Uma vez o Hotel Othon BH pegou fogo. Mas antes, ele já havia abrigado um outro tipo de fogo envolvendo viagem de jornalistas
Ao acordar, o relógio marcava 19 horas. Mas, olhando pela janela do Othon Palace Hotel, como estava escuro, pensei tratar-se ainda da madrugada. Mas ao olhar com mais atenção para o “clock” vi que já eram sete da noite. Me olhei no espelho e vi que, fora estar descalço, estava com a mesma roupa que usara na noite anterior. Intrigado, tomei um banho e desci.
Saindo do elevador, uma recepção de alegria por parte do pessoal do hotel. Mais intrigado ainda, cumprimentei o pessoal e perguntei o que acontecera na noite anterior.
Constrangido, o gerente respondeu: bem, o senhor chegou aqui em um táxi e entrou no hotel sem qualquer problema. Nem percebemos que estava como estava. O senhor nos cumprimentou com gentileza e pediu a chave do seu apartamento.
Não lembro, foi a sua resposta.
Então, segundo ele, fui perguntado sobre qual era o meu nome. – E o senhor simplesmente tirou o seu RG do bolso e o apresentou. Foi aí que percebemos que o senhor estava com algum problema.
O gerente seguiu o seu relato, me contando o que eu não lembrava, que encarregou um funcionário a me acompanhar até o meu apartamento. Segundo ele, não houve nenhuma necessidade de apoio físico. Eu não demonstrava estar de meio “esquecido”. No apartamento, eu (segue o relato) me deitei e o funcionário apenas me tirou os sapatos e se retirou. Antes dele sair, eu já dormia.
Preocupados com meu estado, lá pelas nove da manhã, chamaram um médico que me examinou (não lembro disso também) que deu seu parecer: ele está bem, deixem que ele durma. Quando acordar estará resolvido. E nos reencontramos no Clube do Chopp, para as “saideiras”.
Uma semana antes
Lindolfo Paoliello, então diretor de Comunicação da Fiat Automóveis (lembram desse tempo, em que a empresa ainda não tinha irmãs no Brasil, com o sobrenome Stellantis?) convidou a mim, que era repórter da área em O Globo (Sucursal de SP) e o Nereu Leme, da Folha de São Paulo para uma visita à fábrica, em Betim, em uma sexta-feira.
E lá fomos nós dois. Visitamos a fábrica e fomos convidados a ficar para o fim de semana. Aceitamos. No sábado, fomos fazer uma visita a histórica Ouro Preto (100 km distante da Capital mineira). A visita começou por uma entrada em um bar antigo, muito antigo, em Ouro Petro.
E, mesmo não sendo um grande apreciador de cachaça (sou cervejeiro), como meus amigos Joel Leite e Koichiro Matsuo e outros, integrantes do grupo Provadores de Cachaça, ao avistar uma garrafa do produto escrito: fabricada em Ponte Nova, lembrei do meu irmão, Luiz Antônio (que lá nasceu, mas não está mais por aqui) e da minha infância.
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Puxa – aleguei eu – jamais tomei cachaça de Ponte Nova (distante cerca de 180 km de BH). E tomamos um primeiro gole, ainda antes do almoço. Um golinho só, que desceu suavemente, goela abaixo. Preciso esclarecer aqui que viajamos a Ouro Preto em um belo Alfa Romeo 2.300 (fabricado aqui entre 1974 – primeiro pela FNM em 1986 – depois pela Fiat – conduzido por um motorista. Ainda bem, porque nenhum de nós teria condições de enfrentar a descida da serra, dirigindo naquela neblina.
Fomos deixados no Hotel Othon (rua Bahia x avenida Afonso Pena) e convidados a conhecer o Clube do Chopp e a Doce D’ocê. O bar, do Levindo Coelho Martins a e a doceira de Tereza Coelho, sua esposa, em prédios contíguos. O clube, frequentado por elegantes notívagos de BH e a doceira por quem queria comer doces deliciosos. Ambos não existem mais, embora o nome Doce D’ocê ainda exista, em uma fábrica de doces congelados.
Foi lá pela tantas da madrugada que, claro não lembro a hora, resolvi tomar e um táxi e rumar para o Othon onde a história da minha falta de memória começou. Isso aconteceu em 1981 ou 1982, mas nem Lindolfo, nem Nereu têm certeza da data, muito menos eu. Lindolfo lembra que o presidente da Fiat e um dos fundadores das Usiminas, era Amaro Lanari.
E dos dois “fogos” do Othon?
Bem, acontece que o Hotel Othon, o mais luxuoso na época, além de abrigar o meu lapso de memória, causado por amnésia alcoólica, um verdadeiro fogo (depois do ocorrido consultei um médico que me deixou livre de qualquer preocupação maior. Ele tinha razão pois o fato nunca mais aconteceu) foi destruído pelo fogo de um incêndio e fechado em 2018. Hoje voltou a funcionar.
NOTA: NÃO SOU E NUNCA FOI ALCOÓLICO/ALCOÓLATRA. ANÔNIMO OU NÃO! E NUNCA MAIS O EPISÓDIO SE REPETIU, MESMO TENDO VOLTADO A BH ALGUMAS VEZES.
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