Como carrinhos na embalagem

Na edição 2016 do Fórum Econômico Mundial de Davos um documento elaborado pelo banco Credit Suisse, em parceria com diversas outras entidades, revelou que metade da riqueza do mundo se concentrava nas mãos de 1% da população. Ou seja, se consideramos que temos 7,6 bilhões de habitantes, de acordo com a Organização para as Nações Unidas (ONU), toda essa fortuna está em posse de 76 milhões de afortunados seres humanos. Acontece que tanta grana demanda investimentos. Obras de arte, imóveis, empresas, papéis, também automóveis e metais e pedras preciosas. Carros se tornaram uma excelente maneira de indivíduos endinheirados aplicarem seus dobrões, mas não estamos falando de uma frota de carros populares para rodar como taxis ou Uber, ou para terceirizar para companhia da TV a cabo. Isso dá grana também, mas não como investir em automóveis raros.

Há um bom tempo se consolidou um ramo de comércio de automóveis exclusivos. Carros antigos, de baixa tiragem, pertencentes a grandes personalidades, assim como automóveis de competição com histórico de vitórias e até mesmo supercarros modernos fazem parte desse nicho de mercado. Modelos icônicos como a Ferrari 250 GTO já alçaram valores que beiram os US$ 40 milhões, assim como a unidade do Jaguar D-Type, que venceu as 24 Horas de Le Mans de 1955, recentemente foi arrematada por US$ 21,8 milhões.

No dia 26 de agosto acontece o Concurso de Elegância de Pebble Beach, na cidade californiana de Monterrey, que reúne automóveis clássicos. Junto do encontro também ocorrem leilões e atividades que movimentam a região por vários dias. Este ano a casa RM Sotheby’s levará para a Califórnia automóveis com valores assustadores como a GTO e o D-Type.

Um dos lotes que chamam atenção é o Ford GT40 Mark II, de 1966, com expectativa de ser arrebatado entre US$ 9 milhões e US$ 12 milhões. O bólido foi o terceiro colocado em Le Mans daquele ano. Junto dele há outras dezenas de carros caríssimos como o Mercedes-Benz CLK GTR, 1987, que pode alcançar US$ 5 milhões e até mesmo uma Kombi, 1961, em que é esperado que alcance a soma de R$ 600 mil.

São valores extremamente altos, que se destinam a automóveis e não cumprem com sua função de meio de transporte. São joias valiosas de engenharia que se valorizam com o passar do tempo, mas que, assim como obras de arte do coleções particulares, vivem numa clausura.

E qual a graça disso? Nenhuma. Ter um GT40 que fez pódio em Le Mans é apenas um recurso de investimento para aquele 1% da população. São carros que passam seus dias longe da poeira, da luz do sol e da umidade em ambientes climatizados. É como aquela coleção de carrinhos de ferro em que não pode tirar da embalagem, longe das mãos das crianças. A diferença está só no preço inacessível para os 99% restantes da humanidade.

E vida que segue!

 

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Marcelo Iglesias Ramos é Jornalista e Designer Gráfico.

Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).

 

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