O brasileiro tem um dom muito interessante: colocar apelidos em tudo. Uma qualidade que é admirada pela descontração por muitos, mas que pode se tornar uma dor de cabeça para outros. Um carro que não escapou dessa virtude tupiniquim foi o VW 1600 sedã, o primeiro Volkswagen de quatro portas do mundo e feito no Brasil. Veio para concorrer com o Corcel da Ford que tinha sido lançado em 1968 e com quatro portas.
O VW 1600 tinha a mesma configuração do Fusca, ou seja, motor traseiro refrigerado a ar, porta-malas dianteiro e suspensão por barras de torção. A novidade era o motor 1.6, com 60 cavalos que o empurrava até 135 km/h. Com linhas quadradas, um tanto discutíveis e quatro portas, cada uma com uma maçaneta, parecia um esquife e não demorou muito para ganhar o apelido de Zé do Caixão, uma referência ao macabro personagem de José Mojica Marins, que dorme em um caixão com alças…
Fez sucesso entre os taxistas, que queriam um carro robusto, como era a fama do Fusca, e com a facilidade das quatro portas. Mas, apesar de a fábrica sustentar a beleza do carro, o VW 1600 não emplacou no mercado. E “ajudado pelo apelido” teve vida curta: lançado em fins de 1968 como modelo 1969, saiu de linha em 1971.
Mas, quem foi o pai do Zé do Caixão? De onde surgiu? “Tal pai, tal filho” diz o ditado. Ele foi derivado de um protótipo da Volkswagen feito em 1960, que hoje está no museu da marca em Wolfsburg, Alemanha.Ele deveria ser a base para uma nova linha de carros maiores para a marca na Europa, que até então só tinha o Fusca em produção. Mas, com linhas um tanto controversas, apesar de pronto para dar início a uma produção, na última hora, não foi aprovado para o mercado alemão. Acabou, porém, sendo designado para vir ao Brasil que também queria um carro maior. E, na cabeça dos dirigentes da época, que achavam que o mercado brasileiro não era tão exigente, ele serviria muito bem.
A diferença entre o Zé do Caixão e o protótipo, é que este tem apenas duas portas. A versão de quatro portas foi desenvolvida aqui. Outra diferença do “alemão” são os dois faróis redondos, enquanto que o brasileiro foi apresentado com faróis retangulares, uma modernidade na época, que foram substituídos no modelo 1971 por dois pares redondos. O resultado final, porém, não foi dos melhores.
Se o Zé do Caixão não deu muito certo, pelo menos ele abriu caminho para outros produtos que fizeram sucesso no mercado baseados em sua plataforma. Como a Variant, lançada em 1969, e o TL, em 1970. Ambos tinham a frente igual ao sedã, mas a Variant era uma perua e o TL ganhou uma traseira tipo cupê, agradando muito mais ao público. O motor traseiro também era 1.6 só que com dois carburadores e 65 cavalos, que os levava até os 137 km/h. O interessante é que esse motor era mais baixo, o que permitiu criar um segundo porta-malas na traseira, compensando uma deficiência do Zé do Caixão que só tinha o dianteiro. Detalhe: ambos passaram a ter apenas duas portas, uma exigência do mercado na época.
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Dois equívocos históricos são citados na matéria: o primeiro VW quatro portas do mundo foi o VW 411 L, lançado na Alemanha meses antes do VW 1600 no Brasil. O outro é que o projeto que desenvolveu o protótipo EA97 foi considerado muito bom pela matriz alemã e seria uma opção para substituir o Fusca no futuro, porém não foi lançado lá para não concorrer com a família Tipo 3 nem com o Audi 60 da Auto Union, adquirida pela VW em 1965. Como era um bom projeto e a Volkswagen não queria perdê-lo, foi trazido e adaptado para o Brasil. Faz parte do nosso sentimento de inferioridade achar que tudo que vem para cá não serviu para lá...
Não é sentimento de inferioridade. Sempre foi política comercial adotada pelas grandes montadoras para países sub-desenvolvidos, principalmente a VW. Basta ver a Kombi Clipper (frente redesenhada e vidros laterais grandes). Foi lançada na Alemanha em 1968.Eu tenho a Quatro-Rodas desse ano com a reportagem sobre o lançamento. Em que ano veio essa Kombi para o Brasil ? 1998. Isso mesmo que você leu. 30 anos depois, a VW mandou para nós o design sucateado para nós e provavelmente as máquinas empoeiradas para cá. Ou prefere usar como referência o fusca ? O modelo alemão, com vidros curvos, mais largo, suspensão mais moderna, vidros laterais maiores....NUNCA veio para cá. A variant e o TL deles então ? Grandes, luxuosos, macios... Então, não é questão de inferioridade. É questão cultural e financeira mesmo. Éramos (e ainda somos em alguns setores) um grande mercado de consumo de sucatas.