CEO da Stellantis aponta o etanol e a tecnologia flex como mais adequadas à realidade do mercado brasileiro. Mas empresa terá novos elétricos no país
O CEO mundial da Stellantis, Carlos Tavares, jogou um banho de água fria nos entusiastas de carros elétricos no Brasil. Segundo o executivo português, essa tecnologia não é a mais apropriada para a realidade brasileira e o país deveria sim investir no etanol, que já é um combustível sustentável e de know-how verde-amarelo.
A declaração contundente foi feita nessa quinta-feira (22) durante divulgação de resultados da Stellantis em 2022. Para quem não sabe, o grupo surgiu da fusão da PSA com a FCA e detém marcas como Fiat, Peugeot, Jeep, Citroën, Ram e DS, dentre outras. A empresa reportou receitas líquidas de €179,6 bilhões, crescendo 18% em relação a 2021.
Durante coletiva online, questionado por jornalistas brasileiros, Carlos Tavares comentou sobre a possível tributação de carros elétricos. O governo Lula estuda acabar com isenções existentes para esses veículos, em geral de alto valor agregado. O executivo português defendeu o etanol e o carro flex como a melhor solução para o Brasil no processo de descarbonização.
O CEO da Stellantis afirmou que a empresa vai sim vender veículos elétricos no Brasil e América Latina ante a iniciativa de concorrentes, contudo classificou essa iniciativa como “nicho de mercado” que não representa a maioria dos consumidores.
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“A sociedade precisa, o cidadão precisa? Minha avaliação honesta é que não, eles não precisam porque vocês tem uma solução muito boa para o planeta. Também há o fato de o Brasil ter grandes terras onde a produção de etanol não vai competir com a de alimentos, o que também é muito bom para o país. É uma tecnologia muito acessível e já teve investimento necessário. Então, por que você desperdiçaria os recursos da sociedade em algo que não é melhor para o planeta?”, atacou Carlos Tavares em declaração colhida pelo Valor Econômico.
Com a chegada do governo Lula, montadoras começaram a se organizar para solicitar a isenção do Imposto de Importação em carros elétricos, que atualmente são todos importados. Embora o carro elétrico esteja isento desse imposto desde 2016, há preocupação por parte de alguns segmentos da indústria de que essa medida incentive a entrada de modelos compactos, especialmente da China, com preços mais próximos aos da linha nacional. A indústria chinesa, que em parte também investe em fábricas no Brasil, defende que essa isenção deve ser mantida para preparar a indústria para a produção de veículos elétricos no país.
Números da Stellantis
Ironicamente à fala de Carlos Tavares, as vendas de carros eletrificados ajudou nos números da Stellantis em 2022. No balanço, a empresa reportou aumento de 41% nas vendas globais de veículos elétricos.
Em 2022 foram 288 mil unidades de veículos elétricos a bateria (BEV) comercializadas. Com 23 BEVs já disponíveis no mercado, a empresa pretende mais do que dobrar seu portfólio para 47 modelos até o final de 2024, com o objetivo de ter mais de 75 BEVs em sua linha global e alcançar vendas globais de 5 milhões de BEVs até 2030.
Entre os carros, destaca-se o lançamento do Jeep Avenger, o primeiro SUV totalmente elétrico da marca Jeep e o vencedor do prêmio Carro Europeu do Ano de 2023. A Jeep também apresentou o Jeep Recon totalmente elétrico e o Wagoneer “S”, ambos destinados à América do Norte e a outros grandes mercados globais. A marca Ram revelou recentemente a Ram 1500 REV, que estará disponível no quarto trimestre de 2024.
A Stellantis conquistou a posição de empresa líder em vendas de veículos comerciais elétricos a bateria (BEV) na Europa (EU30) e ocupa o segundo lugar no ranking geral de vendas de veículos elétricos (BEV) na região. Além disso, a empresa lidera o mercado norte-americano de híbridos plug-in (PHEV). Com uma linha de 23 modelos elétricos BEV já disponíveis no mercado, a Stellantis planeja lançar mais nove modelos em 2023.
Considerando todos os veículos, sejam à combustão ou eletrificados, as operações da Stellantis na América do Sul contribuíram para o bom resultado global. As vendas regionais cresceram 3% em 2022, para 859 mil veículos. A empresa destaca as vendas de Fiat Pulse, Jeep Commander e Citroën C3, e maiores volumes do Peugeot 208. A região registrou um AOI de €2 bilhões e margem em linha com o resultado global, de 13,1%.
A Stellantis registrou um lucro líquido de €16,8 bilhões, um aumento de 26%, e um crescimento de 29% em resultados operacionais ajustados (Adjusted Operating Income – AOI) para €23,3 bilhões, com margem de 13%. Todos os segmentos da empresa apresentaram resultados positivos.
Além disso, o fluxo de caixa livre industrial da empresa alcançou €10,8 bilhões, um aumento de 78%. A fusão dos grupos FCA e PSA, que originou a Stellantis, gerou sinergias de €7,1 bilhões, superando a meta estabelecida em dois anos.
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Pra que carro elétrico se podem cobrar o mesmo preço por um hatch flex pelado, não é verdade?