Da mesma forma que as referências de consumo em motores a combustão suscitavam dúvidas, agora chegou a vez dos modelos elétricos neste caso específico de alcance. É preciso explicar primeiro que o PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular) é obrigatório, executado pelo Inmetro a partir de 2018, seguindo as diretrizes do regime Rota 2030 do rebatizado Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
A bem da verdade, os critérios oficiais de consumo energético (mJ/km) e volumétrico (km/l) são hoje plenamente alcançáveis na maioria das situações de uso em cidade e estrada. O motorista pode confiar no valor declarado que, por óbvio, sempre vai depender das condições de tráfego e do modo de dirigir o veículo. Em certas circunstâncias há inclusive relatos de valores de consumo melhores do que os informados oficialmente.
No caso de modelos elétricos o alcance em quilômetros para ciclos urbano e rodoviário tornou-se a grandeza mais utilizada – e declarada – pela facilidade de ser percebida. Contudo, não é tão fácil estabelecer uma referência real, pois depende de temperatura ambiente (inverno e verão), uso do ar-condicionado, regeneração energética em freadas ou desacelerações graduais e até o ímpeto natural do motorista de sentir o torque instantâneo a seu dispor.
Assim, a partir deste 1º de janeiro o Inmetro passou de forma acertada a aplicar um fator de correção de 30%, diminuindo nesta proporção o alcance obtido em laboratório pelos diferentes métodos aceitos internacionalmente: WLTP (europeu) e EPA (americano). Também existe a antiquada norma europeia NEDC declarada por algumas marcas chinesas e sem nenhum valor prático por estar fora da realidade.
O site brasileiro useeletrico.com foi o primeiro a apontar os novos valores. No caso do automóvel elétrico mais vendido do País em 2022, o Volvo XC40 Recharge Single Motor o alcance “caiu de 420 km (no WLTP) para somente 231 km no PBEV, uma diferença de impressionantes 45%”. Mas, ressalta o site, o Nissan Leaf teve redução de 29%, de 272 km para 192 km, pela norma EPA mais severa que a WLTP.
Alcance de carros elétricos depende de outros fatores. Até, por exemplo, se limpadores do para-brisa e faróis são usados por períodos prolongados. Velocidade constante em estradas pode causar surpresas pois a regeneração em freadas é mais rara. Como regra geral um elétrico vai melhor em uso urbano e o motor a combustão, em velocidade constante nas estradas.
No início deste ano a Tesla foi multada na Coreia do Sul em US$ 2,2 milhões (R$ 11 milhões) por propaganda enganosa e um dos motivos por ignorar informações sobre alcance em temperaturas abaixo de zero °C.
Estas discrepâncias vêm sendo apontadas igualmente por um site internacional: evdatabase.org. Lá divulgam estimativa de alcance real de todos os modelos elétricos à venda no mundo. Deixam claro o critério: inverno rigoroso e verão moderado, velocidade constante em estrada de 110 km/h e condições meteorológicas. Mesmo assim classificam verão moderado com temperatura de 23 °C e ar-condicionado desligado. Desconsideram o calor que obriga o uso do condicionador de ar, como aqui e em muitos outros países. Na maioria dos modelos a diferença entre pior e melhor situação chega perto de 100%.
Filosa prevê tecnologia flex híbrida já em 2023
Principal executivo da Stellantis na América do Sul, Antonio Filosa confirmou, nesta terça-feira, que o programa de pesquisa da companhia batizado de Bio-Electro trará os primeiros resultados até o final deste ano na forma de uma solução desenvolvida localmente para um híbrido flex. Entretanto, não especificou quando entrará em produção e nem qual modelo será o escolhido. Também apontou que até 2030 o grupo franco-ítalo-americano terá reduzido em 50% as emissões de CO2 no Brasil com a ajuda do etanol.
Para este ano sua previsão de crescimento do mercado brasileiro de veículos leves e pesados alinha-se aos 3% informados pela Anfavea. Ele acredita que no segundo semestre haverá um bom alívio na escassez de chips e outros componentes para impulsionar a produção.
Sobre planos de curto prazo (até 2025) disse estar em período de silêncio obrigatório para empresas cotadas em bolsas de valores internacionais. No entanto desmentiu rumores incessantes aqui no Brasil de que o novo Peugeot 2008 terá sua produção transferida de Porto Real (RJ) para a Argentina. Notícias na imprensa especializada do país vizinho dão conta que esta decisão permanece em estudos.
ALTA RODA
Creta N-Line oferece discretas mudanças visuais com toques esportivos, porém sem ênfase no desempenho. O motor 1-litro turbo igual ao restante da linha tem limitações com 120 cv e 17,5 kgf.m de torque. Ainda assim, recalibração da assistência elétrica de direção, de amortecedores e molas deixou o N-Line agradável de dirigir, mas a diferença não é tão sensível a ponto de chamar atenção do motorista menos técnico. O câmbio automático epicíclico de 6 marchas vai muito bem, assim como o freio eletromecânico de imobilização com ativação automática nas paradas (auto-hold). Com a alíquota menor do IPI de motores 1-litro parte dessa diferença é devolvida em equipamentos, acabamento e segurança. Rodas exclusivas de aro 17, saída dupla de escapamento, interior escurecido no teto e bancos, nova alavanca seletora de câmbio, teto solar panorâmico, frenagem autônoma de emergência (pedestres e outros veículos) e detetor de fadiga somam-se às muito úteis câmeras nos retrovisores com imagens projetadas no centro do quadro de instrumentos.
Primeiros modelos homologados nos EUA com Nível 3 (automação condicional) não são da Tesla ou outros fabricantes. Mercedes-Benz informou que os sedãs de topo, Classe S e EQS (elétrico), chegam ao mercado no final do ano, apenas no Estado de Nevada. Há, porém, limitações: só funciona até 65 km/h e o motorista recebe alerta para assumir os comandos em situações mais difíceis. O sistema Drive Pilot, já homologado na Alemanha, é opcional e muito caro (a marca alemã não informou o preço). Outros fabricantes relutam em passar do atual Nível 2,5 para o 3, preferindo esperar pelo Nível 4 de automação avançada, porém distante da viabilidade comercial.
Coluna Fernando Calmon nº 1.236