A história da Bugatti é tão insólita quanto seus carros que desafiam leis da física e da economia. Quando Ettore Bugatti fundou sua fábrica, na francesa Molsheim, em 1909 (que na época pertencia à Alemanha), ele sabia que iria construir carros incríveis, como o icônico Type 57, mas não fazia ideia de que sua marca sucumbiria poucos anos após sua morte.
No entanto, Ettore também não poderia prever que na década de 1980, uma das figuras mais controversas de sua época, Romano Artioli, iria reativar a marca e construiria uma nova fábrica em Campogalliano, na Itália. O empreendedor,que já tinha sido representante Ferrari e Suzuki, foi até a Lamborghini buscar os designers Paolo Stanzani e Marcello Gandini para desenhar o EB100. Carro que marcaria o retorno da marca e celebraria os 110 anos de Ettore. Para celebrar a inauguração da fábrica, Artioli organizou uma carreata com 77 modelos construídos antes do início da Segunda Guerra. A comitiva partiu de Molsheim até Campogalliano. Um tipo de empreitada ousada, afinal a distância entre as duas cidades são de aproximadamente 700 quilômetros.
Nada que seja impossível de ser feito, mas imagine o que deve ter sido convencer donos de raros Bugatti a retirar seus carros da garagem? Tudo bem que Artioli tinha uma vasta coleção e, certamente, parte dela integrou o cortejo, além de uma lábia inigualável. Porém fato é que a Bugatti celebrou os 30 anos da Fabbrica Blu, como é conhecida a unidade Campogalliano, com sua arquitetura fantástica com direito a pisos em mármore carrara para impressionar os seletos e endinheirados clientes.
Hoje a Fabbrica Blu funciona como centro de desenvolvimento da Bugatti e viu nascer alguns dos modelos mais exóticos e exclusivos da atualidade. Todos montados de forma artesanal, com cuidados como uso obrigatório de calças sem botões ou tachinhas expostas para não correr o risco de riscar o couro dos bancos. Não é conversa fiada, quem disse isso foi justamente um consultor da Bugatti que veio junto com uma rara unidade do Veyron, em 2010, para o Salão do Automóvel.
Antes deste que vos escreve entrar no carro ele me “examinou” para ter certeza de que não iria “vandalizar” a máquina. Em 2018, o pessoal da McLaren não teve o mesmo rigor breve affair com os bancos do Senna.
Bugatti EB110
O EB110 foi lançado em 1991. Desenhado por Marcello Gandini (o pai do Lamborghini Miura), o supercarro foi equipado com um motor V12 3.5 (com quatro turbos) de 560 cv, era capaz de chegar aos 355 km/h.
Por ser um carro superlativo que desafiava máquinas como Ferrari F40 e Lamborghini Diablo, construir cada unidade exigia um esforço enorme de engenharia e dinheiro. Em 1995, Artioli jogou a toalha, após construir 139 unidades do supercarro e ir à bancarrota.
Veyron
Logo em seguida a Volkswagen assumiu o controle da marca e deu início ao projeto Veyron, inclusive a reativação da unidade Molsheim. Esse carro herdava algumas traquinagens de engenharia que a Volks andava experimentando.
Em 1997, a VW tinha contratado Giugiaro para desenhar o supercarro W12. Além de servir de base estilo para novos modelos da marca, esse conceito era equipado com um impressionante motor W12, que era união de dois blocos de seu popular V6 de ângulo fechado, o mesmo que equipava o Passat VR6 e o Golf VR6, ná década de 1990.
A unidade de 5.6 litros trazia quatro bancadas, sendo que as centrais eram fundidas. Esse motor entregava 600 cv e 62 mkgf de torque. A ideia da VW era empregar o propulsor na Audi, mas isso nunca aconteceu. Hoje esse motor equipa as versões mais nervosas dos aristocráticos Bentley.
Mas o que o W12 tem haver com a Bugatti? Simples, o bloco foi o princípio para o desenvolvimento fascinante do W16 quadriturbo 8.0 de 1.001 cv que viria equipar o Veyron EB 16.4, lançado em 2005 para ser o automóvel mais exótico do planeta. Reza a lenda que o bloco entregava bem mais que os 1.001 cv anunciados, mas esse número era quase cabalístico e ajudou a consolidar a aura do Veyron. Na época, só se falava do carro de mil cavalos, capaz de superar os 400 km/h. Na verdade, ele chegou a 408 km/h na versão de estreia. A versão Super Sport, que tinha aerodinâmica otimizada, atingiu a marca de 431 km/h.
Outro número superlativo do Veyron é seu consumo. Em condições normais, ele faz cerca de 4 km/l. Sejamos francos que o Vectra 2.4 fazia isso, com 12 cilindros a menos. Mas quando o Veyron está acima dos 400 km/h, seu consumo despenca para 5 litros por quilômetro. Isso mesmo, se pudesse manter essa velocidade por uma hora, seriam 2 mil litros de combustível dragados para dentro de seus 16 cilindros.
Entre 2005 e 2014 saíram de Fabbrica Blu 450 desse supercarro.
Chiron
Superar o Veyron era algo audacioso para os engenheiros de Campogalliano, mas ele conseguiram. O Chiron foi apresentado em 2016 e era uma clara evolução de seu antecessor.
A tradicional grade do radiador deixa claro que se trata de um Bugatti, assim como o coletor de ar-lateral que envolve a porta, formando grande arco estrutural. Sob o capô traseiro, o Chiron trazia a evolução do W16 8.0. O motor teve sua potência elevada para 1.500 cv e 160 mkgf de torque. Números que permitem esse supercarro de duas toneladas acelerar de 0 a 100 km/h em 2,4 segundos e máxima de 420 km/h.
Hoje o Chiron é o modelo em linha da marca, oferecido por 2,4 milhões de euros. O carro serviu de base para versões especiais Centodieci, Divo e Voiture Noir, além das edições Sport, Super Sport 300+ e Pur Sport.
Ettore realmente não imaginaria tudo isso.
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