O ano de 2018 chegou ao fim e, para o mercado de automóveis, o período foi positivo, com uma reação do setor que anotou crescimento na casa dos 15% sobre 2017. É bem verdade que não é um desempenho excepcional, mas mostra um fôlego, que indica que aquela crise de 2015 se estancou.
Mas o crescimento dos emplacamentos não significa que o consumidor lotou as revendas. Não! Em 2018, quem foi ao mercado comprar automóveis foram pessoas jurídicas. Empresas dos mais variados segmentos foram responsáveis pela aquisição de cerca de 43% dos automóveis de passeio e comerciais leves vendidos em 2018, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Um bom volume desses automóveis foram adquiridos para um negócio bastante lucrativo: o aluguel de carro para motoristas de aplicativos. Muitos motoristas do Uber, Cabify e similares têm recorrido à locação ao invés de pagar a prestação de um carro novo para disputar passageiros na praça. Ou seja, o brasileiro ainda não recuperou seu poder de compra, nem mesmo para investir no seu próprio trabalho.
Outro percentual foi destinado a empresas de locação, que, na verdade, se tornaram revendedores de seminovos. Afinal, qual seria o destino dos 31,7 mil Jeep Compass vendidos de janeiro a novembro no modelo de venda direta, ou seja para empresas, se não fosse para locação?
Ou o amigo acredita que há demanda para 31 mil jipões, que custam cerca de R$ 300 a diária? A resposta está nos sites de seminovos dessas empresas. Um Compass 2018, com menos de 20 mil quilômetros rodados, pode ser seu por R$ 125 mil.
Se considerarmos uma quilometragem de 200 km por diária. Esse Compass teria tido 100 diárias, que daria um retorno de R$ 30 mil para a locadora. Vamos dizer que em cada locação o carro tenha rodado apenas 100 quilômetros, o que eleva o faturamento para R$ 60 mil. Ou seja, a locação não pagou pelo carro.
Para chegar ao valor pedido no anúncio apenas com locação, são necessários pelo menos 400 diárias do mesmo carro. O que não cabe no período de um ano. Na verdade, todo montante arrecadado nesse breve período é só lucro, pois com essa quilometragem, nem a segunda troca de óleo foi feita. E todo mundo sabe que qualquer avaria é de responsabilidade do cliente. Assim, quem irá pagar pela aquisição da locadora será o consumidor atraído pelos classificados.
O mesmo fenômeno acontece com o irmão menor, o Jeep Renegade. Das 40.847 unidades licenciadas de janeiro a novembro, 28.152 foram destinadas à empresas. Nem mesmo a própria FCA teria uma demanda tão grande de seu simpático jipinho para uso interno.
Outro modelo que teve grande impacto nas aquisições de pessoas jurídicas foi o Volkswagen Gol. O veterano da VW voltou ganhar destaque no mercado. Ele é o modelo mais vendido da marca e o quarto mais vendido do país. De janeiro a novembro, foram 70.340 unidades emplacadas, segundo a Fenabrave.
No entanto, 46.721 unidades foram adquiridas por empresas. Faz sentido! O Gol é um carrinho pau para toda obra. Carregar escadas de telefônicas no teto é uma de suas virtudes, assim como atender os motoristas da Uber.
Mas a rainha da venda direta é a picape Strada. A caminhonete miúda da Fiat teve 58.982 das 61.448 unidades licenciadas, no período janeiro/novembro, para frotistas. Ou seja, apenas 2.466 unidades foram vendidas para pessoas físicas.
A Toro também segue o mesmo comportamento. No mesmo período, foram vendidas 52.615 unidades. Desse montante 42.183 foram no modelo de vendas diretas.
Resta saber se em 2019 as pessoas jurídicas terão o mesmo fôlego para abraçar quase 50% das vendas. Afinal, empresa só compra carro quando o negócio é atrativo na ponta do lápis. Não adianta propaganda bacana.
E vida que segue!
Marcelo Jabulas é Jornalista e Designer Gráfico.
Está na área desde 2003, atualmente é o editor do caderno HD Auto, do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Figura presente em todos os lançamentos, salões do automóvel e eventos da indústria automobilística. Para relaxar, tem como hobby escrever para seu blog de games, o “GameCoin” (www.gamecoin.com.br).