BMW M2 Competition: Lembranças e distorções temporais com letra e número

Há poucos dias a BMW anunciou as vendas do M2 Competition no Brasil, ao preço de R$ 378 mil. Se tentarmos enxergar esse carro de forma racional, não há razão para se pagar o valor de um razoável apartamento num automóvel de apenas duas portas, mas o M2 não é um carro que se deve olhar por um prisma racional. Muito pelo contrário, é um veículo que sugere irracionalidade. Na melhor das hipóteses a passionalidade.

A versão que no Brasil substitui o M2 “básico”, recebeu um generoso pacote de melhorias nos sistemas de freios, suspensão e incrementos em estabilidade, como uma nova barra de amarração sob o capô, feita em fibra de carbono. Já o conhecido polivalente motor de seis cilindros 3.0 biturbo, teve sua potência elevada de 370 cv para 410 cv e o torque subiu de 47,4 kgfm para 56,1 kgfm de torque. A transmissão segue automatizada de sete velocidades e dupla embreagem, que tem trocas assustadoramente rápidas. Na Europa é possível comprá-lo com transmissão manual de seis marchas.

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Na prática tudo isso se resume a 0,1 segundo a menos em aceleração, com marca de 0 a 100 km/h em 4,2 segundos. Humanamente é bastante difícil perceber tal ganho. Quando pude testar a versão “original” do M2, os segundos de aceleração foram imperceptíveis. O que se podia sentir era um forte deslocamento visceral, no sentido literal, no momento da arrancada.

Na verdade, o tempo passou mais rápido, as curvas chegavam rápido, as respostas eram rápidas, as voltas no autódromo eram rápidas. Daí seria impossível pensar nos números de aceleração. Frações de segundo só se tornam eternos em situações de dor ou desespero, nunca em momentos de êxtase. Einstein, Freud e Lacan são capazes de explicar melhor.

De todos os BMW que já guiei o M2 foi o mais incrível. Ele não tem a opulência de um M6 e nem mesmo a aspereza de um M4, mas é impressionantemente reativo. Ao contrário dos demais em que o peso e a maior distância entre eixos demandam mais prudência para não incitar a ira centrífuga de Newton, no M2 tudo é mais permissivo. Ele aceita tudo e caso você vacile, ele te dá tempo para corrigir o quase inevitável. Ele é o herdeiro do M3 E30 em porte e comportamento, apesar de mais moderno e eletrônico.

O M2 foi um carro projetado para resgatar o comportamento dinâmico da primeira geração do M3, montado sobre a carroceria E30. Lançado em 1987, o primeiro dos M3 não tinha motor turbo e nem sobravam cilindros. Ele era equipado com um bloco de quatro cilindros com 2,3 litros de cilindrada que entregava 195 cv, permitindo que chegasse a 225 km/h.

No ano seguinte, a BMW resolveu colocar mais pimenta no esportivo e lançou o M3 Evolution, que elevou o deslocamento para 2,5 litros e fez com que a potência saltasse para 238 cv e máxima em torno dos 240 km/h. Foram pouco mais de 15 mil unidades fabricadas até 1991 e seguramente não terei oportunidade de estar diante de seu volante.

Mas o que vale a pena é que a breve leitura do anúncio do M2 Competition me fez voltar no tempo. Num dia de extravagantes percepções sensoriais que fazem qualquer indivíduo com R$ 378 mil não pensar duas vezes num bestial e saboroso ato de irracionalidade.

 

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Marcelo Iglesias Ramos é Jornalista e Designer Gráfico.

Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).

 

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