Entenda as diferenças entre os padrões de medição de autonomia e consumo de veículos elétricos e híbridos
Com a crescente popularidade dos carros elétricos, é importante compreender os diferentes métodos utilizados para medir a autonomia e o consumo desses veículos. Existem medições diferentes em diferentes países, com diferentes siglas, o que pode gerar uma certa confusão.
Os principais padrões de testagem conhecidos e usados atualmente são o New European Driving Cycle (NEDC), o Worldwide Harmonised Light Vehicle Test Procedure (WLTP) e o da Agência de Proteção ao Meio Ambiente (EPA), cada um com suas próprias características e metodologias. No Brasil, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) é responsável por instituir os padrões para medições de consumo, inclusive dos importados, mas, atualmente, usa metodologias diferentes.
NEDC: o padrão mais antigo e menos preciso
O NEDC é o mais antigo dos três padrões, criado na década de 1980 e com sua última atualização em 1997. Ele é considerado impreciso, pois seus resultados são colhidos apenas com base em testes de laboratório, não levando em conta um cenário mais realista de direção. Isso pode levar a discrepâncias entre a autonomia divulgada pelas montadoras e a experiência real dos motoristas.
WLTP: uma abordagem mais realista
Criado em 2017 para substituir a metodologia do NEDC, o WLTP utiliza não só dados de laboratório, mas também leva os carros para uma experiência de desempenho no mundo real. Ele considera fatores como velocidade, condições de temperatura e equipamentos do veículo, resultando em dados mais precisos e realistas. A diferença entre os valores divulgados pelo NEDC e pelo WLTP pode chegar a 25%.
EPA: o padrão norte-americano
O EPA é o padrão utilizado nos Estados Unidos e possui métodos ainda mais rigorosos que os europeus, levando em consideração os hábitos ao volante dos norte-americanos, com testes mais longos e detalhados, compatíveis com o hábito dos estadunitenses de dirigir majoritariamente em estradas. Como resultado, os dados de consumo dos carros nos EUA costumam ser mais baixos que os europeus.
CLTC – Ciclo Chinês
O CLTC (China Light-Duty Vehicle Test Cycle) é um padrão de teste desenvolvido para o mercado automotivo chinês. Ele foi criado com intuito de substituir o antigo ciclo chinês CATC, que era baseado no já ultrapassado ciclo NEDC.
Esse teste foi criado pelo China Automotive Technology and Research Center (CATARC) para representar de forma mais precisa e realista a autonomia dos veículos eletrificados, de acordo com as condições de condução da população chinesa.
O CLTC é padronizado pela norma nacional da China GB/T38146.1-2019. Ele é realizado em laboratório com a bateria totalmente carregada e com auxílio de um dinamômetro sob condições controladas de temperatura, umidade e pressão. O ciclo de teste se divide em várias fases que representam os tipos de condução na China, incluindo áreas urbanas, suburbanas e rodovias. Assim, é possível avaliar a performance do veículo em diferentes velocidades e estilos de condução.
PBEV – Medição do Inmetro
Por fim, temos o novo padrão brasileiro para medição da autonomia de carros elétricos, a metodologia do PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular). Recentemente, o Inmetro adotou uma nova regra para a divulgação da autonomia de carros elétricos no Brasil, de acordo com a qual, entre outros cálculos, se determina uma diminuição de 30% na autonomia informada com base nos testes realizados em laboratório. Essa mudança gerou controvérsia, uma vez que nenhum dos principais ciclos globais (WLTP, EPA, NEDC, CLTC) adota uma redução tão significativa.
A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) têm opiniões divergentes sobre a nova regra. Enquanto a ABVE apoia a padronização, mas pondera que deve ser feita com critério e razoabilidade, a Anfavea endossa a nova regra com o deságio de 30%.
Alguns fabricantes, como a GWM, já informam os dados pela padronização do Inmetro, mas trabalham junto ao instituto para uma mudança no índice, buscando uma metodologia mais próxima da realidade e desenvolvida especificamente para veículos elétricos.
Termos técnicos relacionados aos carros elétricos
Além dos padrões de medição, é importante compreender alguns termos técnicos relacionados aos carros elétricos:
– Ciclo da bateria: refere-se ao número de cargas completas que uma bateria pode suportar antes de sua capacidade começar a diminuir.
– kW (quilowatt): unidade de medida da potência do motor elétrico, equivalente a aproximadamente 1,36 cv.
– kWh (quilowatt-hora): unidade de medida da capacidade da bateria, indicando a quantidade de energia que ela pode armazenar.
Cálculo do consumo médio nos carros elétricos
Para calcular o consumo médio de um carro elétrico, é necessário utilizar a regra de três, tendo como base a capacidade da bateria e a autonomia, usando o padrão mundial de eficiência em cima de 100 km rodados. Por exemplo, se um carro tem uma bateria de 26,8 kWh e uma autonomia estimada de 265 km, o consumo médio seria de 10,1 kWh a cada 100 km rodados. O cálculo seria feito da seguinte maneira:
Capacidade da bateria — x
Autonomia estimada — 100
ou seja
26,8 — x 2.680 = 265x
265 — 100 x = 10,1 kWh
Compreender os diferentes padrões de medição e os termos técnicos relacionados aos carros elétricos é essencial para que os consumidores possam tomar decisões informadas na hora de escolher um veículo. Embora ainda haja discrepâncias entre os valores divulgados pelas montadoras e a experiência real dos motoristas, a tendência é que os métodos de medição se tornem cada vez mais precisos e realistas. No entanto, a nova regra adotada pelo Inmetro no Brasil, que reduz em 30% a autonomia informada, tem gerado controvérsia e pode prejudicar o crescimento da eletrificação no país.
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