Modismos vão e vem e na indústria do automóvel não é diferente. Modelos de carroceria que fizeram sucesso no passado, como os roadsters, que foram febre nos anos 1950, voltaram à cena no final dos anos 1990 e ainda continuam em voga. A cor prata deu lugar ao branco; as duas portas foram vencidas pelas quatro. Neste contexto, nada impede que as minivans, que foram engolidas pelos utilitários-esportivos (SUV), também possam se revigorar. Tudo é uma questão de tendência de mercado e economia. E a indústria sabe bem disso!
Há pouco tempo, a Nissan levou a imprensa brasileira para sua planta na cidade fluminense de Resende. O motivo era para anunciar a linha nacional do SUV compacto Kicks, que recebeu novas versões, partindo de R$ 70.000, em uma estratégia de ampliar sua participação, que até então era limitada pela cota de importação para automóveis que eram trazidos do México.
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Durante a apresentação, o diretor de Marketing da filial brasileira, Humberto Gomez, projetou o tamanho do mercado brasileiro: 40 milhões de consumidores aptos para a aquisição de um automóvel. O executivo chileno, que já ocupou a cadeira de vice-presidente da marca em seu país e também atuou na General Motors, não disse nada de surpreendente. Na verdade, ele foi muito otimista em seu dimensionamento do mercado brasileiro. E não é para menos. 40 milhões é um contingente de consumidores que representa mais que o dobro da população do Chile, que hoje tem 18 milhões de habitantes.
No entanto, a quantia de 40 milhões de consumidores reverberou imediatamente, pelo menos na minha cabeça, e ressuscitou uma das maiores gafes proferidas por Fernando Henrique Cardoso, quando presidia o país, e que só me recordo devido a fúria e a carótida dilatada de meu professor de filosofia, ainda na escola de jornalismo.
Num ato falho, em meados de seu segundo mandato (não sei precisar quando corretamente), ele teria dito que governava o país para 40 milhões de brasileiros. A fala caiu como uma bomba de nêutrons. Ele corrigiu e disse que estaria se referindo a parcela com poder de compra da época, segundo balanços do economês. FHC conseguiu reverter sua fala que sumiu no tempo, ao contrário do episódio da meia furada que persiste desde 1995.
Mas o que as declarações de FHC e Humberto Gomez querem dizer, não é apenas similaridade numérica, mas a constatação corporativa de que voltamos ao início dos anos 2000, no quesito econômico. Em janeiro, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), divulgou o balanço de licenciamentos de automóveis de passeio e comerciais leves de 2016, que ficou abaixo de 2 milhões de unidades. Bastou buscar os antigos informes no arquivo e comparar com os números dos anos anteriores para descobrir que tínhamos regressado aos patamares de 2006.
O comparativo de janeiro já tinha sido indigesto, mas o que Gomez disse que era somente um número frio dentro de uma planilha de seu departamento de marketing, é a comprovação de um retrocesso ainda maior e que podemos observar diante das manobras da indústria. O pior, é que enquanto o número de consumidores voltou no tempo, a população brasileira expandiu em 18 milhões de habitantes, literalmente um novo Chile.
Ou seja, o percentual de consumidores com poder de compra é menor que há 15 anos, afinal a população avançou 10%. E a indústria fez esta leitura. Automóveis populares praticamente desapareceram do mercado. Eles passaram por um banho de loja e foram reajustados para cima, com valores capazes de manter equilibrada a balança das montadoras que reduziram quadros e buscam rentabilidade com volumes menores.
Apesar de os emplacamentos terem subido 13% no comparativo do primeiro semestre deste ano, com o mesmo período de 2016, o mercado ainda está longe do mesmo período de 2012 (ano recorde de licenciamentos). De janeiro a junho foram vendidos internamente 991 mil unidades, cerca de 40 mil a mais que os seis primeiros meses do ano passado. No entanto, é um desempenho muito aquém dos 1,6 milhão de unidades licenciadas no primeiro semestre de 2012.
A Nissan, assim como todas as marcas, está apostando em modelos de maior valor agregado, como os utilitários-esportivos que se tornaram as vedetes do consumidor. O jipinho japonês parte de R$ 70 mil e pode chegar a R$ 96 mil. Valores altos para um mercado em crise, mas que não se comparam a concorrentes como o Jeep Compass, vice-líder do segmento de SUVs que tem preço inicial em R$ 103 mil.
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Infelizmente, na ponta da caneta de qualquer executivo é melhor 40 milhões de canários na gaiola do que 207 milhões voando. E vida que segue!
Fotos: divulgação montadora e internet
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