachorros grandes visam seu posto.

 Fora – Em seu sítio, BNDES publicou estudo sobre a falta de evidência de sua co responsabilidade para a greve dos caminheiros. Alguns economistas indicam os mecanismos de financiamento como responsável pelo excesso de veículos ante a redução de frete causada pela retração econômica.

Gente – Douglas Mendonça, jornalista, outro olhar. OOOO Encerrou relação de 24 anos com a revista Motor Show, da qual foi diretor e alavancador. OOOO Mantém seu Blog Papo de Garagem, no sítio da Motor Show e a coluna Carros e Causos no portal Auto Papo, e inicia colaborar no Autoentusiastas. OOOO Gustavo Ruffo, jornalista, bi premiado. OOOO Prêmio pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva com reportagem RenovaBio sobre produção de etanol. OOOO Do ramo. OOOO Ronaldo Berg, automobilista, ex VW e Audi em assistência ao cliente e competições, ex-aposentado. OOOO Contratado pela Caraigá, grande revenda paulistana das duas marcas para supervisionar satisfação dos clientes com produtos e serviços. OOOO Grande aquisição. OOOO Philippe de Rovira, economista, sobe. OOOO Era o número 1 de finanças na GM Opel e, com a aquisição pela PSA, ascendeu a CFO do grupo. OOOO Dhivya Suryadevara, nova CFO da corporação GM. OOOO Reportar-se-á diretamente a Mary Barra, CEO, enxugando a empresa. OOOO Num comparativo, o antigo General hoje mal é Major, e dona Barra tenta não perder patentes. OOOO Mathias Hofmann, doutor em engenharia, mudança. OOOO Novo responsável pela montagem de BMWs. OOOO Não se reporta à presidência da empresa no Brasil, mas á área de engenharia na Alemanha. OOOO

 

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José Roberto Nasser, carioca de nascimento e brasiliense por convicção, é um dos mais antigos jornalistas do setor automotivo brasileiro. Advogado, é também um apaixonado por carros antigos, motivo que o levou a fundar o Museu Nacional do Automóvel, em Brasília, onde preserva a história da indústria automobilística brasileira. Com um texto peculiar e muita informação, principalmente dos bastidores, a Coluna do Nasser, semanal, é leitura obrigatória para saber o que se passa dentro desse importante setor da nossa indústria.

edita@rnasser.com.br

 

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