O amigo leitor que acompanha estas mal traçadas deve pensar que tenho algum tipo de conflito com os utilitários-esportivos (SUV’s), mas garanto que não. Mesmo que sua proposta seja muito mais voltada como instrumento de afirmação social do que propriamente um veículo de múltiplas propostas, não tenho nenhum tipo de problema mal resolvido. Pelo contrário, SUV’s são ótimas peruas anabolizadas.
No entanto, não se pode negar que o segmento de utilitários se tornou uma coqueluche global. A Ford anunciou que não irá mais investir em sedãs nos Estados Unidos. As gerações de três volumes, nesse momento da história, estão vivendo seus últimos anos. O foco da marca são SUV’s e picapes.
E a Ford está certa. Ela tem que concentrar seus esforços no produto que tem demanda. E não exagero dizer que o utilitário tomou o lugar do sedã nos lares norte-americanos. Um Ford Expedition tem muito mais apelo que um Taurus. É mais robusto, enfrenta qualquer terreno e o principal: esfrega na cara da sociedade que seu dono é bem de vida.
Num artigo publicado pelo Chicago Tribune, muita gente questionou a posição da marca do Oval Azul, dizendo que foi precipitada. Na verdade, não foi. Ela apenas se posicionou. No abraço dos afogados entre Fiat e Chrysler (duas marcas que há anos rebolam em seus mercados natais), elas já viram que para continuar “flutuando” era preciso eliminar o peso morto. Dodge Dart e Chrysler 200 não cabem mais na estrutura dos ítalo-americanos. Por outro lado, modelos Jeep despontam como a tábua da salvação para o grupo, assim como as picapes RAM, que deixaram de ser Dodge.
Aqui no Brasil, onde somos impactados pelos reflexos do que acontece lá fora, o cenário não é diferente. Quem acompanha as andanças do Tio Emílio, pode comparar a quantidade de lançamentos de jipinhos em relação aos demais tipos de carroceria, nos últimos anos. Para se ter uma ideia, dá para contar nos dedos quais foram os modelos não SUV lançados este ano: Virtus, Cronos, Civic Si, Mustang… O resto é atualização de linha. Por outro lado, pipocaram jipinhos e (pseudo) jipinhos na praça.
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A verdade é que o SUV é um ótimo negócio. O consumidor enxerga valor num jipão. Quando se diz que um utilitário custa (assustadores) R$ 120 mil, há quem diga que o preço está bom para um carrão tão sofisticado. Por outro lado, um sedã médio custar R$ 120 mil é um disparate. “Onde vamos chegar? ”.
Um Honda HR-V custar R$ 109 mil, na versão Touring, é mais aceitável que o um Civic EXL, ser oferecido por R$ 107 mil, mesmo tendo motor mais potente que o jipinho, além do fato de serem parelhos em conteúdo. Ou seja, um jipinho tem um efeito inebriante.
Seja como for, a decisão da Ford pode ser polêmica, mas foi uma das mais sinceras da indústria do automóvel. Afinal, quando se trata de automóvel, Charles Darwin e Philip Kotler andam de mãos dadas, a bordo de um largo e pesado SUV.
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Marcelo Iglesias Ramos é Jornalista e Designer Gráfico.
Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).
Contato: (31) 99245-0855
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